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Os perigos da política fascista

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O tema do fascismo voltou à tona, com diversos livros publicados e alguns reeditados no Brasil. Entre outros, podemos citar “Michel Temer e o fascismo comum” que reúne artigos do psicanalista Tales Ab’Saber (Editora Hedra, 2018), no qual analisa o que chamou de processo de formação de um conjunto de práticas (e idéias) que ajudaram a criar as condições para um poder regressivo no País, apontando para uma “nova modalidade de ação política de ódio e de mentira” (particularmente no artigo “Mediocridade, política e violência”). É o que ele qualifica como “fascismo comum”.

Outro livro publicado em 2018 no Brasil foi “Fascismo, um alerta”, de Madeleine Albright (Editora Crítica). Além de professora na Universidade de Georgetown, em Washington, exerceu cargo públicos de grande relevância, como ter sido a primeira mulher a ser Secretária de Estado nos Estados Unidos (1997 a 2001, no governo de Bill Clinton) e também embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas. Neste livro, publicado também nos Estados Unidos em 2018, ela analisa os perigos do fascismo. Para ela, como forma extrema de regime autoritário, ele não é apenas um fenômenos dos anos 1920-40 mas representa hoje a maior ameaça à paz mundial desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Ela analisa alguns países e entre outros aspectos, constata o fortalecimento da extrema direita no contexto do que chama de “decadência da democracia liberal”. Num curso da pós-graduação que ministrou em Georgetown sobre o fascismo diz “Meus alunos observaram como os caciques fascistas que mais recordamos eram carismáticos. Por um método ou outro, cada um estabelecia uma ligação emocional com a massa e, como a figura central de um culto, fazia emergir sentimentos arraigados e muitas vezes repulsivos (…) e assim os tentáculos do fascismo se espalham dentro de uma democracia” e mostra como a mágoa tem um papel importante nesse processo “quanto mais dolorosa for à origem da mágoa, mais fácil é para um líder fascista ganhar seguidores ao oferecer a expectativa de renovação ou prometer restituir-lhe o que perderam”.

Em 2018 a editora Autonomia Literária (SP), reeditou o livro “Como esmagar o fascismo” de Leon Trotsky, publicada no final dos anos 1920. Como diz Sabrina Fernandes, professora da UnB “É possível que nenhuma outra compilação de textos de Leon Trotsky esteja tão atual e pertinente à conjuntura brasileira quanto o que é apresentado em Como esmagar o fascismo. O Brasil vive um momento delicado que provoca e desafiam aqueles que lutaram contra a ditadura militar e que vivem sob uma democracia, imperfeita como a democracia liberal sempre é, há meros 30 anos”.

Quando Trotsky escreveu, o fascismo já estava estabelecido na Itália (desde 1922), mas publicou suas reflexões antes da ascensão de Hitler ao poder em 1933, analisando os perigos do nazismo e as estratégias para combatê-lo, mas não encontrou ecos entre os partidos de esquerda da Europa naquele momento, com os resultados conhecidos.

Outro livro publicado em 2018 no Brasil é uma coletânea de artigo de Fernando Pessoa. Trata-se do livro “Sobre o fascismo, a ditadura portuguesa de Salazar” (Editora Tinta da China) que reúne textos inéditos dele sobre o fascismo.

Portugal, como se sabe, teve um golpe em 1926 (28 de maio) e instalou uma ditadura militar, depois sucedida pelo regime ditatorial de Antonio de Oliveira Salazar. O que ficou conhecido como “revolução de 1926” pôs fim à Primeira República Portuguesa e depois do golpe, se autodenominando de Ditadura Nacional. Com Salazar, em 1933 foi aprovada uma Constituição (Estado Novo) que se manteve até 25 de abril de 1974, quando o período ditatorial chegou ao fim com a Revolução dos Cravos (Salazar morreu em 1970, mas a ditadura continuou com Marcelo Caetano, até abril de 1974).

Entre 1923 e 1935, quando morreu, Fernando Pessoa assistiu ao triunfo do fascismo em Itália (1922), a instauração de ditaduras militares na Espanha (1923) em Portugal (1926), a tomada do poder pelos nazistas na Alemanha em 1933(“A ascensão da barbárie no coração da Europa”).

Em relação à Ditadura Militar em Portugal, ele critica a República Democrática e fez uma defesa da Ditadura no artigo “Interregno. Defesa e Justificação da Ditadura Militar em Portugal” (1928) que está no livro “Fernando Pessoa, Obras em Prosa”, publicado em 1985 no Brasil pela editora Nova Aguilar, organizado por Cleonice Berardinelli.

Em defesa da ditadura ele afirma; “Este opúsculo contém uma justificação completa da Ditadura Militar em Portugal presente. Com isso justificamos a ditadura hoje, em seus fundamentos” (p.616).

Depois, com a ascensão de Salazar, ele se opõe, em defesa “da liberdade do espírito e da dignidade humana” e o conjunto dos artigos são muito críticos em relação a Salazar, a ditadura e o fascismo.

Em 2018 foi lançado também o livro “O fascismo eterno” de Umberto Eco. Ele havia sido publicado em 1997, como um dos cinco artigos do livro “Cinco escritos morais” (ambos pela Editora Record). Para ele, o fascismo não foi apenas um momento na história do seu país (Itália), mas tem sido ao longo do tempo, uma ameaça constante: “Embora os regimes políticos possam ser derrubados e as ideologias criticadas e destituídas de sua legitimidade, por trás de um regime e de sua ideologia há sempre um modo de pensar e de sentir, uma série de hábitos culturais, uma nebulosa de instintos obscuros e de pulsões insondáveis. Há, então, outro fantasma que ronda a Europa (para não falar de outras partes do mundo)? (in:” Cinco escritos morais”, p.34).

Ele lista algumas características daquilo que chama de “fascismo eterno”: “Tais características não podem ser reunidas em um sistema: muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismos ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que forme uma nebulosa fascista”.

Entre outras, ele cita o culto da tradição, o medo do diferente, a oposição à análise crítica “a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas” e a existência de um complô como justificativa para medidas repressivas: “Na raiz da psicologia do fascismo eterno está à obsessão do complô, possivelmente internacional” (p.46). Há ainda a exaltação de um “líder e também a existência de um constante estado de ameaça.

Podem ser acrescidos e analisados ainda o uso intensivo da propaganda. O objetivo da propaganda fascista é o de substituir o argumento fundamentado por medo e paixões irracionais e assim um dos seus principais instrumentos é o de não usar argumentos para convencer, mas para influenciar vontades, manipular “converter pessoas numa espécie de rebanho, irracionais e dóceis”. Substitui o debate qualificado pelo medo e raiva e o uso sistemático da mentira, com técnicas sofisticadas de manipulação.

Como mostra o filólogo Victor Klemper no livro “LTI a linguagem do terceiro Reich” (publicado no Brasil pela editora Contraponto, em 2009) o nazismo usou a linguagem para provocar emoções e não reflexões e se consolidou quando dominou a linguagem e o uso eficaz da propaganda e da mentira.

Outro aspecto relevante a ser considerado quando se analisa o fascismo é o anti-intelectualismo. Na política fascista, as universidades, por exemplo, são degradadas em discursos públicos, como se fossem “ninhos do comunismo”, revelando sua ignorância, com menos recursos para pesquisas etc., reduzindo todo debate a um conflito ideológico.

No livro “Como funciona o fascismo – a política do “Eu” e “Eles” (L&PM editores, 2018) Jason Stanley, diz “No mundo inteiro agora, vemos movimentos de extrema direita atacando as universidades pela disseminação de ‘marxismo’ e do feminismo, com o objetivo de substituir por valores de extrema direita”.

O autor cita a Turquia, no qual o presidente Recep Tayyip Erdogan, depois de uma tentativa fracassada de golpe de Estado, ocorrida em julho de 2016, desencadeou intensa repressão contra seus adversários, com milhares de prisões, exílios, demissões de funcionários públicos e professores das universidades e a imposição de um novo currículo para as escolas no qual o objetivo foi o de “reduzir a ênfase em idéias seculares” e eliminar teorias científicas que possam contrariar as concepções e ideologias religiosas.

Quando ele analisa as eleições de 2016 nos Estados Unidos, que deu à vitória a Donald Trump, diz que ele mentiu repetida e abertamente na campanha eleitoral e que, como estratégia deu certo “ao dar voz a sentimentos chocantes, supostamente impróprios para o discurso público, Trump foi considerado como alguém que fala o que pensa, aparentando autenticidade, mas no fundo era só desonesto e mentiroso, mas encontrou ecos nos seus seguidores e na sociedade americana”.

Há também como parte da política fascista, o uso de teorias da conspiração (usadas com eficácia na campanha de Trump) utilizadas para deslegitimar os que discordam. É fato que essas teorias só prosperam em meio à ignorância e a desinformação. Como lembra Stanley, Hannah Arendt já alertava sobre seu uso como parte dos ataques à democracia, assim como o uso de medos e ressentimentos irracionais, intensificando os preconceitos. Para ele “Se a sociedade é dividida, um político demagogo pode explorar essa divisão usando a linguagem para semear medo, acentuar preconceito e pedir vingança contra membros de grupos odiados” e que a política fascista é mais bem-sucedida, quando o líder é considerado pelos seus seguidores como o único confiável.

Assim, o fascismo não foi apenas uma experiência datada, mas como alerta Umberto Eco, pode voltar “sob as vestes mais inocentes” e nosso dever, diz ele” é desmascará-lo e apontar o indicador para cada uma de suas novas formas – a cada dia, em cada lugar do mundo”.

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