O médico Fernando Cunha Lima é suspeito de ter cometido estupros de crianças e adolescentes por aproximadamente 40 anos. Uma sobrinha do pediatra, Gabriella, denunciou que ele foi capaz de violentá-la quando ela tinha apenas 9 anos. E o crime aconteceu na casa de praia do médico, sob o mesmo teto em que a família dele estava.
A maior parte dos casos relatados formalmente à polícia da Paraíba até agora (10) tratam de abusos e estupros que se deram no consultório do médico, driblando a confiança dos pais e até ousando utilizar símbolos da pedofilia sob o nariz dos adultos. É que Fernando costumava desenhar borboletas no próprio receituário (onde estava o endereço da clínica e seu nome) entregar às vítimas para que elas colorissem o desenho e o trouxessem de volta na consulta subsequente. Estratégia de algoz que se compraz em saber da dominação da vítima incapaz de reagir ao predador.
Na terça-feira, 5, a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba decidiu autorizar a prisão de Fernando. Mais do que isso: mandou cumprir busca e apreensão nos endereços dele e quebrar o sigilo telefônico.
Há um ditado que diz: Justiça tardia não é justiça.
Nesse caso, temo que estejamos presenciando um exemplo claro de como a demora prejudica o resultado da investigação. O que havia em dispositivos eletrônicos ou documentos físicos já pode ter sido destruído. Muito bem assessorado juridicamente e tendo recursos financeiros para se manter longe de João Pessoa por muito tempo, Fernando não permaneceria em casa esperando a polícia chegar. Ele está foragido.
A decisão de prender um predador sexual veio tarde. Talvez a punição que haja para ele se resuma ao peso da opinião pública por causa do escândalo gerado na sociedade. Se ele realmente é culpado dos crimes pelos quais é acusado, isso não representa nada na mente de quem não se importou com a própria família e nem com a inocência e vulnerabilidade das crianças violentadas.
Em relação a Fernando Cunha Lima, o Conselho Regional de Medicina que suspendeu o direito dele exercer a medicina, e, depois, o Conselho Federal de Medicina, que aprovou a ação do CRM, foram, no que lhes cabia, mais prudentes e justos que a própria justiça.