A literatura do século XIX foi um fator determinante para a configuração da linguagem cinematográfica. O estadunidense David Wark Griffith (1875-1948), considerado o pai da linguagem cinematográfica, nunca negou essa influência buscada, sobretudo, na tradição romanesca de Charles Dickens. No afã de alçar o cinema ao status de obra artística, a exemplo da literatura e o teatro, os cineastas vão adaptar romances da literatura burguesa clássica criando, assim, filmes mais longos e narrativos, com o dispositivo da “montagem invisível” que marcaria todo o cinema clássico.
A narrativa cinematográfica se consolida a partir da década de 1910, tendo igualmente fatores extraliterários contribuindo para esse êxito, como a necessidade de uma crescente narrativização, ou seja, contar histórias para um público cada vez mais numeroso e diversificado, com a produção cinematográfica inserida num mercado de massas. A organização da produção de cinema, e também da sua exibição, nos moldes industriais (com a especialização de tarefas) tornou a máxima da indústria que, como outra qualquer, tinha a lucratividade como meta. Para tal, a moralização dos temas abordados e dos lugares de exibição estavam entre os meios a serem usados.
O cinema paraibano, do surgimento, nos anos 1920, com as incursões do nosso fotógrafo e cineasta pioneiro Walfredo Rodriguez, foi marcado até os anos 1990 pelo gênero documental, com raros ensaios na ficção. Esse quadro mudou na última década com a realização de várias obras ficcionais de curtas e, mais recentemente, de longas-metragens. O barateamento da produção, com o digital e os editais de cinema, explica parte dessa realidade. Nos anos 70 tivemos uma aventura no longa-metragem de ficção com ‘O salário da morte’ (Linduarte Noronha, 1970), baseado no conto “Fogo’de José Bezerra Filho. Em seguida, Machado Bittencourt produz ‘Maria Coragem’, em 1978, e ‘O Caso de Carlota’, em 1982. Só em 2005, um novo longa de ficção seria produzido: ‘Por 30 dinheiros’ dirigido por Vânia Perazzo e Ivan Llebarov.
A mostra de Cinema Paraibano do Centro Cultural Banco do Nordeste de Sousa com o tema “O cinema que vem da literatura” (de 27 a 30 deste mês) reúne 9 curtas-metragens baseados ou inspirados na literatura (contos, romance, cordel e poesias). Com produção e curadoria de Sérgio Silveira (Ensilveirado Cine), a mostra volta a ser presencial depois dos dois anos de pandemia. Para refletir e discutir sobre essas “relações perigosas”, a professora Sandra Luna, autora de livros que versam sobre o tema, fará palestra nesta quinta, 29, às 15h no CCBN. Autores como Geraldo Maciel (‘A poeira dos pequenos segredos’), W. J. Solha (‘A canga’), o cordelista Leandro de Barros (‘Sonhos de Leandro’), Antonio Carlos Viana (‘O meio do mundo’) inspiraram os curtas que serão exibidos e discutidos nesta mostra temática. O cinema também como um excelente difusor da nossa literatura.
Filmes da Mostra
SONHOS DE LEANDRO. Direção de J. França
O POETA DO PAJEÚ. Direção de Jean Philippe e Deleon Souto
NAMORO DE SIMPATIA. Direção de Fabi Melo
CAMARADAS. Direção de Carlos Mosca
O LOBISOMEM DA PARAÍBA. Direção de Sílvio Toledo
NO OCO DO TEMPO. Direção de Antônio Fargoni
A POEIRA DOS PEQUENOS SEGREDOS. Direção de Bertrand Lira
O MEIO DO MUNDO. Direção de Marcus Vilar.
A CANGA. Direção de Marcus Vilar