Há poucos dias, a morte do ex-deputado federal e prefeito de Pedras de Fogo-PB, Manoel Junior, foi divulgada em sites e redes sociais a partir de uma nota de pesar emitida pela Prefeitura de Campina Grande (PMCG) em nome do gestor da cidade, Bruno Cunha Lima. O problema é que o conhecido político paraibano estava vivo, ainda que internado em estado grave na capital.
Ou seja, a comunicação oficial de um órgão público “matou” o gestor, e vários jornalistas e blogueiros correram para acender velas antecipadas, noticiando o suposto óbito. Faltou checagem de informações por parte da Comunicação da PMCG? Sim. Mas também houve vacilo da mídia.
Com maior rigor na rotina produtiva, alguns veículos foram prudentes e apuraram os vestígios de fumaça antes de noticiar o fogo. Após a devida verificação, matérias foram publicadas informando que o político estava vivo — conforme checado com os familiares e o hospital onde o prefeito buscara assistência para tratamento de uma enfermidade.
Mas as notícias também apontaram uma das origens do boato. Foi o caso do site de notícias Paraíba Já, que trouxe com destaque: “Bruno Cunha Lima emite nota de pesar mesmo sem confirmação da morte de Manoel Junior”. Na mesma linha, o blog do jornalista Maurílio Júnior apontou o erro da autoridade campinense. “Prefeito de Campina Grande se antecipa e emite nota de pesar pela morte de Manoel Jr.”
No perfil oficial de Manoel Junior no Instagram, um card sobre o tema desmentiu a “barrigada” sobre o estado de saúde do prefeito. “O coração generoso e grande dele continua batendo. A família pede orações”. Na legenda, a fake news foi rechaçada: “(…) repudiamos informações falsas divulgadas através de portais, blogs ou redes sociais”. Infelizmente, após os desmentidos, Manoel Junior não resistiu e morreu na tarde do dia 28 de fevereiro de 2023.
Precipitações como essa, infelizmente, são antigas. Segundo a pesquisadora Sylvia Moretzsohn, chegam a entrar para o anedotário do jornalismo, como a reação do escritor e humorista Mark Twain ao ler seu próprio obituário, em 1897. Com a ironia que o caracterizava, relata Moretzsohn, Mark Twain reclamou à Associated Press: “A notícia sobre a minha morte foi exagerada”.
Sem humor (que o tema não comporta), mas dotada de muita lucidez, a jornalista Vall França foi precisa em uma postagem no Instagram: “Morte não é furo de reportagem. Jornalismo não é fofoca. Nunca use ‘teria tido morte cerebral’. Não EXISTE ‘suposta morte’. Antes da informação vem o respeito. Ao noticiar algo, calcule o impacto. Respeito o direito à privacidade. Melhor ser correto do que ser rápido”.
Esta coluna inteira, aliás, poderia ser resumida com as oito frases que Vall França publicou no Instagram. Sugiro que você as releia. Caso não tenha tempo, grave apenas esta: “Antes da informação vem o respeito”.