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Número de investidores com mais de R$ 1 mi na poupança cresce 160%

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Nos últimos anos, auxiliado pela escalada nos preços dos imóveis e pela alta dos aluguéis, o carioca Maurício Kudrevich, de 50 anos, multiplicou sua renda e a herança de 30 apartamentos para uma coleção de mais de 200 unidades, a maioria localizada em Niterói. A ousadia nos negócios, no entanto, não se reflete nos investimentos financeiros. Entre a venda de imóveis e a compra de outras unidades, ele mantém, em caráter permanente, milhões de reais na caderneta de poupança. Maurício não sabia, mas faz parte de um grupo seleto, que cresce a passos largos: o de poupadores com mais de R$ 1 milhão na mais popular e antiga das aplicações financeiras do país.

O total de milionários da poupança, segundo dados do Banco Central (BC), chegou a 10.145 pessoas em 2013. O número representa um crescimento de 160% em relação a junho de 2008, pouco antes da eclosão da crise financeira internacional, quando havia 3.914 pessoas com ao menos R$ 1 milhão aplicado na caderneta. Essa “ala vip" corresponde a apenas 0,01% do universo total de poupadores, em torno de 112 milhões de pessoas. Mas sua fortuna somada chegou a R$ 36,2 bilhões no fim de julho, fatia equivalente a 7% de todos os recursos dos brasileiros guardados na aplicação.

Para ilustrar a montanha de dinheiro, se essa elite da poupança se reunisse para investir em conjunto, seus R$ 36 bilhões seriam suficientes para construir o trem-bala ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Sozinhos, eles poderiam resolver o problema de logística do escoamento da safra agrícola da região Centro-Oeste, que requer R$ 36 bilhões em obras, segundo estimativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Gato escaldado

O conservadorismo é a principal explicação para a presença de pessoas com grande volume de recursos na caderneta de poupança. Segundo especialistas, investidores deste porte, em geral, escolhem alternativas mais rentáveis — e um pouco mais arriscadas — como ações, fundos de renda fixa e Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Nesse caso, porém, a aversão a risco não é apenas inclinação pessoal. Os milionários da poupança são, principalmente, pessoas mais velhas, que ainda guardam na lembrança os percalços vividos antes da estabilização da economia: hiperinflação, planos e crises em série. Segundo Álvaro Bandeira, diretor da Órama Investimentos, os poupadores da caderneta viveram nos anos 1980, por exemplo, um movimento chamado de “ilusão monetária".

— As pessoas olhavam o resultado da caderneta de poupança e ficavam felizes com a correção de 10% por mês. Se tinham o que seria hoje R$ 1 milhão, a correção monetária fazia o dinheiro subir em um mês para R$ 1,1 milhão. Só que, com a inflação, na prática, o poder de compra do dinheiro tinha encolhido — diz Bandeira.

Há também os que se arriscam e se arrependem. Maurício, que pediu para ter seu nome real preservado por razões de segurança e cautela, se declara um conservador, mas nem sempre foi assim. Até a crise de 2008, ele investia em ações. Na década de 1980, tinha em carteira papéis da Mesbla e do estaleiro Verolme, que se revelaram dois “micos” do mercado: as empresas foram à bancarrota. Mesmo perdendo dinheiro durante o 11 de Setembro, o teste de fogo para sua resistência foi em setembro de 2008:

— Perdi US$ 500 mil naquela crise. Tinha US$ 2 milhões aplicados. Perdi também nos fundos de investimentos. Esse foi o fim para mim. Saquei o que tenho e coloquei tudo na poupança. Hoje sou um conservador de imóveis e poupança — afirma o poupador que, mesmo na caderneta, prefere manter sempre um dos pés atrás. — O fato é que a poupança é o lugar mais seguro a curto prazo. Mas, a longo prazo, claro, só Deus sabe.

Essa foi também a experiência de Margarida Babo (nome fictício). Ela ficou rica após criar uma empresa de bufê, que atende grandes empresas e fábricas em São Paulo. A empresária passou a vida investindo na caderneta de poupança. No fim do ano passado, após muita insistência do marido, Margarida aceitou aplicar em um plano de previdência que investe em fundos de inflação (rendem juros mais o IPCA). Em 2012, a aplicação rendeu 21,71%, mas no ano passado, com o ciclo de alta da Selic, as perdas chegaram a 3,12%. A empresária não pensou duas vezes e agiu como a maioria diante dos primeiros resultados negativos: sacou todo o dinheiro, pagou a alíquota mais elevada de Imposto de Renda, e devolveu cada centavo para sua agência bancária.

Bons profissionais, decisões ruins

Segundo Sinara Polycarpo, superintendente de investimentos do Santander Brasil, há clientes que são excelentes profissionais em suas áreas: têm lucidez empresarial, visão de marketing, capacidade de gerenciamento de pessoas. E, por isso, ficaram ricos em suas atividades profissionais. Isso não significa, no entanto, que saibam tomar as melhores decisões de investimentos financeiros.

— São profissionais que ganharam dinheiro com seu trabalho e não querem colocar seu capital em risco. Muitos são também gatos escaldados, que tiveram experiências ruins em outras aplicações. Mas, como a poupança rende um pouco acima de 6% ao ano, eles basicamente conseguem proteger o dinheiro da inflação, não fazem o poder de compra crescer —explica Sinara, que defende a educação financeira como uma forma de contornar a questão.

Dinheiro de sobra

Entre os grandes poupadores da caderneta há também os que simplesmente mantêm R$ 1 milhão na poupança porque têm ainda mais dinheiro em outras aplicações. Outro fator que explica o aumento do grupo é a valorização dos preços de imóveis: quem vende um apartamento, antes de escolher uma aplicação mais rentável, mantém os recursos aplicados na poupança até decidir o novo destino.

Mesmo entre os que têm o sofisticado atendimento do segmento de private banking, há quem aposte na poupança.

— Quando as coisas nos mercados não vão muito bem, as pessoas tendem a ter um comportamento mais conservador. Sacam recursos. Dos clientes “private”, poucos buscam a poupança. É uma minoria, mas existe — diz Yves Cardoso Fidalgo Junior, gerente executivo da Unidade Private Bank do Banco do Brasil, segmento da instituição dedicada a clientes com mais de R$ 2 milhões disponíveis para investimentos.

O professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo Samy Dana diz que pode ser má ideia deixar mais de R$ 1 milhão aplicado na poupança. A caderneta rende atualmente 0,5% ao mês mais a TR, que está em 0,04% mensal. O dinheiro aplicado vai render, portanto, R$ 66 mil nos próximos 12 meses. Esses mesmos recursos aplicados em um CDB que remunere 102% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) renderia R$ 84 mil mesmo após o pagamento de imposto de renda. Já num fundo de renda fixa com taxa de administração de 0,4% ao ano, o retorno seria de R$ 79 mil após pagamento de impostos. E nas aplicações LCI e LCA, o ganho chegaria a R$ 85 mil caso elas remunerem o investidor em 95% do CDI.


O Globo

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