Cláudia Carvalho

Cláudia Carvalho é editora e diretora do ParlamentoPB, jornalista e radialista, mestre em Jornalismo Profissional pela UFPB
Cláudia Carvalho

Padres e pastores: fé cega, faca amolada

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As paixões políticas movem todo mundo. Não existe distinção entre classe social, gênero, raça e nem religião. Os excessos podem ser encontrados em toda parte e a vida, o cotidiano e os fatos nos mostram isso de maneira muito didática. Como se o noticiário quisesse nos dar uma lição ampliada de isonomia.

Domingo de manhã na catedral de Nossa Senhora da Luz, em Guarabira, o bispo Aldemário Sena fez uma preleção com um tom muito político. Ele não citou o nome do político que elogiava, mas não era preciso muito esforço para deduzir que o operário estadista mencionado pelo religioso era Luiz Inácio Lula da Silva. Ele citou realizações das gestões petistas como o Minha casa, minha vida e o Bolsa Família para dizer que o voto deveria ser em favor dos pobres. Não pediu voto para Lula, mas nem precisava.

Um casal que discordou do que disse o bispo foi à sacristia e lá o agrediu verbalmente. A Diocese de Guarabira lançou uma nota de repúdio ao comportamento dos idosos que xingaram o padre. O texto fala em ações de repressão e opressão à fé cristã, claramente motivadas por tendências ideológicas fascistas e autoritaristas.

Em Campina Grande, o pastor Robson Fernandes, da Igreja Nova Vida, foi mais agressivo. Disse que iria procurar saber ”quem são os membros da igreja que votam na esquerda” e ameaçou tomar medidas contra a participação destas pessoas nas atividades da congregação. E ainda bradou que quem estivesse achando ruim fosse procurar outra igreja, mas não ficasse naquela. É melhor sair que ficar aqui perturbando e eu ter que botar pra fora. O líder da igreja exibiu vídeos e em tom muito irritado chamou Lula de anticristo e marginal. Se ele detona Lula, obviamente determina o voto de seus liderados em jair Bolsonaro.

Misturar fé e religião é um ato perigoso. Uma música de Milton Nascimento já dizia que a fé´cega é faca amolada. Isso quer dizer que você se põe em risco quando segue o que um padre ou pastor lhe diz sem questionar. Não é proibido às igrejas adotar um posicionamento político. A maneira de viver a fé é também uma forma de se posicionar politicamente. Jesus foi preso, torturado e morto porque representava um risco para os chefes políticos da época. Como pacifista, ele questionou a ordem que estava estabelecida sem pegar em armas. Seus algozes não tinham problema com a violência. Torturaram e mataram o Cristo na cruz.

Mas, o fiel não deve ser cego e seguir integralmente tudo que seu mentor espiritual lhe diz.

O que vemos nas duas ocasiões que citei anteriormente são posturas partidárias. Esse direcionamento poderia ser evitado. No púlpito, um líder preocupado com seu rebanho deveria falar em tese. Orientar sobre os valores defendidos pela fé que ele professa, mas não virar cabo eleitoral da maneira mais rudimentar, ameaçando ou manipulando a ingenuidade dos fieis em favor ou contra um candidato.

Na chamada sociedade da informação, ser ingênuo já é um pecado grave. É se expor á influência de terceiros que podem usá-la tanto para o bem quanto para o mal.

E sendo padre ou pastor, são homens, seres humanos como eu e você. Sujeitos às mesmas paixões, vulneráveis ao erro e algumas vezes seduzidos pelo poder de ascendência sobre suas ovelhas.

A fé realmente move montanhas, mas viva sua fé com equilíbrio e discernimento. Procure conhecer a verdade, porque é ela, como disse Jesus que vai lhe libertar. Esqueça as fake news e a pós-verdade. Deus nos deixou como mandamento maior o amor a ele e ao próximo. Se tivermos isso em mente, já evitamos um monte de besteiras e desgaste na eleição e fora dela.

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