A sala Spectacle Theater Brooklyn, em Nova York, tem na sua programação, neste 11 de março, 7 curtas brasileiros, entre ele o paraibano ‘Closes’ (1982, 30min), de Pedro Nunes, um dos primeiros filmes sobre a temática gay do cinema paraibano. Esta é a primeira de uma série de exibições que acontecerão nos meses subsequentes em diversas partes do mundo. A ação do Digitalização Viajante em Nova York é uma prévia para a angariação de fundos visando a continuação do projeto que, posteriormente, terá uma curadoria mais focada em temas e demais critérios como gênero, cinematografia por país, etc.
Para o Digitalização Viajante, os arquivistas William Plotnick e Glênis Cardoso, do Cinelimite, percorreram diversas cidades brasileiras, inclusive João Pessoa, coletando e digitalizando filmes na bitola Super-8 produzidos nas décadas de 1970 e 1980 na resolução 2k, algo impensável. O objetivo do Cinelimite é digitalizar filmes brasileiros, que ainda não estão disponíveis em alta definição, para que possam ser exibidos nos cinemas.
Só de João Pessoa, o Cinelimite digitalizou mais de 70 obras do acervo do Núcleo de Documentação Cinematográfica (Nudoc) da Universidade Federal da Paraíba, primeiro espaço formador dos cineastas da geração dos anos 1980, da qual faço parte. O convênio com os Ateliers Varan de Jean Rouch nos permitiu uma formação em João Pessoa e duas em Paris. Em 1981, fiz estágio com os franceses Mirreille Abramovici, Philipe Constantini e Séverin Blanchet, no Nudoc; em 1982, em Paris, e em 1986, tivemos a oportunidade de mais um estágio na Varan da capital francesa, desta vez em 16mm.
Dois anos antes, na que considero” a segunda fase do cinema superoitista, de 1979 a 1983, a a bitola 8mm passou a Super-8 registrando o som em sincronia com a imagem. Num contexto de relativa liberdade política, em 1979, Pedro Nunes e João de Lima, então estudantes do Curso de Comunicação Social da UFPB, iniciam as filmagens de Gadanho, em película super-8, com cerca de 24 minutos de duração. Esse documentário sobre a atividade dos catadores de lixo do Baixo Roger foi um marco que influenciou toda uma geração de estudantes e professores que passou a se interessar pela realização cinematográfica.
Essa fantástica iniciativa de Glênis Cardoso e William Plotnick resgata uma produção significativa de filmes para entendermos o período histórico em questão, a saber: seu cinema, suas temáticas, sua linguagem e técnica. Não devemos esquecer, no entanto, outros empreendimentos como o ‘Cinema Paraibano: Memória e Preservação’ dos professores Lara Amorim e Fernando Trevas que digitalizaram várias obras e organizara, um livro impresso de ótima qualidade textual e gráfica, o ‘Cinema e Memória: o Super-8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980’ (2013), patrocinado pelo Programa Petrobrás Cultural, além do recente trabalho da Arca Cinema Cloud, coordenado pelo cineasta Giasn Orsini, que fez um upgrade na qualidade de nossa produção com a restauração, produção de cópias digitais e armazenamento de filmes.
Atualmente, o projeto Digitalização Viajante está centrado na restauração dos filmes das cineastas, também paraibanas, Elisas Cabral e Laurita Caldas. William Plotnick acredita que Elisa, em particular, é uma das mais importantes cineastas brasileiras de documentários e uma voz subestimada na história do cinema brasileiro. “Seria ótimo fazer uma exibição desses filmes, e depois fazer mais enquanto continuo a terminá-los”, deseja Plotnick, que está dando ênfase no momento na curadoria e digitalização em 2k de filmes queer, inclusive com o segundo curta da minha filmografia: ‘Perequeté (1981, 21min, Super-8mm) que será exibido em futura mostra em Nova York e alhures.
Conferir link da mostra em Nova York : https://www.spectacletheater.com/idfb-x-abpa-present-selections-from-digitalizacao-viajante/