“Minha idade não me define” é o slogan de um movimento contra o etarismo que está se espalhando pelas redes sociais. Idealizada pela jornalista Carla Leirner (que tem 58 anos e é uma ativista da maturidade) e sua mãe, a psicanalista Sylvia Loeb (de 77 anos), o projeto começou com mulheres, a partir do perfil “Escritora no divã” no Instagram (@escritora_no_diva_oficial), mas não está restrito a esse gênero. Inclusive, os homens estão convidados a entrar nessa ciranda também.
Ao provocar questionamentos e reflexões sobre os desafios do envelhecimento, o movimento “Minha idade não me define” tem levado muita gente a mostrar seu valor, por meio de sua identidade e do trabalho que realiza, e também a compartilhar vivências sobre a maturidade.
No perfil “Escritora no divã”, uma camiseta do projeto “Minha idade não me define” está à venda para quem quiser, literalmente, vestir a camisa do movimento. Algumas personalidades já embarcaram na proposta, como a jornalista Ana Paula Padrão, a escritora Cris Guerra e a consultora Fran Winandy.
Em postagem no Instagram, Ana Paula Padrão revela que ninguém, em nenhuma circunstância, a definiu. “Ninguém manda em mim e não será a idade que vai mudar isso. Quem me define sou eu: meus desejos, minha coragem, meus medos, minhas inseguranças e o imenso amor que tenho por mim mesma. Tenho 56 anos e muitas vidas ainda nessa vida”.
Também integrada ao movimento contra o etarismo, a escritora e palestrante Leila Rodrigues lembra que não é um número no RG que atesta se uma pessoa está hábil ou não para encarar algum desafio.
“Quem vai dizer se eu estou apta para isso ou aquilo é a minha competência, a minha condição física, o meu caráter, a minha saúde e a minha disposição e não um número chapado nas páginas amareladas da minha carteira de identidade. Então parem de nos classificar como mercadorias vencidas! E ainda que as estatísticas provem o contrário, estamos falando de seres humanos e seres humanos carregam em si a incrível capacidade de bagunçar as estatísticas”.
Reli os relatos acima no Instagram enquanto escrevia esta coluna. Sim, são relatos inspiradores. Mas que também me deixam inquieta e reflexiva ao ver tantos colegas jornalistas, aqui e em outras regiões do Brasil, sendo demitidos porque estão mais velhos. A experiência, tão valiosa, é colocada no lixo! A memória de toda uma geração é jogada para escanteio. Com facilidade, grande facilidade, trocam um profissional acima dos 40 anos de idade por dois estagiários.
Não tenho nada contra estagiários, é bom avisar logo. E tenho certeza de que o diálogo entre as gerações é essencial. Mentes de diferentes idades, e empresas de áreas diversas, têm muito a ganhar quando jovens e profissionais 40, 50, 60 + atuam juntos.
O jornal A União é um exemplo dessa sinergia gostosa: aqui há espaço para quem está com a bateria tinindo de nova e para quem tem a quilometragem mais rodada na arte de escrever ou editar. Tem Sara que dialoga com Zé Alves, tem Gi que troca ideias com William, tem Juliana que aprende com Gisa, tem Cananéa que bate bola com Naná. Dez anos a menos, trinta anos a mais, não importa! Nessa matemática, o resultado será sempre positivo. Quando se aposta na diversidade — e não apenas na pouca idade —, o ganho é certo.
“Em verdade, se a velhice não está incumbida das mesmas tarefas que a juventude, seguramente ela faz mais e melhor. Não são nem a força, nem a agilidade física, nem a rapidez que autorizam as grandes façanhas; são outras qualidades, como a sabedoria, a clarividência, o discernimento. “Qualidades das quais a velhice não só não está privada, mas, ao contrário, pode muito especialmente se valer”. E quem diz isso não sou eu, mas Cícero, uma das vozes mais importantes do mundo jurídico e da literatura latina.