O envolvimento em denúncias de corrupção ou mau uso do dinheiro público são os principais fatores que impulsionam a rejeição do eleitorado em relação a candidatos no país. A primeira rodada de pesquisas Ibope mostrou que os cinco políticos com maior índice de “não voto”, entre as 13 capitais com levantamentos já divulgados, sem considerar a margem de erro, estão na mira do Ministério Público, são vítimas de processo de impeachment ou têm ligações com famílias envolvidas nesses casos.
O recorde de rejeição a um nome é registrado no Rio, onde 57% dos entrevistados afirmam que não votariam de jeito nenhum no prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição. Ele é investigado no caso que apura um suposto “QG da Propina” na prefeitura, em que empresários fariam pagamentos em troca da quitação de débitos do município. Crivella tem ainda a gestão avaliada como ruim ou péssima por 66% dos cariocas.
O prefeito do Rio figura 14 pontos percentuais à frente do ex-governador da Paraíba e candidato à prefeitura de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), com 43%. Preso em dezembro de 2019 na Operação Calvário, ele é acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro público da saúde por meio de contratos com organizações sociais. Coutinho também chegou a usar uma tornozeleira eletrônica, retirada em agosto após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em seguida, aparece o candidato do MDB à prefeitura de Belém, José Priante, com 40%. Ele é primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), investigado por suspeitas de corrupção na Saúde.
Na sequência do ranking, vem a deputada federal Clarissa Garotinho, candidata no Rio, com 38%, filha do ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus — Garotinho já foi condenado por compra de votos e improbidade administrativa. Fecha o top 5 o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan (PSDB), com 37% — ele é alvo de um processo de impeachment pelo uso de R$ 3,1 milhões do Fundo Municipal de Saúde para pagar publicidade.
A redução da rejeição é um desafio para as campanhas nos quase 40 dias até o pleito. A campanha de rádio de televisão, que começa hoje, é vista como decisiva para diminuir o olhar negativo do eleitor, na avaliação de estrategistas. Tradicionalmente, toda eleição é feita com base numa comparação. E isso é mais intenso num segundo turno, quando há a escolha do “menos pior”. Por isso, tão importante quanto quem o eleitor mais apoia, é quem ele mais rejeita.
“A rejeição é um termômetro perigoso. Quando é maior do que a aceitação, pode indicar que, por mais que seja um bom candidato de primeiro turno, é inviável no segundo turno “, ressalta o cientista político Marco Antonio Carvalho, da FGV.
Em comum no topo do ranking de renegados, está também a associação desses políticos com gestões que possuem uma imagem negativa. Das oito capitais com candidatos à reeleição com pesquisas Ibope já divulgadas, em sete o maior índice de rejeição é do atual mandatário, considerando a margem de erro de cada levantamento.
A exceção ocorre em Florianópolis (SC), onde a ex-prefeita de Angela Amin (PP) aparece à frente do atual ocupante do cargo, Gean Loureiro (DEM). Angela tem 32% de rejeição, enquanto o adversário lidera as intenções de voto, com 44%.
Apesar de figurar no topo da rejeição em Belo Horizonte (16%) , o prefeito Alexandre Kalil (PSD) tem uma situação confortável, com o maior percentual de intenção de voto entre todas as capitais, de 58%. O resultado de “não voto” é igual ao de Cabo Xavier (PMB), que tem apenas 1% das intenções de voto.
As pesquisas do Ibope mostram que “ser honesto” é um dos principais atributos avaliados pelo eleitor para responder o que caracteriza um bom prefeito. No Rio, 67% afirmam que esta é a principal qualidade que buscam. Em Belo Horizonte, esse percentual é de 63%.
Aposta na propaganda
No caso de Crivella, a tentativa é correr contra o tempo para reverter esse cenário. Na comparação com 2016, quando foi eleito, o candidato do Republicanos já aparecia como mais rejeitado pelo carioca, mas com apenas com 35%, ao lado da deputada federal Jandira Feghali (PC do B). Hoje, com percentual acima de 50%, qualquer vitória num eventual segundo turno fica prejudicada, na avaliação de Carvalho.
— Espero que agora, com a propaganda eleitoral, eu tenha um espaço que não tive por não ter recursos. Vou ter 17 propagandas por dia. Nela, vou poder mostrar o que estou conversando com vocês — ressaltou o prefeito, em entrevista ao GLOBO, publicada ontem.
Nos bastidores da campanha de Priante, que tenta levar a campanha para o segundo turno contra Edmilson Rodrigues (PSOL), a expectativa é que a rejeição caia com as propagandas da TV.
Em João Pessoa, Ricardo Coutinho afirma que o percentual elevado não altera a campanha. Perguntado sobre os motivos da rejeição, ele aponta o descontentamento com sua gestão, aliança da mídia contra ele e “perseguição implacável do Ministério Público”:
— Essa rejeição estava presente em 2010 e 2014 (quando foi eleito e reeleito governador) e é própria de governos que buscam mudar as coisas. Vamos mostrar a realidade como era, o que transformamos e o que transformaremos.
O Globo