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Professor diz que a Paraíba tem histórico de eleições apertadas

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O fortalecimento de legendas como o PSB e o PT, o pluralismo partidário (o Estado tem representação dos 32 partidos existentes no País), a composição de forças políticas e o surgimento de novas lideranças explicam os resultados apertados das eleições para governador na Paraíba, de 1990 para cá. A constatação é do historiador José Octávio de Arruda Melo, autor do livro “Paraíba: lutas e resistência”, que está na 12ª edição.

Segundo ele, a realidade política da Paraíba mudou muito nos últimos 24 anos e está bem diferente da realidade que vigorou nas décadas de 1950, 1960 e 1970, em função do crescimento vertiginoso do eleitorado (hoje são 2,85 milhões de pessoas aptas ao voto na Paraíba), com a inclusão dos analfabetos e dos jovens, além da obrigatoriedade do ato de votar.

De acordo com José Octávio, a decisão de uma eleição para governador depende muito das alianças partidárias e das composições de forças. Como a sociedade brasileira foi acostumada a se dividir entre dois partidos ou dois grupos políticos, por décadas as eleições foram polarizadas entre o partido (ou grupo político) dominante (aquele que estava ou estar no poder) e o grupo que pretendia (ou pretende) dominar (tomar o poder).  

Nas décadas de 50 e 60, lembra José Octávio, a polarização se dava entre UDN (União Democrática Nacional) e PSD (Partido Social Democrático), mesmo existindo outras legendas. Nos primeiros cinco anos da década de 60, existiam pelo menos 13 partidos. Mas os dois principais – UDN e PSD– eram os majoritários, decidiam as paradas e se revezavam no poder.

Bipartidarismo

Depois, entre as décadas de 60 e 70, o Brasil instituiu o bipartidarismo. Após as eleições de 1965, para governador, os partidos foram extintos e surgiu o bipartidarismo. A UDN foi substituída pela Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o PSD deu lugar ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Foi exatamente em 1965 que a Paraíba registrou a eleição mais apertada de sua história, entre duas fortes lideranças: João Agripino e Rui Carneiro. Segundo o TRE, João Agripino foi eleito governador com uma maioria de apenas 2.927 votos. Ele obteve 168.712 votos (50,44%) contra 165.785 votos de Rui Carneiro (49,56%). Naquela época, 4.110 eleitores votaram em branco e 6.390 anularam os votos.  

“Quando um grande partido sofre um racha, o eleitorado se divide, toma outros rumos e reduz a maioria que teria, proporcionando vitória ou derrota apertada”, disse José Octávio, excluindo a eleição de 1965 desse entendimento.

“Em 1965, o eleitorado ficou altamente dividido entre duas lideranças fortes. Foi uma eleição dura”, comentou José Octávio. Ele lembrou que João Agripino era o candidato do movimento (golpe militar) de 1964 e estava muito desgastado.

As projeções eram de que Rui Carneiro ganharia a eleição em João Pessoa, tradicional reduto de oposição, por mais de 10 mil votos de maioria.

Grande acirramento em 1965

Mas João Agripino foi estratégico, de acordo com o historiador. “Pediu ao presidente da República, Castelo Branco, para atacar o regime militar em seus comícios e teve permissão. Já Rui Carneiro, que deveria ter atacado o governo militar, uma vez que ele era o verdadeiro candidato de oposição, passou a elogiar Castelo Branco. Resultado: Rui ganhou a eleição em João Pessoa não com os 10 mil votos de maioria que se esperava, mas por apenas 200 ou 300 votos, o que deu a vitória a João Agripino no Estado”, contou José Octávio.

“Depois das eleições de 1965, o governo militar extinguiu os 13 partidos até antão existentes e instituiu o bipartidarismo, que vigorou até 1979, quando voltou o pluripartidarismo”, declarou o historiador.

Os dois partidos que funcionaram no período militar (Arena e MDB) nunca se enfrentaram numa eleição para governador, já que cabia ao presidente da República nomear o chefe do Poder Executivo estadual, após eleição indireta na Assembleia. Ou seja: nomes eram apresentados e os deputados votavam. O nome do vitorioso seguia para o presidente da República nomear. Geralmente, o vitorioso era aliado do governo militar.

Burity foi fenômeno em 1986

Na eleição de 1986, polarizada entre PMDB e PFL (partido que sucedeu ao PDS), Tarcísio Burity (PMDB) derrotou Marcondes Gadelha (PFL) no primeiro turno por 296.036 votos de maioria. Burity obteve 61,27% dos votos, contra 37,26% de Marcondes Gadelha. A votação de Burity foi de 755.625 votos. A de Marcondes Gadelha foi de 459.589. Os votos nulos chegaram a 38.337. Os brancos somaram 112.701. A abstenção foi uma das menores: 5,46% (79.989 votos).

“Em 1986, Burity vinha do sistema dominante. O candidato do PMDB seria Humberto Lucena. Só que os amigos de Humberto chegaram a dizer que fechariam com ele, mas para perder, porque para ganhar, o candidato teria de ser Burity”, lembrou José Octávio.

Humberto desistiu (morreu sem realizar o sonho de ser governador) e o PMDB apoiou Burity, que se filiou ao partido. De acordo com José Octávio, Burity tinha os apoiadores políticos e os eleitores dele, passou a contar com apoiadores e eleitores do PMDB na totalidade e ainda abocanhou grande parte dos aliados e eleitores de Wilson Braga.

A vitória foi acachapante. “Marcondes foi o candidato do sacrifício. Quando ele resolveu aceitar a candidatura, Burity já tinha ocupado todos os espaços”, frisa José Octávio. Além do que assegura o historiador, Burity também foi contemplado pela onda do Plano Cruzado, lançado pelo então presidente José Sarney (PMDB), que congelou preços para reduzir a inflação e teve apoio maciço da sociedade brasileira. Naquela época, o PMDB elegeu 22 governadores. O PFL elegeu apenas um. Na polarização entre os dois partidos, foi a primeira e única vez na história recente que um partido (o PMDB) elegeu a quase totalidade dos governadores brasileiros.

Resultados muito apertados em 90 e 94

Em 1990 e em 1994, os resultados apertados começaram a aparecer  concomitantemente com a pluralidade de partidos. Em 1990, Wilson Braga (PDT) era tido como favorito e enfrentou Ronaldo Cunha Lima (PMDB). Mas a eleição não foi decidida no primeiro turno. Braga obteve 498.763 votos (43,37%) contra 462.562 votos (40,22%) de Ronaldo. Os votos brancos foram 202.478. Os nulos foram 129.946.

A diferença foi de apenas 36.201 votos. A eleição foi para o segundo turno, quando Ronaldo Cunha Lima reverteu o quadro, obtendo uma maioria de 132.573 votos. Ronaldo teve 704.375 (55,19%) e Braga ficou com 571.802 votos (44,81%). No segundo turno, os votos brancos foram 31.417 e os nulos, 95.946.

Naquela eleição, o braguismo já estava muito desgastado por conta do envolvimento do ex-governador Wilson Braga na morte do empresário Paulo Brandão, em 1984, e dos sucessivos escândalos que foram praticados no seu primeiro governo.

Em 1994, aconteceu a mesma coisa. Braga colocou a mulher, Lúcia Braga (PDT) para ser candidata contra Antônio Mariz (PMDB). O resultado foi apertado no primeiro turno: apenas 36.330 votos de maioria a favor de Mariz, que obteve 525.396 votos, o equivalente a 46,59% dos eleitores que compareceram às urnas. Lúcia obteve 489.066 (43,37%).

Naquela época, aconteceu um fato curioso. O eleitorado estava tão sem apetite para votar, que a abstenção foi uma das maiores da história: 22,59%. Pelo que dizem os resultados do TRE, até parece que o eleitorado não queria nem Mariz, nem Lúcia. O fato é que 472.740 eleitores se abstiveram. Outros 357.027 votaram em branco e 135.019 votaram nulo. Quase 1 milhão de eleitores disseram não aos dois candidatos. Mas a eleição foi para o segundo turno e Mariz ganhou com 781.349 votos, o equivalente a 58,3%. Lucia ficou com 558.987 votos (41,7%). A diferença favorável a Mariz foi de 223.362 votos.

Também naquela época, um fato novo na campanha contribuiu para o aumento considerável na diferença de Mariz para Lúcia: o escândalo dos carros roubados, patrocinado pelo aliado da candidata, Gesner Caetano.  Mesmo assim, abstenção foi recorde. Chegou a 28,5%. Significa que, no segundo turno, 596.268 eleitores não compareceram às urnas para votar. Talvez tenha sido a maior da história.

Realmente, o eleitorado não estava com vontade de eleger nenhum dos dois. A abstenção de 596.268 votos foi maior do que a votação de Lúcia Braga. Foram 37.281 a mais na abstenção do que teve a candidata. Os votos nulos foram 137.249. E os bancos, 18.536. Somados os votos brancos, nulos e as abstenções, o total foi de 752.053, bem perto da votação obtida pelo vitorioso Antônio Mariz. (ABS)

Morto, Mariz foi substituído por Maranhão

Antônio Mariz morreu poucos meses depois de ter iniciado o governo, em 1995. O vice, José Maranhão, assumiu a titularidade. Na época, o PMDB era um partido forte e reunia lideranças como Humberto Lucena e Ronaldo Cunha Lima.

Maranhão resolveu que disputaria a eleição de 1998. Mas Ronaldo Cunha Lima também queria disputar o pleito. Humberto Lucena, considerado o pacificador do PMDB, morreu no dia 13 de abril daquele ano. A convenção do partido foi realizada em junho para a escolha do candidato.

Ronaldo resolveu enfrentar Maranhão nas disputas internas e levou a pior: foi duas vezes derrotado. Ele e seus aliados trocaram o PMDB pelo PSDB. Maranhão foi candidato ao governo. Estava com a popularidade em alta. Seria quase candidato único (apesar das candidaturas inexpressivas do PRP, PMN e PSTU) se não fosse a ousadia do advogado Gilvan Freire (então aliado dos Cunha Lima) de enfrentá-lo pelo PSB.

Os Cunha Lima e aliados estavam impedidos de apoiar Gilvan Freire publicamente,  porque eram do PSDB, partido que teve o apoio do PMDB, no plano nacional e na Paraíba,  por causa da candidatura de Fernando Henrique Cardoso a Presidente da República. Os Cunha Lima ficaram de mãos atadas.

Em termos percentuais, Maranhão obteve a segunda maior votação da história nos últimos 67 anos. Foram 877.852 votos, o equivalente a 80,72% do eleitorado que foi às urnas. Foram 702.618 votos de maioria sobre Gilvan Freire, que obteve 175.234 votos (16,11%).  Mas naquela eleição, a abstenção também foi uma das maiores da história. Chegou a 24,63%, o equivalente a 547.654 votos. Assim como na eleição entre Mariz e Lúcia Braga, o eleitorado não estava com apetite para o voto. Talvez pelo fato de Maranhão ser favorito sem possibilidade de o quadro se reverter, mesmo havendo uma tragédia, o que não aconteceu. Os eleitores que se abstiveram totalizaram 547.654. Os que votaram em branco foram 374.347. Os que anularam: 213.743. O total de abstenções, nulos e brancos chegou a 1.135.744 votos.

Correio da Paraíba

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