Bolsonaro disse que usava o dinheiro do auxílio-moradia, um recurso público, para “comer gente”, ao ser questionado por uma jornalista da Folha de S. Paulo, em 2018, por que recebia o benefício se tinha apartamento próprio em Brasília. Mas você achou isso normal, até sorriu, levou na brincadeira. Votou nele para presidente da República e continua o defendendo com unhas e dentes, mesmo quando ele se comporta como um moleque.
Agora, o ex-funcionário de uma agência de marketing digital, Hans River do Rio Nascimento, em depoimento na CPMI das Fake News, acusa a jornalista Patrícia Campos Mello de ter oferecido sexo para conseguir informações de uma reportagem da Folha de S. Paulo. E você acha isso normal, faz até piadinhas e memes nas redes sociais e compartilha falsos diálogos atribuídos a Patrícia, como se esta acusação fosse a verdade absoluta.
Achando pouco, você também afirma que a jornalista teria se oferecido sexualmente em troca de informações com o objetivo de prejudicar Bolsonaro. E você também acha isso normal, mesmo não conhecendo a vida pessoal, o caráter, o trabalho e o histórico profissional da jornalista. Você simplesmente compartilha, insinua, ataca, espalha, ofende. Você o faz porque está na moda ser estúpido, leviano e ignorante. E o faz com prazer, já que existe uma claque para aplaudir e replicar.
Você até pode achar tudo isso normal. Mas eu não acho. Aliás, eu tenho certeza absoluta de que isso não é normal, é doentio. Não é somente machismo, não é somente misoginia, não é somente leviandade, não é somente divergência político-ideológica. É desumano, é asqueroso, é irracional.
Mas nada disso me surpreende mais, infelizmente. Afinal, Bolsonaro para você é inspiração, é autoafirmação grupal, é poesia aos seus ouvidos. Então, você parte para o ataque para defender sua espécie, seu grupo, sua laia. E não coincidentemente o alvo é uma mulher.
Sou filho de uma mãe, casado com uma mulher, pai de duas meninas. Mesmo que eu quisesse achar isso normal, ainda assim estaria errado, eu não teria e não tenho esse direito. Se eu fosse sua mãe, sua esposa ou sua filha, eu não teria apenas vergonha de você, eu teria pena.