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“Mank” narra a gênese de um dos filmes mais importantes da história do cinema

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Herman Mankiewicz é um nome singular na história do cinema. Ele é o autor do roteiro do nada mais, nada menos Cidadão Kane (1942), o filme que catapultou o diretor Orson Welles (1915-1985) à galeria dos gênios do cinema, mas também ao status de azarão da indústria cinematográfica estadunidense. Só nos anos sessenta, é que Cidadão Kane é mencionado como um filme à frente do seu tempo e começa a ser citado em todas as listas, sem exceção, como um dos dez filmes mais importantes do mundo. Mank (2020, 2h12), dirigido por David Fincher, disseca os bastidores da escrita do roteiro e dos quiproquós da política dos estúdios hollywoodianos.

Cidadão Kane, indicado para nove das principais categorias do Oscar de 1942, recebeu apenas o troféu de roteiro original. Desta vez, Mank é o filme que concorre ao maior número indicações na premiação deste ano (filme, direção, ator, atriz coadjuvante, fotografia, trilha sonora original, som, figurino, cabelo e maquiagem, e design de produção). Ironicamente, um filme que trata de roteiro não foi indicado para esta categoria. Uma curiosidade é que o roteiro de Mank foi escrito por Jack Fincher, pai do diretor, nos anos de 1990, e permaneceu no limbo por 30 anos até ser desengavetado pela Netflix. 

O enredo de Mank tem início com a chegada de Herman Mankiewicz, carinhosamente apelidado de Mank (Gary Oldman), a um belo rancho na Califórnia para escrever, com um prazo apertado de 90 dias, o roteiro do filme Cidadão Kane. Duas mulheres vão lhe dar o apoio necessário. Uma enfermeira alemã, Fraulein Freda (Monika Gossman) é a responsável pelo bem-estar físico de Mank, que acaba de sofrer um acidente de carro e está imobilizado, e a copista Rita Alexander (Lily Colins) para quem Mank dita o roteiro. Alcóolatra, Mank é enganado de início com um caixa de bebidas que chega “secretamente” com sua bagagem. Na realidade, trata-se de soníferos para que ele durma a noite inteira e produza durante o dia. Resultado: a escrita do roteiro não deslancha, pois Mank é notívago.

Mank é um filme sobre cinema e usa a metalinguagem para homenageá-lo, não só no tema, mas na forma que introduz as cenas em flashback – com o cabeçalho do roteiro surgindo na tela – como também nas referências estéticas e narrativas ao filme de Welles. A estrutura narrativa é toda construída em flashbacks, como em Cidadão Kane. A partir da chegada do protagonista ao rancho, o filme volta ao passado diversas vezes para nos apresentar a jornada do autor até o final da escrita do roteiro e o momento em que ele fala do Oscar recebido pelo seu trabalho. Nem Welles e nem Mankievicz estavam presentes na cerimônia do Oscar daquele ano. Welles estava no Brasil filmando É Tudo Verdade.

Mesmo com tantas indicações ao grande reconhecimento do cinema, Mank não parece ser um filme para o grande público, mas faz a alegria dos cinéfilos, fãs de carteirinha de Cidadão Kane. Os bastidores da peleja entre os estúdios da RKO e o magnata das comunicações William Randolph Hearst, retratado sem meias tintas no filme de Welles, já havia sido abordado no documentário A Batalha por Cidadão Kane (1996), dirigido por Michael Epstein e Thomas Lennon, e lançado no Brasil num DVD duplo da Warner acompanhando Cidadão Kane remasterizado. 

Na ficção de Fincher, conhecemos os bastidores de Hollywood e o envolvimento escancarado das majors com a política conservadora do partido republicano, mas o foco, como vimos, é o processo de escrita de um filme baseado na vida de um personagem real, W. R Hearst, cujo poder de pressão sobre os estúdios iria prejudicar sensivelmente o êxito comercial do filme Cidadão Kane e a carreira de Orson Welles. É um filme que discute também questões éticas. Mankievicz era do círculo íntimo de Hearst e da sua segunda mulher, a atriz de talento mediano Marion Davies (Amanda Seyfried, indicada a melhor atriz coadjuvante) que Hearst, com seu poderio econômico, faz os estúdios engolir. O diálogo decisivo e final entre Marion e Mank é revelador.

A fotografia em preto e branco de Erik Messerschmidt busca reverenciar, de certa forma, Greg Tolland, o diretor de fotografia que materializou a jornada de Charles Forster Kane com um chiaroscuro fabuloso. Não que nas imagens de Mank o forte seja o contraste entre luz e sombra expressionista herdado pelos estúdios estadunidenses, sobremaneira no cinema noir das décadas de 1940-50, mas, a luz em profusão de muitas cenas, remetem a momentos extraordinários de iluminação no filme de Welles, como a memorável cena em que Thompson lê as memórias de Thatcher na biblioteca. Em Mank, esse tipo de iluminação acontece com frequência no interior da casa do rancho e na catedral onde se dá o velório de Shelly Metcale (Jamie McShane), o roteirista cheio de culpas que tirou a vida por roteirizar filmes mentirosos para a campanha republicana na Califórnia. 

A semelhança narrativa entre o filme de Welles e o de Fincher está no recurso a diversos flashbacks. Enquanto Mank/Welles usa cinco narradores-personagens para revirar o passado de Kane sob múltiplos pontos de vista, Fincher outorga ao protagonista Mankievicz a tarefa de contar a história da origem de Cidadão Kane. A ousadia política e estética de Herman Mankievicz e Orson Welles lhes custou muito caro. Os papeis timbrados do estúdio RKO, que arquivou as cópias do filme, passaram a ostentar o slogan “Espetáculo em vez e genialidade”. Welles perdeu o controle criativo sobre os filmes que viria a realizar posteriormente, a exemplo de Soberba (1942), finalizado sem a sua intervenção. Mas o legado de Welles é eterno. Diz-se que no embate entre Welles (25 anos) e Hearst (76), Welles venceu porque as imagens legadas pelo talento do cineasta duram mais do que as realizações do magnata.

Sobre o diretor

David Fincher, 58 anos, trabalhou para a Light & Magic de George Lucas, onde se engajou no departamento de efeitos especiais; acumulou experiência também no domínio da publicidade televisiva e direção de videoclipes para Madonna, Michael Jackson, Sting e para a lendária banda Rolling Stones. Como diretor de longas-metragens, tem sua estreia atribulada em Aliens 3 (1992), substituindo Vincent Ward. Decepcionado, Fincher se dedica mais uma vez à direção de videoclipes, mas volta ao cinema com o convite para dirigir Seven: Os sete crimes capitais (1995), êxito de crítica e público, chamando a atenção dos estúdios.  O caminho está aberto e Fincher segue trilhando contumaz dirigindo Vidas em Jogo (1997), Clube da Luta (1999), O curioso caso de Benjamin Button (2009) e Garota Exemplar (2014). Fincher foi também o diretor dos primeiros episódios da exitosa série House of Cards, imprimindo seu estilo visual nos demais episódios mesmo quando já havia deixado o projeto.

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