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“Alvorada” mostra impeachment de Dilma na perspectiva dos golpeados

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Terceiro documentário sobre o impeachment de 31 de agosto de 2016, Alvorada (Anna Muylaert e Lô Politi, 2020, 90min, Vitrine Filmes) opta por uma perspectiva diferente dos últimos momentos de Dilma Rousseff como líder maior da nação. O filme esteve na mostra competitiva de longas e médias-metragem do 26º Festival Internacional de Documentários “É tudo verdade” em abril passado e estreia nesta quinta, 27, em salas de cinema e nas plataformas de streaming Now, Oi e Vivo Play. 

Maria Augusta Ramos, em O processo (2018), apresenta os bastidores do impeachment com ênfase numa perspectiva dos defensores da presidente, no entanto, estendeu seu foco, até onde pôde alcançar, o ponto de vista dos algozes de Dilma Rousseff, como era sua proposta inicial. Não teve êxito porque poucos se dispuseram a participar do filme, salvo a professora de direito penal da USP, Janaína Paschoal, hoje deputada estadual pelo PSL (SP), e do ex-senador paraibano Cássio Cunha Lima, este porta-voz do golpistas em seu alinhamento subserviente ao então senador Aécio Neves.

Experiente documentarista, Maria Augusta Ramos é a autora de três aclamados documentários na estética observacional: Justiça (2004) e Juízo (2007) e Morro dos Prazeres (2013). Esse modo de representação do real fundada pelos irmãos norte-americanos Albert e David Maysles – e adotadas pelos precursores do direct cinema Richard Leacock e Robert Drew no início dos anos 1960 – preconiza uma tomada em recuo e sem interferências aparentes no resultado do que é filmado.  A máxima dessa modalidade de documentário é a não-intervenção na realidade para mostrr seus eventos como eles aconteceriam mesmo se a câmera não estivesse lá para registrá-los. Maria Augusta Ramos é a maior representante dessa estética no cinema de não-ficção no Brasil.

Na representação do golpe de 2016 pelo cinema documentário brasileiro, além de Augusta Ramos e Petra Costa, com Democracia em Vertigem (2019), Muylaert e Politi,  dirigem sua câmera para o movimento golpista “com o Supremo com tudo” que levou à destituição da primeira mulher eleita no país. Costa, todavia, aborda a recente história política e social do Brasil imprimindo um tratamento mais autobiográfico, também um dos modos de abordagem do real elencados pelo teórico estadunidense Bill Nichols, que o denomina de “modo performático”. No Brasil, temos dois documentários clássicos nesse subgênero documental autobiográfico: 33 (2002), de Kiko Goifman e Passaporte Húngaro (2001), de Sandra Kogut.

Com nome sugestivo de Alvorada, uma referência ao nome do palácio que abriga os presidentes da República desde a fundação de Brasília, o documentário de Anna Muylaert e Lô Politi adota essa estética observacional em quase todo o filme, abrindo exceções para uma abordagem participativa em alguns poucos (e bons) momentos face a face com a presidente antes de sua derrocada, ocasião em que Dilma Rousseff dialoga, descontraída,  com  as diretoras e o fotógrafo César Charloni. No mais, Alvorada registra, sem intervenções, instantes de tensão e agitação na perspectiva dos que estão do lado de cá da presidência.

O desenrolar do golpe no plenário do Senado é mostrado através das imagens e sons dos aparelhos de tv sob olhares estarrecidos de assessores e funcionários, com o discurso de Dilma “ecoando” na lavanderia, na cozinha e algumas dependências do Alvorada para trabalhadores impassíveis. O que difere da perspectiva entre o filme de Augusta Ramos e a dupla Muylaert/Politi é que estas apontaram sua câmera para eventos cotidianos do palácio, incluindo também aqueles protagonizados pela gente subalterna servidores das diversas presidências, aparentemente indiferentes a quem ocupa o comando, como parece ser a forma de abordagem observacional que se sujeita aos acontecimentos. Mas não é bem assim. Há sempre a construção de um ponto de vista sobre o tema tratado neste tipo de documentário.

Filmado entre julho e setembro de 2016, Alvorada parece ser um déjà vu, e de certa forma é. Pois, embora mostre ações no interior do Palácio da Alvorada em momentos que antecederam o veredito final que destituiu Dilma – não vistas em O processo, como o trabalho dos assessores, reuniões com autoridades e correligionários, discussão com advogados, visitas de militantes, líderes sindicais, representantes de movimentos sociais, recepções, entrevistas, etc. – poucas cenas mostram algo inusitado que realmente desejaríamos ver.

O filme satisfaz, em parte, o desejo voyeur do público de ter acesso à intimidade da residência da autoridade máxima do país – com seus jardineiros, faxineiros, cozinheiros, copeiros, guarda, segurança e pessoal de serviços gerais, todos em ação. São, de fato, as cenas mais curiosas de Alvorada. Há momentos tocantes, como as lágrimas condoídas de assessoras acompanhando pela televisão a sessão do impeachment no Senado, e uma cena de grande simbolismo: um abutre passeia solitário numa das dependências do Alvorada depois da saída de Dilma. Uma metáfora da chegada do novo inquilino?.

Anna Muylaert vem de uma sequência bem-sucedida de filmes ficcionais de longa-metragem, a começar por Durval Discos (2002) e seguido por É proibido fumar (2009), Chamada a cobrar (2012) Que horas ela volta? (2015) e Mãe só há uma (2016). Antes de enveredar na direção de longas, Muylaert realizou diversos curtas-metragens, exerceu a crítica cinematográfica em jornais e revistas e assinou roteiros para os programas Castelo Ra-Tim-Bum e Mundo da Lua da TV Cultura. Por sua vez, Lô Politi, parceira em Alvorada, além de co-diretora, assina a direção de fotografia com César Charlone (Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira de Fernando Meirelles). Dirigiu Jonas (2016), seu primeiro longa, e está em fase de finalização do segundo,  Sol

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