O cinema brasileiro tem pouco a comemorar nos últimos cinco anos, salvo pelo êxito de algumas produções junto ao público e em festivais internacionais. Na Paraíba, apesar de alguns avanços que redundaram na chamada “Primavera do cinema paraibano”, ainda estamos a passo de tartaruga, sobretudo na esfera das políticas públicas do governo estadual. O cinema da terra Tabajara que legou cineastas como Walfredo Rodriguez, Linduarte Noronha e os irmãos Wladimir e Walter Carvalho, entre outros, ainda carece de uma política pujante que o faça perene como o rio Sanhauá, berço da Parahyba, nome secular da nossa capital.
A Fundação de Cultura de João Pessoa (Funjope) tem, nos últimos anos, estabelecido boas parcerias com o fito de fazer deslanchar de vez o nosso cinema para que não fique apenas na frutífera “primavera” de 2018, quando seis longas realizados aqui despontaram no cenário nacional e internacional. O propósito agora da Funjope é criar a Agência de Cinema e Audiovisual Parahyba (ACAP) e a JP Film Comission que colocarão a capital no circuito de coproduções cinematográficas no Brasil e no exterior.
A JP Film Comission será um dos frutos da Agência de Cinema e Audiovisual Parahyba que será responsável pelo desenvolvimento das políticas voltadas ao setor. Para dar a largada, a Funjope receberá Alfredo Manevy e Eduardo Raccah, dois experientes profissionais na área, para uma série de palestras de 15 a 19 deste mês (das 09 às 10h, das 15h às 17h) e um encontro com a cineasta e programadora colombiana Diana Bustamante que versará aobre a “Coprodução Internacional – O Papel do Produtor Executivo na Criação do Filme”, dia 18, das 10h ao meio-dia.
Nos cinco dias do encontro, Alfredo Manevy e Eduardo Raccah vão expor subsídios técnico, jurídico e político para elaboração e institucionalização legal de uma agência para o fomento do audiovisual local e a estruturação de uma film commission, que facilitará e poderá atrair filmagens, contribuindo assim para consolidar João Pessoa como cidade pólo do audiovisual brasileiro. Com a criação de uma agência, a Funjope espera consolidar uma base institucional para construir uma política pública que reúna fomento, film commission, eventos de negócios e possa ainda atuar na distribuição e exibição, com o órgão sempre atento às demandas geradas pelo setor e, a partir daí, criar novas políticas que vão mais além.
Consultor da UNESCO para a criação da Brasilia Film Commission, Alfredo Manevy é doutor em audiovisual pela Universidade de São Paulo, professor associado de cinema na UFSC. Coordenou a implantação da Spcine e da São Paulo Film Commission e presidiu a empresa entre 2014-2016. Já, Eduardo Raccah coordenou a ação de internacionalização da Spcine, com convênios com Canadá e outros países. Os dois são consultor para criação da Agência de Cinema e Audiovisual da Paraíba / ACAP e da JP Film Commission.
Por seu turno, a palestra de Diana Bustamante Escobar abordará a produção Criativa e a possibilidade de criação de parcerias. Bustamante irá expor seus cases de sucesso para o público interessado e revelará mecanismos para a realização de coproduções audiovisuais entre Colômbia e Brasil, expondo para os cineastas uma gama de oportunidades de realização de suas obras. Uma excelente oportunidade para os realizadores terem contato com uma profissional de larga e exitosa experiência.
Diana Bustamante estudou cinema na Universidade Nacional da Colômbia e tem contribuído nos últimos anos para o reconhecimento internacional do cinema colombiano, além de construir com frequência pontes entre o cinema latino-americano e outras culturas. Bustamante produziu ‘Memória’, o último filme do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul, estrelado por Tilda Swinton, com todas as locações na Colômbia. O filme foi selecionado na Competição Oficial do Festival de Cannes 2021, onde ganhou o Prêmio do Júri.
No momento mais produtivo do cinema paraibano, foram exibidos seis longas-metragens no 13º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, em 2018, fenômeno chamado pelo crítico paulista Luiz Zanin Orichio de “A primavera do Cinema paraibano”. Integravam a Mostra Competitiva Sob o Céu Nordestino, os filmes Ambiente familiar, de Torquato Joel; Beiço de Estrada, de Eliézer Rolim, Estrangeiro, de Edson Lemos Akatoy; O seu amor de Volta(mesmo que ele não queira), de Bertrand Lira; Rebento, de André Morais; e Sol Alegria, de Tavinho Teixeira.
Para Luiz Zanin, “tal safra não configura, possivelmente um “movimento”, no sentido clássico do termo, com uma poética estabelecida em cima de regras e posturas preestabelecidas, mas um desses círculos virtuosos ocasionais, beneficiados por uma soma de uma política de incentivo inteligente com a presença de talentos individuais.” A Funjope teve participação imprescindível neste sentido e demonstra conhecer o caminho das pedras.