Por Bertrand Lira
A premiação do 51° Festival de Cinema de Gramado encerrado neste sábado, 19, aconteceu, pelo menos publicamente, sem celeumas. E, de certa forma, previsível. O forte concorrente à Melhor Filme e Direção, pela qualidade artística impressa nas suas imagens e sons era ‘Mais pesado é o céu’ do premiado diretor cearense Petrus Cariry que foi agraciado com os Kikitos de Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Montagem (dividido com Firmino Holanda) e Prêmio Especial do Júri para a atriz Ana Luiza Rios. No entanto, o vencedor de Melhor Filme foi ‘Mussum, o filmis’, estreia de Sílvio Guindane na direção de longa-metragem.
Com oito filmes de longa-metragem na função de diretor, não foi nenhuma surpresa a premiação em Gramado nas categorias de Direção, Fotografia e Montagem, funções que Petrus tem exercido de forma notável em obras de outros diretores, a exemplo do seu pai Rosemberg Cariry. Aliás, a cooperação familiar é uma marca dos Cariry: a sua irmã Bárbara assina a produção executiva dos filmes de Petrus e de Rosemberg. O diretor prioriza em seus filmes, na maioria das vezes, atrizes e atores nordestinos, e a Paraíba tem sido alvo dessa preferência: Verônica Cavalcanti, Nanego Lira e Everaldo Pontes já performaram seus filmes, de forte estilo autoral.
O elenco paraibano de “ Mais pesado é o céu’ tem Buda Lira e a atriz e diretora trans Danny Barbosa. Buda Lira faz um caminhoneiro que transporta gado e encontra Antônio (Matheus Naschtergaele) com quem troca a carona por trabalho. Já Danny Barbosa interpreta Letícia, uma trabalhadora numa loja de conveniência de um Posto de Gasolina à beira de uma estrada. Tanto ela quanto Buda atuaram em ‘Bacurau’, de Kléber Mendonça Filho.
Outro grande vencedor no Festival de Cinema de Gramado deste ano foi ‘Mussum, o filmis’, de Sílvio Guindane, diretor negro que incluiu vários atores e atrizes negras no elenco, a exemplo de Ailton Graça como Mussum (Melhor Ator), Cacau Protásio como a mãe do protagonista jovem e a veterana Neusa Amaral (Melhor Atriz Coadjuvante), como a mãe de Mussum na segunda fase. Essa inclusão se deu não só pela necessidade da narrativa calcada em uma história real, mas também por uma política de afirmação defendida por Guindane, já que a equipe técnica traz igualmente pessoas pretas. ‘Mussum, o filmis’ recebeu seis prêmios no total, além de Melhor Filme e Ator, o de Melhor Filme do Júri Popular, Melhor Trilha Musical (Max de Castro), Ator Coadjuvante (Yuri Marçal) e Menção Honrosa (Martin Macias Trujillo).
Ao agradecer o prêmio de Melhor Ator em Gramado, certamente por excesso de felicidade, Ailton Graça declarou que jamais havia recebido um prêmio, o que não corresponde à verdade. O ator já foi indicado a vários prêmios e foi vencedor em alguns como o de Melhor Ator Coadjuvante no Festival Internacional de Cartagena (Colômbia) e Prêmio Guarani do Cinema Brasileiro, ambos por ‘Carandiru’. E não foram poucas as indicações para Ailton Graça, como ator revelação e coadjuvante em filmes como ‘Meu tio matou um cara’, ‘Contra todos’, ‘Cama de Gato’, ‘Bróder’, ‘O pai de Rita’, M8 – quando a morte socorre a vida’ e papeis na televisão.
Confira a premiação de longas-metragens no site do festival