Setembro chegou, impactado por um movimento mundial favorável à vida. No palco das discussões, está o desejo de viver, ou não. Em sã consciência, com saúde mental, o ser humano é capaz de tudo – ou quase – para preservar o maior de todos os bens relativos à existência humana. Mas, infelizmente, em meio à luta e fuga de cada dia, o suicídio retrata triste realidade, que necessita ser discutida e enfrentada, de fato, como problema de saúde pública.
A cada 45 minutos, um tempo fortuito de jogo de futebol, um brasileiro tira a própria vida, intencionalmente. Registra-se um óbito a cada 45 segundos, mundialmente, da mesma forma. Conforme estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS), as mortes diárias, por essa causa, superam números relativos às vítimas da maioria dos cânceres.
Nessa linha geralmente tênue, entre lucidez, loucura, pulsões de vida ou morte, uma pergunta não quer calar: por que ainda lidar com o suicídio e suas causas de maneira tão tímida e ineficaz, ante a dimensão do problema? Instituições e autoridades competentes precisam, no setembro amarelo e sempre, trazer esse debate ao centro das atenções. Afinal, trata-se de algo passível de prevenção, na esmagadora maioria das vezes.
De acordo com dados da OMS, 90% dos casos poderiam ser evitados. Ou seja, a sociedade ressente-se de um trabalho de conscientização sistemático e respeitoso, executado adequadamente. Nada adiantará manter o assunto como tabu, e ignorar milhares de vidas perdidas, além dos sobreviventes enlutados.
São pais, mães, avós, irmãos, amigos e familiares em geral, que sofrem de tudo um pouco, para manter-se de pé, a despeito de sentimentos de culpa, episódios de depressão e uma dor sem fim. As ações preventivas constituem então a grande saída, substitutiva ao atual estado de passividade, predominante em todo o país.
Movimentos como Outubro Rosa e Novembro Azul ganharam visibilidade, por meio de políticas e ações afirmativas incorporadas pelos vários setores. Imprensa, estabelecimentos privados, órgãos públicos, gestores, escolas, unidades de saúde e organizações não governamentais abraçaram suas causas. Os resultados são indiscutíveis, além de importantes e alentadores.
Por que não agir assim quando o assunto é suicídio? Há ensurdecedora e silenciosa epidemia em curso, inclusive, reconhecida por instituições como a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Mas ainda faltam ações verdadeiramente educativas e preventivas, capazes de combater um problema presente em toda a história da humanidade, nas diferentes culturas.
Comportamentos e desejos suicidas não escolhem cor, classe social, religião ou gênero. Podem bater à porta de qualquer um, invadindo corpo e alma. Em algum momento, cerca de 17% dos brasileiros já pensaram em dar fim à própria existência. Ou seja, profissionais de saúde, inseridos nos diferentes níveis de atenção, devem estar preparados para reconhecer e lidar com os fatores de riscos, a fim de agir preventivamente. A família também precisa ser assistida e orientada.
Portanto, educação e conscientização são essenciais à transformação do quadro atual, revelado por episódios turbinados a toda hora. Assim como preconceitos, discriminações, descasos e mentiras replicam-se quando se fala de alguém que um dia manifestou tal angústia. Estigmatizado, envergonhado e excluído, dificilmente, o ser humano irá superar a dor de não mais alcançar a vida, por um segundo que seja.