Sou daquele tempo em que o gazeteiro passava vendendo jornais pelas ruas de barro do Bairro dos Estados, na pacata João Pessoa da década de 1980. Mesmo pirralho, já gostava de jornal. Meus pais tinham o hábito de ler e, às vezes, compravam os três de uma vez só. “Jornal Correio, O Norte e A União” era o grito de guerra dos gazeteiros na rua e, ao ouvir, era o momento de correr até o portão e comprar a mais nova edição.
Naquela época, com 10, 11 anos, eu nem sonhava em ser jornalista ainda, eu queria mesmo era ser arquiteto, brincava de construir prédios com caixas de sapatos e de desenhar a fachada com folhas de papel ofício. Colava os desenhos no fundo das caixas e, assim, nascia mais uma obra.
Não sei exatamente por que gostava tanto de jornal, mas provavelmente deve ter alguma relação, mesmo que inconscientemente, com a história profissional do meu pai, José Wilson Teotonio, que foi diretor-administrativo do Correio da Paraíba e braço direito de Teotonio Neto, nosso primo, fundador e proprietário do jornal até a década de 1970. Naquele tempo, eram duas empresas, o jornal e a emissora de rádio.
Os anos se passaram, e outras influências também me levaram para outro caminho, distante da arquitetura. Naturalmente, meu caminho foi na direção das palavras, e não dos números. Gostava de ler, escrever e assistir aos telejornais. Aos 15 anos, comecei a escrever uma coluna sobre música no jornal Moçada que Agita, de Anchieta Maia, foi naquela época que decidi fazer jornalismo, escrevendo como amador. Meu primeiro editor foi o jornalista Walter Galvão, profissional de mão cheia, expressão comum naqueles tempos, usada para enaltecer os bons.
Em 1989 ou em 1990, não me lembro o ano exato, tive a audácia de fundar meu próprio jornal (amador, claro) com um grupo de amigos do colégio CA, onde estudávamos. Chamava-se Lado B, era voltado para música, teatro, cinema e literatura. Foi uma grande aventura, bancada pelos nossos pais, obviamente. O jornal tinha apenas quatro páginas, e o logotipo foi desenhado por um colega, estudante de arquitetura. E não por mim, vale ressaltar, eu já estava em outra praia.
O nosso empreendimento só durou uma edição, mas foi um grande aprendizado. Até me tornei notícia, ao ser entrevistado pelo jornalista Giovanni Meireles, do jornal A União. E até acabei me envolvendo numa polêmica com a banda de rock do filho do então governador Tarcísio Burity. Mas isso já é outra história.
Entrei na faculdade de jornalismo da UEPB em 1993, em Campina Grande, e antes de concluir, em 1995, criei uma das primeiras empresas de assessoria de imprensa da Paraíba, juntamente com Lula Carvalho, Max Leal, Wilbur Holmes e Rayner Holmes, todos universitários ainda. A Mundo Livre Comunicação foi outra grande escola. Nosso principal produto era fazer jornais institucionais para colégios de João Pessoa. Foram muitos, em um tempo em que o impresso tinha grande valor.
Terminei o curso de jornalismo em dezembro de 1996. No ano seguinte, tive a minha primeira experiência como jornalista profissional, na sucursal campinense do jornal Correio, comandada pelo amigo e professor Marcos Alfredo. Foi a grande escola, minha melhor escola. Ao lado do jornalista e fotógrafo Augusto Pessoa, foram aventuras inesquecíveis em reportagens especiais no meio do mato para as edições de domingo, sobretudo.
Passei pouco tempo no Correio, mas foi um período intenso. Quando o então repórter Max Leal decidiu sair de O Norte, me indicou para o chefe de redação, Joanildo Mendes, e assim voltei para João Pessoa e passei a trabalhar com outras feras do jornalismo paraibano. O Norte sempre foi jornal preferido. Mas meu vínculo e admiração pelo Correio sempre foram grandes. Patricia Teotonio, minha esposa, trabalhou muitos anos lá, foi para ela a grande escola, e muitos amigos ainda estavam lá.
Contei toda essa história não apenas porque adoro contar histórias. Contei para mostrar a importância do jornalismo impresso na minha vida, na minha formação e na minha inserção social. A minha, a sua, a nossa história, quando somadas, têm um papel ainda mais importante na sociedade. O jornalismo é um dos pilares da nossa história. E deve ser preservado e respeitado, mesmo quando erra.
Hoje, uma página importante da história da Paraíba, chega ao fim. A última edição do Correio enterra uma marca, um jornal, mas não enterra a história. São as pessoas que escrevem a história, não são as empresas, as máquinas, as rotativas, os computadores, as marcas. As pessoas não chegaram ao fim, vão recomeçar e escrever uma nova história. Desejo a todos os profissionais do Correio toda sorte do mundo, muita força e coragem para reescreverem suas histórias. E hão de conseguir.
Aproveito também este momento para me dirigir ao governador João Azevedo e ressaltar a importância do jornal A União, o único pulso que ainda pulsa no jornalismo impresso da Paraíba. Agora, principalmente, A União precisa se reinventar, precisa de independência; precisa, de uma vez por todas, deixar de ser porta-voz de governos e passar a ser porta-voz do público, da sociedade, da Paraíba e da nova história que começa hoje.