Justiça atende MP e condena Estado a interditar e reformar Cadeia Pública de Sousa

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

O Juízo da 4ª Vara Mista de Sousa julgou parcialmente procedentes os pedidos do Ministério Público Estadual (MPPB) e condenou o Estado da Paraíba a adotar providências para sanar as irregularidades estruturais e sanitárias na Cadeia Pública e na Colônia Agrícola de Sousa. Foi determinada a interdição da cadeia, tendo em vista a absoluta impossibilidade de funcionamento do estabelecimento, com a transferência dos presos em regime semiaberto e aberto para a Colônia Penal Agrícola. A medida visa proteger a integridade física e psíquica dos internos e dos servidores que atuam na unidade prisional.

A sentença foi proferida pelo juiz Agílio Tomaz Marques, no julgamento de mérito da Ação Civil Pública 0802611-23.2018.8.15.0371, proposta pelo 17° promotor de Justiça de João Pessoa, Ricardo José de Medeiros e Silva, que atua na tutela coletiva do sistema prisional e direitos humanos na Paraíba.

Além da interdição da cadeia com a transferência dos presos, o juiz estabeleceu prazos para que o Estado realize reformas e adequações nas duas unidades prisionais. Na Cadeia Pública, as reformas devem ser concluídas até 31 de dezembro de 2025, enquanto na Colônia Penal Agrícola, o prazo é até 31 de dezembro de 2026. As intervenções incluem a substituição da instalação elétrica, adequações sanitárias e estruturais, e melhorias na segurança dos estabelecimentos. Em caso de descumprimento, será aplicada multa diária de R$ 10 mil e adotadas as medidas cabíveis para assegurar o cumprimento da ordem judicial.

Alguns pedidos feitos pelo MPPB, entre eles o de condenação do Estado ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, foram julgados improcedentes e por isso, o promotor de Justiça está estudando a viabilidade de interpor recurso de apelação, para aprimoramento da sentença em segunda instância. “Penso que o dano moral coletivo, nestes casos, não pode ficar de fora do arcabouço da responsabilidade do Estado de assegurar, perante aquela parcela da população – os apenados -, a ressocialização com dignidade”, afirmou.

Irregularidades

A ação de obrigação de fazer é um desdobramento dos inquéritos civis 002.2016.008767 e 002.2017.012527, instaurados em outubro de 2016 e julho de 2017, respectivamente, para averiguar as condições de funcionamento da Cadeia Pública e da Colônia Penal Agrícola de Sousa. Várias diligências foram realizadas, incluindo inspeções feitas pelo MPPB e Corpo de Bombeiros, tendo sido constatadas diversas irregularidades sanitárias e estruturais, a escassez de segurança e violações à Lei de Execução Penal (LEP).

Na Cadeia Pública, foram encontrados problemas como fiação elétrica exposta e infiltrações que podem resultar, a qualquer momento, em incêndio. “Os apenados também relataram que, durante as chuvas, devido às infiltrações, as grades das celas conduzem corrente elétrica e dão choques, o que também é muito preocupante, ante a possibilidade de algum detento ou agente penitenciário vir a ser eletrocutado”, disse o promotor de Justiça.

O relatório do Corpo de Bombeiros também informou que a unidade prisional não possui certificado de aprovação para funcionamento, projeto de combate a incêndio, extintores e sinalização de emergência.

Ausência de assistência jurídica, de comissão técnica de classificação (para promover a adequada separação dos presos), banheiros entupidos, deficiência na higiene das celas e alimentação precária também foram facilmente identificados pelo MPPB, na inspeção realizada em julho de 2017.

O promotor de Justiça informou ainda que a Cadeia Pública, que deveria ser destinada a receber presos provisórios, funciona, atualmente, como albergue e colônia penal agrícola, abrigando presos e presas dos regimes aberto e semiaberto.

Já na Colônia Penal Agrícola o principal e mais grave problema encontrado foi que todos os 284 detentos, à época da inspeção, eram do regime fechado ou presos provisórios; nenhum do regime semiaberto. “A estrutura delineada para abrigar uma colônia agrícola é absolutamente inapropriada para receber presos de média e de alta periculosidade. A falta de segurança é evidente não somente diante desse fato, mas também do baixo número de agentes penitenciários prestando serviços naquela unidade”, destacou o MPPB.

Também foram constatados problemas hidráulicos, sanitários e estruturais, além da ausência de atividades voltadas à assistência social, o que é fundamental para a reinserção dos detentos.

Inércia do Estado

O promotor de Justiça disse que diversos ofícios foram enviados à autoridades estaduais competentes para cientificá-las e regularizar a situação, sem que nenhuma providência fosse adotada, não restando outra alternativa, a não ser o ajuizamento da ação, cujo processo contou com a atuação da OAB-PB e da Defensoria Pública. Ambas as instituições opinaram pela procedência dos pedidos ministeriais.

Para o juiz Agílio Marques, ficou evidente, nos autos, a violação, pelo Estado da Paraíba, dos direitos fundamentais dos custodiados em Sousa. “Os relatórios, fotografias, inspeção in loco e os laudos do Corpo de Bombeiros apresentados em juízo comprovam as péssimas condições estruturais da Cadeia Pública e da Colônia Penal Agrícola, que colocam em risco tanto os presos quanto os agentes públicos que lá trabalham. Logo, a intervenção judicial no presente caso é não apenas possível, mas imprescindível para a proteção da dignidade da pessoa humana, amplamente resguardada por tratados internacionais, pela Constituição Federal e pela legislação infraconstitucional”, argumentou.

A Promotoria de Justiça acompanhará o cumprimento da sentença. “O MPPB, após vários anos aguardando uma resposta do Poder Judiciário em Sousa, alcançou êxito em mais uma  ação civil pública que visa garantir a melhoria das condições das unidades prisionais. Após muita luta e sempre evidenciando a necessidade e importância do tema, a decisão judicial reconheceu a gravidade das irregularidades estruturais, sanitárias e administrativas na Cadeia Pública e na Colônia Penal Agrícola, determinando a adoção de medidas imprescindíveis para assegurar a dignidade e a segurança dos detentos. A Promotoria continuará acompanhando o cumprimento das determinações judiciais e a implementação das reformas necessárias, visando à efetivação de um sistema prisional mais justo e humano. A atuação do MPPB é fundamental para a promoção de políticas públicas que assegurem a ressocialização dos detentos e a proteção da sociedade”, disse o promotor de Justiça.

Tags

Leia tudo sobre o tema e siga

MAIS LIDAS

Nova pesquisa aponta Domiciano empatado na liderança pela prefeitura em Bayeux

Eleição em Bayeux: Pesquisa atesta que Domiciano ultrapassa Tacyana

PF deflagra operação contra lavagem de dinheiro e apreende joias e cavalo avaliado em R$ 600 mil

Anteriores

Foragido há sete anos, homem é preso acusado de tentar matar esposa na Paraíba

Foragido há sete anos, homem é preso acusado de tentar matar esposa na Paraíba

ceu FOTO Pixabay

Paraíba tem alerta de baixa umidade em níveis de até 20%

Aeroporto Internacional do Galeão RJ FOTO daniel basil gov brasil

Polícia prende homem e mulher que levariam droga para o exterior

arvore queimada floresta FOTO Pixabay

Brasil concentra 71,9% das queimadas na América do Sul nas últimas 48h

presidente Agamenilde Dias TRE PB

Presidente do TRE-PB descarta convocação de tropas federais para João Pessoa

mega sena FOTO agencia brasil

Mega-Sena sorteia neste sábado prêmio acumulado em R$ 55 milhões

Oposição revela ameaça a coordenadora de campanha e cobra tropas federais

Oposição revela ameaça a coordenadora de campanha e cobra tropas federais

maos criança FOTO Pixabay

Quatro crianças são internadas após ingerirem veneno para rato em João Pessoa

Polícia Federal apreende produtos falsificados com passageiro no Aeroporto de Campina Grande

Polícia Federal apreende produtos falsificados com passageiro no Aeroporto de Campina Grande

UFCG 9

UFCG lança concurso com 151 vagas e salários de até R$ 5,5 mil