A crise Bebianno não está relacionada à denúncia do esquema de candidaturas ‘laranjas’ do PSL Nisso não há mais dúvidas. Mas há muito mais caroço nesse angu, que não se tornou público ainda. Se fosse o motivo, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também enrolado com supostos ‘laranjas’, deveria desembarcar do governo. Mas ele segue viagem.
Então, afinal, qual é a origem da crise? E por que não é revelada? A denúncia sobre os ‘laranjas’ do PSL já seria um bom motivo. Afinal, a bandeira da ética e da moralidade em punho foi quem elegeu o presidente. Nada mais justo, portanto, que exonerar os ministros acusados de desviar dinheiro público do fundo eleitoral para candidaturas ‘laranjas’. Algo grave, muito grave. Inclusive, porque Bebianno foi o coordenador da campanha presidencial de Bolsonaro.
Mas isso não foi motivo para demitir o ministro. E assim Bolsonaro demonstrou que aquele discurso intolerante em defesa da ética e da moralidade era só papo de eleição mesmo. Aquela indignação toda só valia para o PT. Para o PSL, o partido dele, não vale.
O que vale, então? O que fez de tão grave Bebianno? Afinal, foi muito estranho o desfecho arranjado para a crise. Logo após a confirmação da exoneração do ministro, Bolsonaro divulgou um vídeo elogiando o ex-auxiliar, sem explicar objetivamente por que o demitiu. Falou, falou, divagou, mas não disse nada de concreto. O vídeo é um tiro no próprio pé. Só faltou pedir desculpa ao exonerado.
Como assim, presidente? Uma semana atrás, o garoto Carlos chamou Bebianno de mentiroso publicamente, e o senhor corroborou. Por que essa mudança agora, da água para o vinho? O ex-ministro é sério ou é mentiroso, afinal?
Mais cedo, ao anunciar a exoneração do ministro Bebianno, o porta-voz da Presidência disse apenas que foi uma decisão de foro íntimo de Bolsonaro. Ou seja, varreu a sujeira para debaixo do tapete.
E a pergunta que ficou foi a seguinte. Desde quando o motivo real de uma exoneração de ministro é “de foro íntimo”? Deve ser público, claro. Cadê o tal governo transparente de vocês? Era somente discurso eleitoral?
Presidente, o senhor deve explicações aos brasileiros. Há muitas perguntas no ar. Porque elogiar um “mentiroso”? Por que demitir um homem “sério”? Decida-se, presidente. Quem é Bebianno, afinal? Digno de elogios agora porque talvez pudesse cair atirando? E se fosse atirar, quais balas teria na agulha?
Presidente, lembre-se que o senhor disse ao povo que é um político honesto, que não tem nada a esconder. E o povo acreditou. Lembra? Então, o senhor não tem nada a temer, né? Somente os ‘petralhas’ deveriam ter, segundo seu discurso. Não esqueça, presidente, que a eleição acabou.
O mais grave nessa história toda é que, a cada dia, Bolsonaro dá sinais de total despreparo para liderar um governo tão complexo, tão grande e tão confuso. E por ser despreparado, torna-se refém muito facilmente. A forma como conduziu a crise Bebianno não deixa nenhuma dúvida de que ele é refém do ex-ministro.
Não é exagero concluir, portanto, que o maior problema do governo hoje chama-se Jair Bolsonaro. Se 28 anos de vida pública inexpressiva como deputado não foram suficientes para confirmar essa afirmação, 50 dias de governo já deveriam ser. Só não vê quem não quer. O presidente da República não é refém apenas de Bebianno. É refém também de Bolsonaro.