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O (melo)drama mais político de Almodóvar exuma o terror da ditadura franquista

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O lançamento de um filme do espanhol Pedro Almodóvar é sempre cercado de expectativas. Há tempos que o diretor deixou de lado suas personagens histriônicas e seus melodramas deliciosamente imoderados. Em ‘Mães paralelas’ (Madres paralelas, 2021, 2h03min), Almodóvar não abandona de vez o melodrama ao narrar a história de Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit), duas mães solteiras que engravidam acidentalmente e se conhecem quando estão prestes a dar à luz a seus bebês. A partir daí, surge uma grande amizade entre elas e suas histórias vão se embaralhar inextricavelmente. 

Janis, uma mulher madura, está feliz por ter engravidado, mesmo o pai sendo um homem casado cuja mulher sofre de câncer. Arturo (Israel Elejalde) diz não estar pronto para a paternidade, mas Janis não abre mão do seu sonho e quer ter o bebê e criá-lo sem a presença do pai. Por sua vez, Ana é jovem e com todos os temores do que está para vir. Teresa (Aitana Sanchéz-Gijón), mãe de Ana, uma atriz de teatro divorciada e prestes a estrear uma peça com turnê pelo interior do país, não poderá ajudar a filha nos cuidados com o bebê. Janis termina por cuidar de Ana da forma mais inesperada.

Com domínio ímpar sobre suas histórias mirabolantes, assinando sempre o roteiro de seus filmes, Almodóvar cria uma narrativa prenhe de reviravoltas, surpreendendo o mais precavido dos expectadores. A partir do enredo principal, Almodóvar encontra brecha para falar do horror da Ditadura de Francisco Franco, iniciada em 1936 e só finda com a sua morte em 1975. A história de Janis e Ana se passa na Espanha de hoje, mas o passado assombra o presente de Janis através da história de sua família. Seu avô e outras pessoas do vilarejo foram massacrados pela Falange, partido ultranacionalista do ditador Franco e enterrados numa vala comum durante a Guerra Civil Espanhola. 

 Janis, uma fotógrafa de quarenta anos, conhece Arturo, antropólogo forense, e seu futuro amante, numa sessão de retratos dele para uma revista. Arturo vai ajudar Ana e outras famílias na missão arqueológica de resgatar as ossadas dos desaparecidos e iluminar o lado sombrio e doloroso desse momento da história espanhola. No enredo de ‘Mães paralelas, a ditadura franquista ocupa um espaço menor, mas nem por isso desimportante. O tema é distribuído ao longo da narrativa, como uma subtrama, mas termina por incrementar o clímax da história. 

Numa história, os acontecimentos são explicitamente mostrados ou sugeridos no enredo. Os que são sugeridos, cabe ao espectador inferi-los. Por isso, a história é muito mais ampla e abrangente do que o enredo. O enredo é tudo que é mostrado na tela através de sons e imagens. A história contém eventos passados e personagens que não vão ser mostrados diretamente, mas mencionados, na maior parte das vezes através de diálogos entre os personagens. As atrocidades da Ditadura de Franco, por exemplo, nos são apresentadas pelos esforços de Janis e sua família para desenterrar literalmente seus cadáveres e lhes dar um enterro digno. 

Almodóvar sabe como despertar e manter o interesse do espectador na estruturação da sua narrativa, liberando informações cruciais no tempo adequado ao longo do enredo. E aqui o roteirista-diretor segue rigorosamente o que dita os manuais: uma boa história deve esconder e revelar dados que estimulem a curiosidade do espectador e o levem a participar para antecipar acontecimentos e informações que vão envolvê-lo, ativamente, na narrativa. A surpresa é um dos artifícios que contribuem para a obtenção de determinados efeitos sobre o espectador de um filme e a forma que ele frui a narrativa de uma história.

Em ‘Mães paralelas’, Almodóvar nos presenteia com uma grata surpresa, ao trazer, num papel secundário, a icônica atriz de sua filmografia (Rossy de Palma) como Elena, amiga protetora de Janis. Atrizes como Carmen Maura, Cecília Roth, Victoria Abril, Marisa Paredes, a octogenária Chus Lampreave e a própria Penélope Cruz, indicada ao Oscar de Melhor Atriz deste ano, viraram musas do diretor e marcaram seus filmes com brilhantes atuações, associando seus rostos às “cores de Almodóvar”.  

A Netflix enriqueceu seu cardápio com 11 filmes do diretor para deleite dos cinéfilos e fãs de Almodóvar. Além do lançamento de “Mães paralelas’, fruto de uma parceria entre a Netflix e a produtora El Deseo de Pedro e Augustín Almodóvar, podemos conhecer ou rever ‘Maus hábitos’ (1983), ‘O que fiz para merecer isso’ (1984), ‘A lei do desejo (1987), ‘Mulheres à beira de um ataque de nervos’ (1988), ‘De salto alto (1991), ‘Kika’ (1993), ‘A flor do meu segredo’ (1995), ‘Carne trêmula’ (1997), ‘Fale com Ela’ (2002), ‘Má Educação’ (2004) e ‘Volver’ (2006). Um belo presente para fãs, curiosos e estudiosos da a obra do mestre da Movida Madrileña.

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