É assim:
Você nasce e te botam numa caixa.
Às vezes você cabe na caixa. Às vezes ela é muito grande e você fica boiando lá dentro. Outras vezes ela é muito pequena e não cabe você todo.
Eles colocam junto um manual de instruções.
Mas só fazem dois tipos de manual.
Um, pra quando você é menino. Outro, pra quando você é menina.
E os dois vem apenas para a versão “standard”.
Então é muito comum que o manual não explique como funcionam as versões personalizadas.
Tem também o“kit” que vem com cada um.
São uns brinquedinhos que acompanham o pacote, e que vão acabar sendo aquilo que você será obrigado a usar pelo resto da vida. Carrinho, boneca, azul, rosa….
Ao longo da vida, vão te oferecendo uma espécie de “script”. Costuma ser bem fraquinho. Aquele tipo de filme que a gente já sabe do começo, do meio e do fim.
Quando você cabe na caixinha, funciona segundo o manual de instruções, fica contente com o seu “kit” e segue o script bem direitinho, todos te deixam em paz.
Agora, quando você não vem na versão standard, não cabe na caixa, tem um monte de botão que o manual de instruções não explica pra que serve, quer brincar com o kit do outro (ou da outra) e achou o script uma merda, se prepare:
Vão te botar nas costas a polícia, a igreja e ciência. Vão te fazer sentir raiva, culpa e medo. Vão te falar em nome do pai, do filho e do espírito santo. Mas na verdade agindo em nome do espírito de porco.
Vai ser uma luta, boy.
Mas, posso te dizer?
Vai ser muito divertido.
E ainda arrisca de você fazer história.
Napoleão, Gandhi, Jesus Cristo, Bob Dylan, Luther King, Einstein, Madonna, Bille Holiday, Madame Curie, Coco Chanel, Simone de Beauvoir, Buda, Oscar Wilde, Picasso, Dali, Freud, Renato Russo, Gil, Caetano, Suassuna, Colombo, Pagu, Nijinsky, Chiquinha Gonzaga, Leonardo, Galileu, Mandela, Josephine, Chaplin. A lista é grande.
Você acha que essas pessoas foram o que foram, são o que são, porque se ajustaram à caixinha?
Ilustração: Grégoire Guillemin