Você já ouviu falar no termo jornalismo de INFOtenimento? Sim, essa categoria existe e engloba as matérias que visam a informar e divertir, como assuntos sobre estilo de vida, fofocas das subcelebridades e notícias de interesse humano.
Segundo a pesquisadora e professora Fabia Angélica Dejavite, que é autora do livro “INFOtenimento: informação + entretenimento no jornalismo” (editora Paulinas), o termo sintetiza bem a intenção editorial do papel de entreter no jornalismo, pois segue os princípios básicos ao mesmo tempo em que atende às necessidades de informação do receptor dos dias de hoje. “Enfim, manifesta aquele conteúdo que informa com diversão”, pontua a autora.
Dessa forma, o conceito abarca um vasto espectro: matérias que focalizam o interesse humano (entrevista de um jovem sobre sua primeira experiência sexual), celebridades, vídeo, cinema, televisão, rádio, música, teatro, dança, literatura, gastronomia, restaurantes e bares, arquitetura, pintura, escultura, fotografia, diversões populares, moda e museus. As matérias tidas como jornalismo de INFOtenimento, explica Dejavite, “satisfazem nossas curiosidades, estimulam nossas aspirações, possibilitam extravasar nossas frustrações e nutrem nossa imaginação”.
Confesso: sempre que me pego estressada diante do cenário atual do Brasil (eu sei, vocês vão dizer que isso ocorre toda hora/todo dia…), aproveito meus cinco minutinhos de pomodoro e dou uma passeada por alguns portais de notícias, para desopilar. Não chego a ler a maioria das notícias de INFOtenimento, mas sempre dou uma conferida nos títulos.
E bastam 300 segundos de leitura, para eu rir muito com manchetes do tipo: “Conheça 5 polêmicas da família Abravanel”, “Ludmila e Boninho trocam farpas na rede”, “Rodrigo vai ao Mais Você e leva cantada de Ana Maria Braga”, “Giovanna Ewbank encanta ao mostrar Zyan de boné” e “Mulher exibe tatuagem da Marvel em formato de pênis” — admita, você também se divertiu agora…
É curioso, porém, como certos temas abordados na linha do jornalismo de INFOtenimento podem causar indignação até em parte do grande público que costuma consumir esse tipo de conteúdo. Prova disso é que, cada vez mais, leio comentários deste tipo nas redes sociais de alguns veículos de comunicação: “Isso lá é notícia?”, “O jornalismo morreu mesmo”, “Depois tem jornalista reclamando que perdeu o emprego”, “Tanto assunto sério no Brasil, e vocês aí falando bobagem!”.
Ora, diante de situações tão complexas enfrentadas hoje pelo País, como desemprego, mortes pela pandemia e tragédias mil, abordar amenidades pode causar um leve desconforto mesmo no público mais cativo. Até porque, como bem pontua Dejavite, tal estranhamento também é sentido por quem produz a notícia. “Ainda hoje, os jornalistas se questionam se, trabalhando em veículos que visam a distrair — como as revistas Contigo! e Caras —, o prestígio da profissão também será visto da mesma forma pela opinião pública”, registra a autora.
Tal visão, esclarece Dejavite, está fundamentada no equívoco de encarar o universo do entretenimento e do lazer de forma preconceituosa, como se fosse algo menor. Tanto não é que o entretenimento é uma grande indústria e domina, mais e mais, o conteúdo dos veículos.
Infelizmente, muitas vezes isso ocorre em detrimento de programas com um perfil mais informativo e analítico. Eu sei que a mídia que educa, forma e informa também tem a função de entreter o público, como é ressaltado por Dejavite. Acredito mesmo que o jornalismo de INFOtenimento é necessário. Agora, cá entre nós: não quero que o INFOtenimento se una a Pinky e o Cérebro para “dominar o mundo” …