Como lidar com desejos, frustrações e expectativas no decorrer de um relacionamento afetivo? Uma pergunta bastante recorrente nas terapias de casais, principalmente quando já há certa quebra do encanto, algo comum na vida a dois, geralmente tão cheia de angústias, recalques, renúncias, dúvidas e frustrações.
Cada um do seu jeito, homens e mulheres costumam apresentar seus medos: da separação e também da continuidade da união. Na maioria das vezes, o diálogo não mais existe. Há falas, mas a escuta passa longe, tamanha a desconexão emocional.
O desejo de um não parece ser capaz de contagiar o outro. Inicia-se então uma tentativa de “negociação”, buscando parear sonhos e decisões. A crise surge acompanhada por sintomas que parecem viver à espreita. São ciúmes, discussões constantes, falta – ou pouco – tesão e, não raro, episódios denominados de traição.
As vulnerabilidades pessoais e do relacionamento começam então a ser verdadeiramente discutidas, apesar das inúmeras travas e dificuldades de todas as ordens. São muitas divergências lançadas ao centro da sala, entre corações estraçalhados, em um momento no qual a boa comunicação pode fazer a diferença.
Os conteúdos transbordantes passam pela liberdade de ser, agir e pensar, experienciados em relacionamentos onde quase nada foi planejado, ao menos no campo das subjetividades amorosas. O casal pode até ter se organizado para a compra do carro, da casa, o nascimento do filho (a), a ascensão profissional, mas, geralmente, quase nada falou acerca de suas necessidades afetivas na vida a dois, tampouco sobre possibilidades para bancá-las.
Cada casal deve ter seus acordos e “contratos”, vislumbrando paz e felicidade. Vontades em desarmonia precisam ser discutidas e alinhadas da melhor forma, em meio a diálogos, autoconhecimentos e abertura de caminhos para uma melhor convivência. Se possível sem falsas promessas. Afinal de contas, o amor não promete. O outro (a) simplesmente fantasia, movido pela necessidade de sentir-se amado, desejado, querido…
Acontece, como nos versos da música do paraibano Vital Farias, que “(…) o real e a fantasia se separam no final”, cedendo lugar à vida como ela é, ora cheia de alentos e encontros felizes, ora marcada pela arte dos desencontros e rupturas. Mas sempre existirão acontecimentos capazes de restituir uma certa plenitude perdida. O sentido da nossa existência, talvez.