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‘O baile dos bombeiros’ seria uma alegoria perfeita do Brasil bolsonarista

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Com o fechamento das salas de cinema, as plataformas de cinema nos salvaram nessa pandemia. Algumas delas abrigam uma mina de preciosidades da produção cinematográfica de todo o mundo. Longe dos grandes centros, dificilmente os cinéfilos e estudiosos de cinema no país teriam acesso a essas obras-primas, como ‘O baile dos bombeiros (1967), do tcheco Milos Forman. Os serviços de streaming vieram democratizar esse acesso e se tornaram imprescindíveis, num cenário de pandemia ou não. As salas de projeção, claro, não vão desaparecer. É chover no molhado dizer que nada substitui a experiência imersiva numa sala escura de cinema. O cinema em casa, todavia, também tem suas vantagens.

O número de plataformas de streaming no país só cresce oferecendo um cardápio amplo e diversificado. Vou me ater aqui ao Petra Belas Artes à La Carte que está oferecendo a preço módico (R$ 9,90 mensal) um cardápio de filmes cults de diversos países e épocas. Só para dar uma ideia do menu oferecido pelo à La Carte – e aqui estou fazendo publicidade espontânea –, o assinante  pode conferir os clássicos ‘Era uma vez em Tóquio’ (1953), de Yazujiro Ozu; ‘A Caixa de Pandora’ (1929), de Georg W. Pabst; ‘A faca na água’ (1962), de Roman Polanski; o noir ‘Os assassinos’ (1946), de Robert Siodmak; ‘A aventura’ (1960), de Michelangelo Antonioni, entre outros.

Além desses clássicos e cults, a plataforma oferece filmes recém-lançados como o tunisiano o ‘O homem que vendeu sua pele’ (2020), de Kaouther Ben Hania; ‘Os melhores anos de uma vida (2019), de Claude Lelouch – sobre os quais discorri nesta coluna; ‘Meu pai’ (2020), de Florian Zeller, e ‘Partida’ (2019), de Caco Ciocler, premiado na 14ª edição do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro em 2019. Os filmes recém-lançados na plataforma não estão inclusos no pacote do assinante que devem pagar para desfrutá-los no prazo de 72 horas a preços que variam de 4,90 a 24,90 reais. 

Navegando pelo menu do streaming, me deparei com ‘O baile dos bombeiros’ (Horí Má Panenko, 1967), uma ácida e deliciosa comédia do tcheco Milos Forman, seu primeiro filme rodado em cores numa Tchecoslováquia sob uma ditadura comunista, mas em busca urgente pela democratização do país com as propostas de um “socialismo humanizado”, sob a liderança de Alexander Dubček. A “Primavera de Praga”, como ficou conhecida essa mobilização popular, foi abortada, em 1968, pela Operação Danúbio, invasão de tropas de cinco países do Pacto de Varsóvia com a União Soviética à frente comandando a Alemanha Oriental, a Bulgária, a Hungria e a Polônia.

Milos Forman é o diretor de obras mundialmente conhecidas a partir do seu exílio em 1968 para os EUA: ‘Um estranho no ninho’ (1975), ‘Hair’ (1979), ‘Amadeus’ (1984), ‘Valmon – uma história de seduções (1989), ‘O povo contra Larry Flint’ (1996), entre outros. Para se ter uma idéia da importância do cineasta e roteirista tcheco, Forman foi agraciado em 1976, 1985 e 1997 pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles com o Oscar de Melhor Diretor, e mais diversas láureas como a Palma de Ouro em Cannes, o Globo de Ouro, o César, o BAFTA, entre outros.

Proibido na Tchecoslováquia um ano depois de lançado, ‘O baile dos bombeiros’ foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1969 e narra a preparação e a festa em homenagem ao patrono da corporação, um senhor idoso e em estado terminal, pelos seus colegas da instituição. Da cena inicial, quando os bombeiros discutem o presente a ser dado ao homenageado, passando pelos preparativos da festa e a sua realização, tudo é pura sátira e deboche. O comitê de organização da festa reúne um grupo de patetas com idéias e comportamentos esdrúxulos. O auge da patifaria se dá com um concurso de misses pensado por eles para abrilhantar a festa. 

A arteirice se dá igualmente em pequenas trapaças por aqueles que deveriam zelar pela moral e bons costumes da corporação. ‘O baile dos bombeiros’ foi censurado com o fim da Primavera de Praga certamente porque os déspotas de plantão reconheceram no filme de Forman uma alegoria (satírica) do regime totalitário e burocrático tcheco. Seus personagens cômicos, engendrados de forma estereotipada, fazem desse baile uma farsa extremamente divertida se não atentarmos para a tragédia vivida pelo povo tcheco naquele momento triste da sua história. Poderia perfeitamente ser uma sátira atenuada do Brasil de Bolsonaro. Uma curiosidade: o filme está entre os ‘1001 filmes que você dever ver antes de morrer’, best-seller de Steve Schneider.

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