Divulgar a produção cinematográfica de curta-metragem brasileira para um público que não tem acesso a salas de cinema já é um feito e, quando se acrescenta a essa ação cultural uma causa urgente, torna o Curta Taquary um festival singular no país. Tenho acompanhado o evento desde a sua primeira edição e presenciado in loco a sua evolução para o formato que ora se apresenta. O festival chega a sua 15ª edição no formato híbrido (presencial e on-line) até o próximo dia 22, terça-feira.
Num país de causas urgentes, a necessidade de conscientização e educação para temas que dizem respeito a toda sociedade, faz do cinema um prestador único de significativos serviços. O meio ambiente é uma dessas causas que, mais do que nunca, está na pauta do dia. A cidade de Taquaritinga do Norte, no Agreste de Pernambuco a 785 metros de altitude, é uma ilha de vegetação de Brejo de Altitude, numa região marcada pela aridez. É sua maior riqueza, mas tem sido paulatinamente destruída por queimadas criminosas. Não foi por acaso que a abertura e o encerramento do festival acontecem em datas emblemáticas: Dia Nacional da Conscientização das Mudanças Climáticas (dia 16) e Dia da Água (dia 22).
Consciente dessa tragédia que também assola todo o país governado por um genocida, o idealizador e coordenador do Curta Taquary, Alexandre Soares, plantou, já na sua quarta edição, a semente do Criancine, projeto de sensibilização de educadores para o emprego do cinema em sala de aula com crianças e adolescentes da rede pública de ensino para a defesa da conscientização ambiental. E a semente vingou. Na edição deste ano, uma ação do festival traz vida à cidade e seu entorno.
O Curta Taquary se comprometeu a plantar uma muda de árvore nativa a cada filme inscrito no festival este ano (foram mais de 700), envolvendo o público estudantil nessa nobre mobilização. Das mostras às ações formativas, sentimos a preocupação em conscientizar seu público para o respeito à natureza. São oficinas, encontro de cinema e educação e laboratórios As mostras que compõem o festival dão o tom do engajamento de sua equipe, não apenas com o meio ambiente, sua causa maior, mas também no tocante à causa da diversidade.
Compõem as mostras 313 curtas-metragens de diferentes regiões do Brasil e cinco países (Argentina, Chile, México, Peru e França), com 51 filmes dirigidos por mulheres, distribuídos em dez mostras competitivas e duas paralelas, tratando de temas os mais diversos que impactam a vida cotidiana da sociedade tais como educação ambiental, questões de raça, gênero e sexualidade. Este ano, as habituais sessões na praça principal da cidade não estão acontecendo. No entanto, o festival está visitando comunidades rurais, como o assentamento Normandia, em Caruaru, para a exibição de filmes e o compartilhamento de experiências.
As mostras Brasil, Internacional, Criancine, Por um Mundo Melhor, Universitária, Curtas Fantásticos, Dália da Serra, Pernambucana, Primeiros Passos, Mostra Agreste e Sessão Especial enfatizam a multiplicidade de estéticas, temas e linguagens construindo um panorama abrangente e diverso do curta-metragem brasileiro, regional e local. A mostra Internacional, com seus 11 curtas, não tem essa abrangência, mas aponta tendências para as narrativas de cinema de curta direção. O Curta Taquary segue um norte alentador que justifica os investimentos públicos em ações culturais que têm como alvo a formação para uma vida melhor em sociedade.