Sentado na poltrona 1D, estrategicamente posicionada na primeira fileira da aeronave, com mais espaço para esticar as pernas, a inseparável bengala em mãos, um senhor de longos e encaracolados cabelos e barba branca destaca-se no vôo 3704, da TAM, que decolou de São Paulo rumo a Brasília às 10h desta quinta-feira. Aposentado desde agosto de 2010, mas sem participar dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) desde junho, o gaúcho Eros Grau, de 70 anos, é cumprimentado por vários passageiros – que, provavelmente, têm o mesmo destino que ele: o plenário da corte, ocupado a partir de agora pelo substituto dele, o carioca Luiz Fux, de 57 anos.
“Não quero voltar para lá de jeito nenhum”, diz ao site de VEJA, durante o voo. Nada contra o tribunal onde ficou durante seis anos, até a aposentadoria compulsória. “O problema é a cidade. É muito seca. Volto para São Paulo hoje mesmo”, explica o ministro.
Longe dos julgamentos para lá de controversos que pautam o cotidiano da Suprema Corte, Eros Grau tem se dedicado à literatura. Vai lançar um novo livro. Nada a ver com o romance erótico “O Triângulo no Ponto”. Desta vez, o tema é Paris. “É bem diferente”, explica. O ministro aposentado diz que entregará o texto à editora após o carnaval. Outra ocupação a que se dedica, depois de deixar também de lecionar, é a confecção de pareceres jurídicos, sobre os quais prefere manter segredo.
Posse – Recepcionado com festa por servidores do Supremo no Aeroporto Juscelino Kubitschek, ele também comenta a chegada de Fux. Enaltece o fato de o novo ministro ser juiz de carreira, como o presidente da corte, Cezar Peluso.
Bem mais falante do que costumava ser no tribunal, conta que dizia aos colegas, em tom de brincadeira, que toda pessoa, ao entrar naquele plenário, deveria ficar dois anos aprendendo a julgar antes de julgar processos de fato. No caso de Fux, ele acha que o aprendizado não será necessário. “Não acho que todo mundo tem que ser juiz de carreira lá, mas isso facilita”, afirma.
Durante a posse, Eros Grau teve passagem discreta. Sentado na primeira fila – desta vez do plenário da Suprema Corte -, preferiu adotar uma postura observadora. Contou ter ficado emocionado ao rever os antigos servidores. E, bengala em mãos, deixou o local assim que a cerimônia acabou, sem dar entrevistas, rumo a São Paulo.
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