Quem são os jornalistas brasileiros hoje, quais suas condições de saúde e trabalho? Tais perguntas encontram respostas no relatório da pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro 2021, divulgado recentemente.
Construção coletiva que envolveu 17 pesquisadores voluntário de todo o País, o estudo foi liderado pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro/UFSC) e articulado nacionalmente pela Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão (RETIJ), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Ao todo, 7.029 jornalistas responderam ao questionário. Após uma etapa de saneamento, foram consideradas 6.650 respostas, de todas as unidades da federação e até do exterior.
Como o material é extenso, ainda não tive condições de ler todo o conteúdo disponível, mas algumas questões me chamam a atenção: metamorfose da profissão, precariedade de trabalho, qualidade de vida, redução do número de empregos. Algo que, empiricamente, muitos de nós já observávamos, mas que agora há dados concretos para comprovar. Na verdade, alguns dados presentes no estudo recém-divulgado já apareciam em outras pesquisas a que tive acesso, mas com abrangência menor.
Outras questões apresentadas, como a exigência do mercado por profissionais multitarefas (mas sem a devida correspondência salarial), eu também observei – mas num recorte bem menor – durante meu estudo sobre convergência jornalística e cultura profissional no Mestrado Profissional em Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba.
Conforme minha leitura preliminar do relatório, fica evidente a intensificação da exploração do trabalho via multifuncionalidade e a deterioração das condições de saúde dos profissionais. O relatório mostra que a maior parte dos jornalistas respondentes (66,2%) afirmou sentir estresse no trabalho; a quase totalidade desse grupo (65,9%) já teve o estresse diagnosticado; e 20,1% responderam que receberam o diagnóstico de algum transtorno mental relacionado ao trabalho. Mais: o consumo de antidepressivos foi indicado para 68,6% dos jornalistas que responderam à pesquisa; 80,1% deles já foi diagnosticado com algum sintoma de LER/DORT, sendo que um número expressivo (92,6%) já precisou pegar licença de trabalho por esses problemas de saúde.
Como era de se esperar, infelizmente, assédio moral e sexual também fazem parte do dia a dia dos jornalistas. O estudo mostra que o assédio moral no trabalho foi confirmado por 40,6% dos jornalistas respondentes e o assédio sexual apareceu em 11,1% das respostas. Em relação à violência no ambiente laboral, 32,7% afirmaram ter sofrido violência verbal no trabalho, enquanto 2,6% já foram agredidos/as fisicamente no trabalho ou em decorrência dele; além disso, outros 29,1% sofreram ataques ou ameaças virtuais em decorrência do seu trabalho.
Outro aspecto importante revelado pela pesquisa é que o jornalismo brasileiro paga pouco a profissionais de formação elevada (cá entre nós, paga pouco em geral). A renda mensal de 60% dos entrevistados é inferior a R$ 5,5 mil por mês e apenas 12% recebem acima de R$ 11 mil, dado que contrasta com a escolaridade identificada, pois 28,6% dos respondentes têm especialização e 14,7%, mestrado. Enfim, a pesquisa é extensa. Para saber mais sobre o tema, recomendo a leitura do relatório completo, que está disponível no site da UFSC (https://perfildojornalista.ufsc.br/).