Nos anos 80, em seu “Grito de alerta”, o compositor Gonzaguinha ecoa dores e delícias de um relacionamento marcado por brigas e conflitos existenciais. O casal vivia um “jogo de culpa que faz tanto mal”, em meio a um copo transbordante de mágoas, que já não mais dava “pra engolir”. Lançada sob um clima de redemocratização do país, há mais de três décadas, essa canção retrata as relações afetivas, em todos os tempos, presentes na maioria dos casamentos.
A vida a dois nunca foi fácil, por várias razões, que perpassam diferentes ciclos de crises e instabilidades. Há expectativas desalinhadas, comportamentos disfuncionais, padrões desadaptativos, ciúmes e frustrações, que podem culminar com atitudes e gestos mais extremados, como a separação do casal. Ainda que o amor se faça presente.
Infelizmente, não basta amar e apaixonar-se, para manter a relação firme e forte, além de uma boa conexão emocional. O distanciamento também ocorre nas entrelinhas de vidas que há muito deixaram de andar juntas. Soltaram-se mãos, desejos e pensamentos durante movimentos nem sempre voluntários, mas responsáveis por verdadeiros abismos entre pessoas que um belo dia juraram amor eterno.
A ideia, provavelmente, era cumprir a promessa, professada solene e delicadamente, quando as adversidades pouco apareciam ou faziam diferença. Se surgiam, logo eram superadas, porque os corações não guardavam única gota de ressentimento. Transbordavam de aceitação, amor e tolerância. Acontece que veio a convivência diária, juntamente ao tempo, com suas respostas e armadilhas.
Se a vida prega peças, por que seria diferente entre os casais, no ápice do amor ou da ausência de tal sentimento? São detalhes recheados de dissabores, possíveis quebras de vínculos e promessas, trazidas com frequência às terapias de casais. Um recurso bastante eficiente, quando trata-se de melhorar a comunicação e ressignificar laços afetivos.
Durante a psicoterapia de casal, busca-se, principalmente, eliminar a última gota de desamor, culpa e mágoa. Entre falas, dinâmicas, desabafos e restabelecimento de diálogos mais assertivos, são descobertos caminhos, embora nada lineares, capazes de reconduzir às chamas de uma relação intensa e prazerosa, ou não…Às vezes, um término também poderá compor esse enredo, mas que venha com equilíbrio e economia de sofrimento psíquico . Um “quase” final feliz , se possível for .