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A Morte Virtual

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O budismo, cuja filosofia me interessa muito, diz que nós inventamos desejos e nos tornamos dependentes deles. Eu sei disso a partir de várias experiências. Uma delas foi o cigarro. Sim, já fui fumante. Aliás, acho que quase todo mundo da minha geração, foi.

Não conheço ninguém que gostou do cigarro da primeira vez que provou. Gosto ruim na boca, tontura, enjoo. Com o tempo, a pessoa aprende a gostar, e vou dizer, pense numa coisa difícil de largar. Quem já fumou sabe disso, conheço muita gente que largou há anos e ainda sente falta. Não é o meu caso. Foi a própria filosofia do budismo que me ajudou nesse sentido. O meu pensamento foi simples: se eu já vivi sem isso, posso voltar a viver. Assim consegui me livrar de um mau hábito que mantive por muitos anos e, o que é pior, consciente dos prejuízos que aquilo me causava.

Vez por outra penso nisso com relação às redes sociais. Lembro quando uma amiga me sugeriu abrir uma conta no Facebook. Fui resistente no início, mas cedi. Foi muito interessante começar a encontrar amigos que não via há algum tempo, familiares que estavam morando fora, curtir postagens engraçadas, músicas, fotos, fazer amizade com gente não conhecia “em carne e osso”. Com o passar do tempo fui me animando e comecei a escrever alguns textos e publicá-los ali. As pessoas interagiam, curtiam e isso foi se tornando cada vez mais divertido. Uma ou outra treta também acontecia, mas era raro.

Um dia escrevi um texto chamado “Você Não É Obrigado A Nada”. Postei e, de uma hora para outra, centenas de pessoas estavam me solicitando amizade. Essa frase até virou “meme” ou o “meme” serviu de mote. Isso foi em 2015 e esse texto continua sendo bastante compartilhado. A experiência permaneceu interessante e segui escrevendo e postando. Novos amigos foram chegando, alguns passaram a me ajudar, corrigindo erros, incentivando que escrevesse mais, sugerindo temas. Algumas deles, até viajei para conhecer pessoalmente. Outros, recebi aqui em João Pessoa, inclusive na minha casa. Não me desapontei. Pelo menos os que encontrei em aqui, em São Paulo, Curitiba, Fortaleza foi bem tipo “o santo bateu”.

A verdade é que continuei escrevendo e fazendo amigos novos e antigos. E a outra verdade, é que criei uma necessidade. O Facebook passou a fazer parte da minha vida diária. E deve ser assim na vida de muitos. Plataforma política, paqueras, muro de lamentações, poesia, literatura, humor, gente talentosa e claro, coisas desagradáveis também. As últimas eleições presidenciais exacerbaram demais o lado tóxico das redes.
Cancelamento, linchamento virtual, agressividade, intolerância.

Muitos começaram a abandonar essa rede, para se protegerem. Sim, tudo pode se tornar nocivo. Mas, preciso admitir, para mim sempre foi mais prazeroso, que ruim. Vez por outra acontece de retirar alguém do meu grupo de amigos ou de ser retirado, enfim, o mundo virtual permitindo que você “dê sumiço aos seus desafetos”.
De todas as gostosuras que essa rede me trouxe, o contato com o povo das artes foi a coisa mais gratificante. Poetas e escritores que admiro interagindo comigo, artistas plásticos que amo, atores e atrizes, músicos, palhaços. E pessoas interessadas nesse universo, que fazem postagens lindas, divertidas e inteligentes.

A semana passada, levei um susto gigante. Um amigo comentou a minha idade e fui nas minhas informações ver o que estava ali registrado. Minha conta foi desativada. Não foi bloqueio, coisa pela qual alguns tem passado. Simplesmente recebo um aviso que não tenho idade suficiente para usar o Facebook e por isso não tenho acesso à minha conta. Eles me pedem que mande um documento de identidade, que comprove meu tempo no planeta, mas de nada adianta. Que sensação horrível. Foi como se tivesse chegado em casa de uma viagem e a encontrasse completamente vazia, saqueada.

Aquilo me deu um desamparo enorme. Bia, minha amiga, falou em “morte virtual”. E foi assim que me senti. Pensei numa música onde Gil fala da morte. Eu “morri” mas ainda estava lá. Me botaram para fora da festa. Desapareci para meus amigos, que ficaram sem saber o que aconteceu. E cada vez que lembro de alguém que gosto ou de um texto que não salvei, meu peito congela.

Ainda conversando com Bia, ela me perguntou se vou criar nova conta. Respondi que não sei, que talvez eu ressuscite no sétimo dia. Ela falou, entendendo ao que me referia, que é no terceiro. Sete foi a criação do mundo. Rimos juntos e já surgiu a ideia para a primeira música da trilha sonora: Meu Mundo Caiu, de Maysa
As outras são:

Volta – Lupicínio Rodrigues – com Gal Costa
Coragem, Coração – Carlos Rennó/Cláudio Monjope – com Ney Matogrosso
Não Tenho Medo da Morte – Gilberto Gil
Começar de Novo – Ivan Lins – com Simone

Ilustração: Voir et Decouvrir de Jean-Michel Follon

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