Em meio à crise que atinge a Receita Federal, o Senado exonerou nesta terça-feira a filha do secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, que ocupava cargo desde março no gabinete do senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) –acusado pelo Ministério Público Federal na Paraíba de envolvimento em um esquema de sonegação de impostos. A exoneração de Leda Camila Cartaxo foi publicada hoje no "Diário Oficial" da União depois que ela anunciou que pediria afastamento da Casa.
De acordo com reportagem publicada na revista "Época", Leda Camila assumiu o posto um mês depois de Cavalcanti ocupar o lugar do senador titular José Maranhão (PMDB), que deixou o Senado para assumir o governo da Paraíba. Em entrevista à Folha, Cartaxo saiu em defesa da filha ao afirmar que ela foi contratada sem nenhuma irregularidade, por meio de ato legal, sem ser funcionária fantasma.
"Quando ela procurou por interesse próprio esse emprego, cheguei a aconselhá-la do contrário, para que estudasse para um concurso público", disse Cartaxo à Folha. O secretário disse que, devido ao cargo que ocupa, seria "desconfortável" a situação da filha no Senado.
O senador Cavalcanti foi citado no chamado "Escândalo da Fazenda Nacional". O Ministério Público apurou que as empresas envolvidas quitavam débitos por valores muito abaixo da dívida real. Ele nega as acusações. Cavalcanti é amigo da família Cartaxo há muitos anos e, segundo ele, seu gabinete precisava de uma assessora e Leda Camila é formada em direito.
O "Diário Oficial" também publicou hoje a exoneração de Maria do Carmo de Castro Macieira, sobrinha do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).
O Senado anunciou a demissão da servidora na sexta-feira, por "zelo", uma vez que é parente de Sarney. A funcionária, no entanto, havia sido efetivada no cargo depois que o Senado validou a contratação de 45 servidores que haviam sido nomeados por atos secretos.
Entre os beneficiados estavam Maria do Carmo e Nathalie Rondeau, filha do ex-ministro Silas Rondeau.
Crise
Doze integrantes da alta cúpula da Receita Federal entregaram os cargos ontem em resposta às exonerações de funcionários ligados à ex-secretária Lina Vieira.
Os funcionários se mostraram contrários à exoneração dos assessores Alberto Amadei Neto e Iraneth Maria Dias Weiler. Iraneth foi chefe de gabinete de Lina e teria confirmado o suposto encontro entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e Lina no qual, segundo a ex-secretária, teria ocorrido o pedido para acelerar as investigações das empresas da família do presidente do Senado. Dilma nega o encontro.
Entre os servidores estão cinco superintendentes regionais, cinco coordenadores, um superintendente-adjunto e o subsecretário de Fiscalização, Henrique Jorge Freitas da Silva. Entre os superintendentes está o de São Paulo, Luiz Sérgio Fonseca Soares.
Ao chegar ao prédio do Ministério da Fazenda esta manhã, o ministro Guido Mantega ironizou os questionamentos dos jornalistas sobre o assunto e respondeu: "que demissões?". Ontem, Mantega adotou a mesma postura. Por meio de sua assessoria, ele disse que as demissões faziam parte de "mudanças administrativas normais".
Folha Online