O ano de 2011 deve terminar com um saldo violento: mais de 1.600 paraibanos assassinados, segundo projeção da Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social (Seds). Em 2010 foram 1.563 mortes. Do total dos homicídios ocorridos na Paraíba, apenas 40% são solucionados, ou seja, mais da metade dos crimes não têm a autoria identificada, o que significa que, este ano, aproximadamente, 960 assassinos estão soltos e impunes. Enquanto isso, as famílias das vítimas choram e lamentam o primeiro Natal e o primeiro Réveillon sem seus parentes.
Segundo avaliação do secretário Cláudio Lima, o percentual de crimes resolvidos na Paraíba está acima do registrado no Brasil, cujo índice, segundo ele, fica entre 5% e 7%. Em 2010, em João Pessoa, 516 assassinatos não foram solucionados, de acordo com dados da Delegacia de Homicídios da Capital.
De acordo com Cláudio Lima, a projeção da Seds é que o número de homicídios ocorridos este ano tenha um acréscimo de aproximadamente 6% em relação ao ano passado. “De 2009 para 2010 houve um aumento de 24,9% no número de homicídios e, se nossas expectativas forem confirmadas, deverá haver um aumento de apenas 6% de homicídios se compararmos 2010 e 2011, ou seja, a curva de crescimento deve cair”, afirmou.
“A meta é diminuir o número de homicídios cada vez mais e isto só será possível se houver um trabalho em conjunto e investimento em segurança. A falta de integração entre Polícia e Justiça atrapalha, afinal, combater homicídios não é fácil. Então, uma atuação sistêmica entre Ministério Público, Justiça e Polícia melhoraria bastante a atuação destes órgãos e, consequentemente, o Estado teria uma segurança cada vez melhor”, afirmou o secretário.
“Precisamos de investimento” – O secretário Cláudio Lima também afirmou que o percentual de 40% de homicídios solucionados no Estado é pouco. “O número ainda é pouco, por isso precisamos de investimento em segurança. A média nacional é menor ainda, sendo resolvidos entre 5% e 7% dos homicídios, números que já foram a realidade da Paraíba e que conseguimos mudar.
Mesmo assim, 40% é pouco e a intenção é que, daqui a três ou quatro anos, o índice possa ultrapassar os 80% dos casos de homicídios na Paraíba”, disse. O delegado Marcos Paulo Vilela, da Delegacia de Homicídios, contabilizou o percentual de homicídios resolvidos em João Pessoa. “Neste ano, cerca de 50% dos inquéritos foram concluídos, ou seja, as autorias destes crimes foram encontradas. Somente neste mês, cumprimos 17 mandatos de prisão”, afirmou.
“Naturalmente, os crimes de homicídio são mais complexos, já que a vítima não existe mais e, assim, todo o inquérito se torna mais dificultoso. Além disso, as testemunhas, quando há testemunhas, se recusam a falar, por causa do medo de represálias.
Então, tudo isso dificulta a conclusão dos inquéritos”, explicou o delegado. Até a meia noite do dia 19 deste mês, haviam ocorrido 24 homicídios na capital.
CASO REBECA – Um caso que teve bastante repercussão este ano foi o da estudante Rebeca Cristina, que foi encontrada morta há cinco meses em Jacarapé e, até agora, o crime não foi solucionado. “O nosso Natal acabou. Eu tomo remédio controlado e não consigo dormir direito. Não é nada fácil para mim, que ajudei a criar Rebecca e ela era uma menina boa, bem criada. A única coisa agora é esperar em Deus e na Justiça, pois só em saber quem é o culpado por ter cometido tamanha atrocidade já aliviaria a dor da família”, declarou a avó de Rebeca, Teresa Gomes Alves.
MORCEGUINHO – Em janeiro, o professor de jiu jitsu Rufino Gomes de Araújo Neto, conhecido como “Morceguinho”, foi morto a tiros, no bairro do Bessa, em João Pessoa. O pai da vítima, Roberto Farias de Araújo, relatou que este foi o primeiro Natal sem o filho. “Ninguém saiu de casa. Todos estão bastante tristes, nós sentimos muita falta dele, é duro. A dor é muito grande”, afirmou. Os acusados Danilo Cavalcante Vieira, Eduardo Cavalcanti Ramos de Carvalho e Jocelino Ramos de Carvalho, acusados do crime, estão foragidos.
MARX – Em agosto, o jovem Marx Nunes Xavier, de 25 anos, foi assassinado na Praia do Jacaré, porque defendeu um rapaz homossexual das agressões de Aluízio Henrique Silva, principal suspeito de ter cometido o crime. O pai de Marx, Pedro Pessoa Xavier, afirmou que o sentimento da família é de impunidade. “A família está com muita saudade e este primeiro Natal sem ele não foi nada fácil.
Agora, só nos restam a oração e a grande ferida que ficamos com a decisão do juiz em permitir que o acusado respondesse em liberdade”, declarou. Em setembro, Aluízio Henrique Silva foi assassinado, em Mangabeira.
Correio da Paraíba