Os títulos de notícias nem sempre foram como são hoje e tampouco o modelo que temos atualmente ficará sedimentado, sem sofrer mudanças. Até o século XVIII, os jornais impressos não tinham título. Os primeiros jornais no mundo ignoravam tal recurso. “Antes da segunda metade do século XIX, os títulos eram simples rótulos, com declaração genérica e indefinida, pouca ou nenhuma informação sobre a notícia”, relata Joaquim Douglas, citado no e-book “Títulos jornalísticos”, de Thaísa Bueno e Lucas Santiago e Arraes Reino.
Publicada pela Editora da Universidade Federal do Maranhão (Edufma), a obra de Thaísa Bueno e Lucas Santiago é resultado de uma investigação iniciada em 2016 no Grupo de Pesquisa em Comunicação e Cibercultura (GCiber). Além de apresentar um excelente apanhado histórico sobre o tema, os autores também abordam a relação entre o título e o lead jornalístico e, dentre outras questões, tratam das mudanças que o título jornalístico sofre quando migra da plataforma impressa para a digital.
Conforme o e-book, “títulos são o recurso mais importante para atrair o leitor e um diferencial na competição por atenção no jornalismo atual”. Mais: são um fator determinante da decisão de leitura ou não de uma notícia. Título é tática de atenção. No caso da internet, como alguns especialistas defendem, deve ser ainda mais sedutor que em outros meios, afinal é necessário concorrer com excesso de informação, efemeridade do noticiário e falta de tempo das pessoas.
Pensei nisso porque tenho me deparado com uns títulos bem insossos, sem graça mesmo, em portais de notícias ou institucionais. São títulos que não despertam o interesse do internauta pela leitura e, muitas vezes, trazem termos áridos, destoantes do público-alvo; ou seja, ao invés de serem um convite funcionam como barreira.
Desde meus tempos de redação, tenho o costume de utilizar uma simples conjunção ao me deparar com um título chocho. Leio a frase e disparo um: — E? Esse “e”, na verdade, é um “e daí?”. Sim, porque título sem atrativos ou que não informa bem, diz para mim apenas uma coisa: a matéria é desnecessária, não merece minha leitura. Ou o redator é ruim. Se o problema for de redação, há sempre como melhorar. Tanto o texto quanto o título. E há vários manuais que ajudam nesse processo.
Quando se trata de um portal de órgão público, a responsabilidade de levar informação ao leitor de forma clara, sem espaço para dúvidas ou interpretações equivocadas, é maior. Assim, quem redige o título da matéria deve sempre levar em consideração que o Brasil possui cerca de 11 milhões de analfabetos. Soma-se a isso o fato de que 29% da população do País é analfabeta funcional; tem dificuldade para interpretar textos.
Se o título traz palavras difíceis ou termos técnicos, a comunicação não é efetiva. Muita gente nem sequer terá vontade de ler o texto. Ou seja, teremos cidadãos ou cidadãs deixando de ter acesso a uma informação que poderia impactar diretamente na sua vida. Isso vale para portal institucional, especialmente de órgãos públicos, mas também para veículos de comunicação em geral. Quando for redigir um título, sugiro que você releia o que escreveu. Coloque-se no papel de usuário e veja se entendeu bem a informação. Se o resultado for um “hein?” ou um “e daí?”, jogue o título fora e faça tudo de novo.