A vida pode ser comparada a um canteiro de obras. Estamos sempre construindo. Nossos sentimentos, relacionamentos e atitudes ( de ação ou omissão ), formam a base de tudo que construímos ao longo da existência. Essas construções delimitam, por sua vez, os espaços da nossa existencialidade.
“As pessoas vivem solitárias, porque constroem muralhas; ao invés de edificarem pontes”. Há muita verdade contida neste pensamento. É como se tivéssemos aqui a síntese da engenharia do cotidiano. Quem constrói pontes, para si, está construindo também saídas alternativas, possibilidades de intercâmbio, de interação; trocas – tanto de experiências, como de afetos. Enfim, quem constrói pontes, expande vida, amplia visão, ultrapassa fronteiras, pois as pontes nos levam para o mundo, para os outros, para além de nós mesmos; Ao mesmo tempo em que trazem o mundo e as pessoas para nós. Pontes são pontos de contato, e podem ser vias de suprimento de carências, mesmo daquelas que tentamos negar.
As muralhas são símbolos de isolamentos. Também isso é verdade na dimensão psicológica, afetiva e espiritual da existência humana. Os isolamentos, por sua vez, representam nossas inseguranças, nossas intolerâncias, nossa inabilidade em compartilhar sentimento, nossa incapacidade de conviver com as diferenças. As muralhas que construímos, são a mais clara projeção tanto do nosso egocentrismo, como da nossa idiotice crônica. Só os “tolos” pensam que se bastam a si mesmos.
São muitas as muralhas que construímos ao longo da vida. Muralhas edificadas pela ilusão do poder, do dinheiro, do conhecimento, do status social, dos vários preconceitos: sociais, religiosos, raciais,etc. Algumas dessas muralhas são edificadas lenta e silenciosamente, na alma e no coração. São verdadeiras paredes de “concreto humano”, levantadas pelo ressentimento, pela inveja, pelo rancor, pela arrogância, pela disposição de não perdoar, pela vaidade; enfim , pelo lixo petrificado dentro de cada um de nós. As pessoas que vivem por trás destas muralhas são infelizes, solitárias, amargas e vazias. Não percebem que na medida em que se fecham para os outros, pelo isolamento afetivo e social, se fecham também para a vida e se tornam auto-destrutivas.