Cláudia Carvalho

Cláudia Carvalho é editora e diretora do ParlamentoPB, jornalista e radialista, mestre em Jornalismo Profissional pela UFPB
Cláudia Carvalho

Karol Conká, superexposição e suicídio de reputação

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O Big Brother Brasil 21 tem sido considerado como o maior de todos. Pela audiência, com pico de 7 millhões (comparável a um jogo da Copa do Mundo), e pela arrecadação recorde do programa que chegou a ter fila de anunciantes e um faturamento estimado de R$ 552 milhões. Numa época de crise econômica intensa, é um fenômeno.

Esta versão, apesar de não ter sido a primeira a incluir famosos e anônimos, realçou como nunca que para as celebridades é um contrato de alto risco. Que o diga a rapper paranaense Karol Conká, que deixou a casa do BBB com a maior rejeição da história do programa, 99,17%, depois de se indispor com alguns brothers e sisters destilando preconceito, xenofobia e uma considerável dose de arrogância.

Tanto quanto o prêmio de R$ 1,5 milhão, a exposição massiva atrai o interesse de todos. Mas, é aquela velha estória. Para quem tem pouco ou nada, o que vier é lucro. Mas, para aqueles que entram no BBB com alguns milhões de seguidores e querem catapultar suas redes para aumentar a relevância, é bom pensar duas vezes. O perigo do “cancelamento”, um boicote gerado como reação a um comportamento indesejado, tem efeitos práticos muito além do dano psicológico que a rejeição normalmente causa. Karol perdeu shows, contratos, milhões de seguidores e conseguiu arranhar em poucas semanas a imagem de mulher empoderada, detentora de sororidade e empatia construída ao longo de sua vida e carreira. Foi praticamente um suicídio de reputação, já que a moça entrou no programa sabendo do modelo de superexposição ao qual estaria se submetendo. Bancou o risco, mas não percebeu quando deixou para trás os limites. A culpa pelos erros é dela, que terá que amargar as consequências práticas da petulância.

Agora, vamos às variáveis. Os elementos que não estavam sob o controle de Karol.

O Brasil vive um confinamento compulsório desde março do ano passado. Já que temos que ficar em casa, a ideia é recorrer ao entretenimento seguro oferecido pelos serviços de streaming ou mesmo pela TV aberta. Neste segmento, o BBB encontrou um cenário peculiar. Sendo um confinamento dentro de outro, bem maior, encontrou um público exausto de pandemia e mais sensível ao ódio que se instalou sem o pudor habitual nesta terra desde 2018.

Karol, que protagonizou boa parte das maiores confusões, atraiu para si uma onda de ódio que mobilizou o país. Surfando nela, várias marcas ofereceram promoções nas redes sociais incentivando o público a apostar com que percentual a cantora deixaria o programa. Até a apresentadora do Mais Você, Ana Maria Braga fez piada e disse que não iria trabalhar na quarta-feira (24) para não ter que entrevistar Karol. O programa é obrigatório para todos que deixam “a casa mais vigiada do Brasil”.

Karol entrou no BBB com muitos fãs e saiu com milhões de haters.

O humorista Rafael Infante comparou o programa a um coliseu romano revisitado. Só que no mundo contemporâneo, o perigo maior está do lado de fora. Além da rejeição, existe o risco de dano físico real, as ameaças e a possibilidade de ter que conviver com uma hostilidade exacerbada.

E foi prevendo um desfecho trágico que Anitta e Neymar se anteciparam à saída de Karol e pediram respeito para com Karol. Pontuaram o fim de um pequeno drama contemporâneo. É apenas um programa de TV, mesmo que crie um fenômeno gigante da comunicação de massa.

Conká já saiu e a catarse nacional já pode ser desfeita. Vamos voltar à vida normal e deixar a moça tocar a dela.

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