O Senado rejeitou nesta quarta-feira convites para o ex-ministro Antonio Palocci explicar sua evolução patrimonial nos últimos quatro anos. Em ampla maioria na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, os governistas derrubaram por 14 votos a 7 dois pedidos da oposição para que Palocci explicasse aos senadores as denúncias que o envolvem.
Os requerimentos, que antes da demissão de Palocci eram de convocação do ex-ministro, se transformaram em convites –já que pelo regimento do Congresso o petista só poderia ser obrigado a depor se ainda estivesse no cargo.
Mesmo com a possibilidade de Palocci recusar os convites, a base de apoio da presidente Dilma Rousseff compareceu em peso à reunião da CCJ para rejeitar os dois requerimentos. A oposição, em contrapartida, manteve os pedidos como gesto político numa tentativa de mostrar que a saída de Palocci não encerra a crise no governo.
Os senadores Alvaro Dias (PSDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protestaram contra a recusa dos requerimentos. "A demissão do ministro não pode se constituir em sentença de absolvição. Não nos exime da responsabilidade de buscar a verdade. Há indícios da maior seriedade e consistência que não foram cabalmente esclarecidos", afirmou Dias.
Para Randolfe, a demissão de Palocci deixa lacunas que precisam ser respondidas pelo Legislativo. "Creio que até senadores da base têm perguntas a serem feitas. A sociedade brasileira quer ouvi-las."
Em defesa de Palocci, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que os convites "perderam o objeto" com a saída do ex-ministro. "Nós podemos contestar, manter a posição política, mas isso é uma coisa absolutamente sem sentido."
Para o senador petista Jorge Viana (AC), Palocci está pagando uma "conta alta do ponto de vista moral", por isso não cabe ao Congresso chamá-lo para esclarecer as denúncias. "Não tem sentido, a não ser em prejuízo à agenda do Congresso e do país, o Senado se prender a um tema que está muito bem colocado à disposição do Ministério Público Federal."
CPI
Além de insistir nos convites para Palocci prestar esclarecimentos, a oposição promete manter a ofensiva na coleta de assinaturas para instalar CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o crescimento do patrimônio do ex-ministro.
Os oposicionistas têm 20 das 27 assinaturas necessárias para que a comissão seja instalada no Senado, mas o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) anunciou que vai retirar sua adesão com a saída de Palocci.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que havia prometido assinar o requerimento, disse também não ver mais motivos para a instalação da comissão –o que na prática deve inviabilizar a sua instalação.
Sem a adesão de governistas, a oposição não tem número suficiente de parlamentares para tirar a CPI do papel.
"Por que não ouvi-lo no Senado? O Congresso, especialmente através de CPIs, tem se constituído parceiro das autoridades judiciais. Não podemos aceitar colocar debaixo do tapete a sujeira que possa existir", afirmou Dias.
Folha Online