Primeiro, Bolsonaro levantou dúvidas sobre a inocência do filho: “Se Flávio errou e se isso ficar provado, vai ter que pagar”. Depois, em outra entrevista, recuou e acabou assinando embaixo das justificativas até agora apresentadas por Flávio: “Acredito nele. Não é justo usar o garoto para me atingir”.
A mudança de tom do presidente provoca algumas perguntas: o que aconteceu neste intervalo entre uma fala e outra? Na primeira, o tom foi austero. Agradou a plateia. Na segunda, benevolente, deixando a plateia fiel calada. Aí vem a segunda pergunta: para mudar o tom, o pai se arrependeu do que disse ou o presidente decidiu recuar depois de se sentir ameaçado? Se foi ameaçado, quem o ameaçou? E qual seria o objeto da ameaça?
A primeira fala indicou que o presidente deixaria Flávio sozinho, em meio aos leões, para não deixar o governo também acuado. No entanto, pouco tempo depois, o pai amansou a fala e colocou o garoto nos braços. Ficou na frente dos leões.
Na prática, metáforas à parte, ao corroborar a postura suspeitíssima e nada convincente do filho nos rolos com Queiroz, o presidente acabou levando a crise para dentro do governo. Assumiu a defesa do filho e, obviamente, será cobrado por isso. Por muitos, vale ressaltar: executivo, legislativo, judiciário, MP, imprensa, mercado, seus eleitores e seus não eleitores.
Com Flávio cada vez mais enrolado, Bolsonaro se enrola também, mais e mais. Os rolos estão entrelaçados, é difícil desatar os nós. E o presidente ficará de peito aberto na frente dos leões que habitam a selva do poder. Quase todos famintos e ferozes. Um dos leões, por exemplo, chama-se Renan, para quem esse rolo todo veio bem a calhar.
“Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho”.
A música já está pronta.
Se correr e largar o filho, talvez o bicho não pegue. Mas se ficar com o garoto no colo, com certeza o bicho come, porque a carne fresca estará ao alcance do faro das feras. Como o presidente vai sair dessa, não temos como saber ainda, inclusive não sabemos se terá preparo para escapar. Afinal, ele viveu quase 30 anos às margens da selva, quase invisível. Talvez não saiba realmente como se safar.
Se a ideia for mesmo salvar Flávio, algo muito pouco provável de conseguir sem se sujar na lama da selva, talvez o presidente tenha que fazer uma escolha. Das duas, uma: ou salva o filhote ou salva o governo.