O Brasil é o campo de uma insensata briga de torcidas. Cada uma delas com sua narrativa preferida, enquanto o bom senso é deixado às margens do jogo. Parece que ninguém quer descobrir a verdade, quer ver apenas sua versão dos fatos ser vitoriosa. E dane-se a lógica.
De um lado, a revelação de mensagens secretas da Lava Jato indica uma possível série de ilegalidades e de condutas antiéticas de juizes, procuradores e policiais – divulgadas por Intercept Brasil, Veja, Folha e Reinaldo Azevedo. Do outro lado, a suposta invasão de celulares de várias autoridades indica a possível atuação de uma organização criminosa, confessada por um dos suspeitos presos, entre quatro paredes da Polícia Federal, chefiada por Sérgio Moro, o protagonista do caso das mensagens secretas.
Pela lógica, o brasileiro deveria exigir a investigação e a punição para os responsáveis em ambos os casos, se crimes forem confirmados, mas não é isso o que estamos vendo. Pelo contrário, o que estamos vendo é uma torcida cega, apaixonada e/ou oportunista de cada lado, desprezando a razão e a sensatez. Uns querem culpar apenas os invadidos, outros querem culpar apenas os invasores e os reveladores.
Apurar e punir possíveis abusos e ilegalidades da Lava Jato, por exemplo, não é necessariamente um ataque à operação. É resguardar o Estado de Direito, é buscar o fiel cumprimento da lei. Não é obrigatoriamente ação de bandidos para melar a Lava Jato e libertar corruptos, como alguns querem taxar os jornalistas que revelaram as mensagens secretas. É exigir que todos cumpram o processo legal. Afinal, ninguém está acima da lei.
O óbvio, portanto, seria torcer por uma ampla e imparcial investigação para que culpados sejam punidos e inocentes, absolvidos – se existirem. Mas, a essa altura do campeonato, parece que a única disposição mesmo é a de empurrar a sujeira para debaixo de um dos tapetes, sem se preocupar com a sujeira que possa existir embaixo do outro tapete.
Se Moro e seus colegas da Lava Jato não fizeram “nada de mais”, se não cometeram nenhuma ilegalidade, deveriam ser os primeiros a exigir uma investigação imparcial. Quem não deve não teme. Não é assim que se diz? Mas o que temos visto é uma narrativa desesperada de criminalizar a imprensa para jogar dúvidas sobre a autenticidade das mensagens secretas. Detalhe: não existe nenhum indício de que foram adulteradas.
Vamos torcer e exigir que tudo seja esclarecido, não apenas uma parte. Mas, pelo visto, essa briga de torcidas não parece ter um fim próximo. Resta saber, então, se o Brasil vai permitir que o apito final seja do ex-juiz, oficialmente agente político ao se tornar ministro do governo Bolsonaro, ou de uma justiça imparcial.