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Transversais’: só o amor vencerá o ódio nesses tempos de cólera

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O título pode parecer panfletário, mas para a estupidez que graça no país não bastam meias palavras. O Brasil é o maior país católico do mundo. Num explícito paradoxo, é também o país que mais extermina sua população LGBTQIA+. Ao iniciar a escrita desta coluna, vejo na TV G1 que uma mulher trans, Yasmin, é assassinada na avenida General Edson Ramalho, em Manaíra, logradouro butique da capital.  Em seguida, mais uma notícia trágica e corriqueira: uma mulher é morta a pedradas pelo ex-companheiro. O documentário ‘Transversais’ (2021, 85min), dirigido e roteirizado por Émerson Maranhão, reúne histórias reais de pessoas trans que enfrentam cotidianamente o sofrimento infligido pelo preconceito social.

A origem de ‘Transversais’ está num documentário de curta-metragem, ‘Aqueles Dois’ (2018), também dirigido por Émerson Maranhão e que teve boa circulação em festivais do Brasil e no exterior – foram mais de 60 festivais e 20 prêmios – e também de uma websérie. O curta traz dois personagens, curiosamente com nomes iguais, embora com grafias diferentes: Caio José, então com 25 anos, enfermeiro, e Kaio Lemos, 38, pesquisador. O que os dois têm em comum é o fato de serem homens trans e terem vivido a difícil jornada da autodescoberta e a aceitação pela família e sociedade onde estão inseridos. Os dois personagens vão figurar no longa ‘Transversais’ que estreia, nesta terça-feira, dia 14, às 18h, no 16º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro.

Émerson Maranhão, jornalista alagoano de Arapiraca, atua há mais de 20 anos no Ceará onde dirigiu ‘Aqueles dois’, sua primeira incursão no cinema. Neste seu longa de estreia, reuniu cinco personagens (Samilla Marques, Mara Beatriz, Érikah Alcântara e “aqueles dois”, Caio José e Kaio Lemos) que narram suas histórias de sofrimento e luta, mas também de conquistas, na trajetória de afirmação de suas identidades. Mara Beatriz é a mãe de uma adolescente trans. O diretor opta por uma abordagem participativa/interativa instaurado pelo cinema direto francês e de enorme aceitação no mundo a partir da década 1960. O cinema direto (antes cinema vérité francês) é fruto de um avanço tecnológico do cinema, a sincronia de captação de som e imagem, tão ansiada pelos documentaristas na década anterior.

Essa abordagem do real retira do encontro entre cineasta e personagens (atores sociais) a força de sua narrativa. Desaparece a voz over de um narrador onisciente com seu argumento convincente para dar voz a um ou mais personagens, seguros ou titubeantes, vozes uníssonas ou plurais. O que importa do que surge daí é a “verdade do encontro”, como insistia Jean Rouch, o documentarista mais proeminente dessa corrente. O documentário, claro, ficou mais verborrágico, pois centrado na fala, nos diversos relatos de experiências. Menos mal. Também se tornou o modo de representação documental o mais empregado.

Em ‘Transversais’ não detectamos explicitamente a presença do diretor. Não ouvimos suas perguntas e nem suas solicitações aos personagens que relatam suas histórias de vida sem olhar para a câmera. O olhar dos personagens está dirigido para alguém (o diretor, com certeza) mais afastado do eixo da câmera. Acredito que isso provoca um estranhamento porque não vemos com quem os personagens dialogam. Além do que arrefece a empatia do espectador que não vive a situação do olho no olho com as pessoas que relatam suas experiências com tanta emoção. No entanto, isso não deprecia o documentário e a força que ele carrega, justamente nesses relatos.

‘Transversais’ ganhou notoriedade antes mesmo de ser realizado graças à estupidez de um presidente, surpreendentemente eleito pelo voto popular, vociferando discurso de ódio contra as minorias (LGBTQIA+, negros, índios, mulheres), sem meios tons. Bolsonaro, num registro de vídeo amplamente divulgado, se referiu a três projetos que concorriam ao edital do BRDE/FSA-PRODAV-TVs Públicas que tinha, entre outros temas, a diversidade de gênero e a sexualidade:  ‘Afronte’, ‘Religare Queer’ e ‘Transversais’. De início, o edital foi suspenso, mas por uma decisão judicial voltou a vigorar. Estranhamente nenhum dos projetos figurou na lista dos aprovados. A dúvida é se houve uma censura velada do governo ou a comissão de seleção exerceu a autocensura. 

O importante é que ‘Transversais’ chegou às telas de diversos festivais e mostras, a exemplo da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do 29º Festival Mix Brasil, do 31º Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, e do For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero, estes dois em Fortaleza.  No For Rainbow, ‘Transversais’ foi agraciado como o Melhor Longa Nacional e Melhor Roteiro, O curta e o longa de Émerson têm a produção de Allan Deberton, diretor e roteirista de ‘Pacarrete’, obra que consagrou Marcélia Cartaxo como uma das grandes atrizes do cinema brasileiro. Agora é a vez de João Pessoa conferir ‘Transversais’ que compete na mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Aruanda.

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