A polarização política deixa o cenário eleitoral acirrado e também produz efeitos negativos para a saúde da população. Um estudo realizado nos Estados Unidos mostra que as eleições presidenciais estão relacionadas a um aumento nas internações por infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca.
Ao tomarem conhecimento sobre esse estudo, algumas pessoas me questionaram: será que existe a possibilidade de cenário semelhante ocorrer no Brasil, cujo panorama político está polarizado entre as pré-candidaturas do atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)? É uma boa pergunta!
No estudo realizado nos Estados Unidos, os pesquisadores observaram uma relação entre o estresse de escolher um novo presidente e o crescimento de episódios de doenças cardiovasculares agudas. Houve um aumento de 17% na taxa de hospitalizações por doenças cardiovasculares agudas, como infarto, AVC e complicações da insuficiência cardíaca logo após o pleito de 2020, que consagrou Joe Biden e acabou com o sonho de Donald Trump de ser reeleito.
A pesquisa nos Estados Unidos analisou o período de cinco dias após as eleições presidenciais estadunidenses. Foi publicada em abril deste ano no Journal of the American Medical Association (Jama), que é considerado um dos periódicos mais respeitados da área. O estudo é uma repetição de outra investigação feita pelo mesmo grupo (médicos da Kaiser Permamente, serviço privado de saúde) nas eleições de 2016.
Efeitos do estresse no organismo afetam o coração
O período eleitoral, seja na campanha, seja após o pleito, pode impactar o coração das pessoas, sim, principalmente daquelas que se apaixonam pelas discussões políticas ou que vivenciam toda a agenda dos candidatos de perto. Um dos motivos é o efeito do estresse no organismo.
O cortisol é o hormônio liberado para preparar nosso organismo quando estamos em situação de perigo. Ele mantém a pressão arterial e diminui a queima calórica para poupar energia quando a pessoa está em uma situação de risco. O problema é que nosso corpo não sabe diferenciar situações de risco reais e imaginárias.
Mas por que isso ocorre? Quando estamos sob muito estresse, o organismo entende que há perigo e acaba liberando hormônios, como o cortisol e a adrenalina, na corrente sanguínea. Assim, quando há um caso de estresse crônico, o excesso de cortisol pode dar origem a quadros de doenças como diabetes e hipertensão arterial.
Se a pessoa tem uma placa de gordura grudada na parede de uma artéria que bloqueia em torno de 20% a passagem do sangue, todas as alterações provocadas pelo estresse de um resultado eleitoral, por exemplo, podem contribuir para que essa obstrução fique ainda mais grave.
O aumento da pressão arterial deixa o vaso mais apertado e aquela placa de gordura instalada na artéria pode se romper. Para tentar reparar o dano, as células do sangue coagulam e formam um trombo, que fecha 100% da artéria, ocasionando um ataque cardíaco (infarto) ou derrame cerebral.
Candidatos devem fazer check-up
Para conseguir encarar a maratona eleitoral de muitos quilômetros de estresse, pouco sono e má alimentação (inclusive com direito a buchada e café da manhã na feira), o ideal é que os candidatos a cargos eletivos façam um check-up com o cardiologista de sua preferência.
É muito importante que o candidato esteja em dia com seus exames, principalmente se já tiver fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Alimentação inadequada, falta de atividade física, noites sem sono e embates políticos são comuns nesse período e podem gerar problemas de saúde ou agravar os já existentes. Por isso, no mínimo, é bom conferir taxas de colesterol, pressão arterial e níveis de glicose no sangue.
Pensar em alianças políticas é necessário, mas os pretensos candidatos também precisam ficar atentos ao próprio coração nesse momento, afinal, caso sejam eleitos, imagino que queiram chegar até o fim do mandato com saúde.
É importante também procurar gerenciar o estresse, tratar os fatores de risco como pressão arterial, diabetes, colesterol elevado, parar tabagismo, controlar o peso, manter a atividade física e se desligar um pouco das redes sociais”, afirma Valério Vasconcelos.
Curiosidades que servem de alerta
– Em 2020, o prefeito de Passa Quatro-MG, Antônio Claret Mota Esteves (PV), que concorria à reeleição, sofreu um infarto na véspera do pleito. Ele venceu a eleição com 60,8% dos votos, mas morreu após ficar 14 dias internado;
– Também em 2020, o ex-prefeito de Canavieiras-BA Almir Melo (MDB) morreu vítima de um infarto fulminante. No dia anterior, ele havia confirmado a candidatura para tentar retomar a prefeitura da cidade;
– Em 2018, um eleitor de 70 anos passou mal na fila de votação e morreu na cidade de Valença-PI. Ele havia acabado de chegar ao local, quando disse que estava sentindo falta de ar;
– Em 2014, o empresário Carlos Costa, que era candidato a deputado federal pelo PRP do Espírito Santo, passou mal e foi internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Coronariana, com quadro de infarto agudo do miocárdio;
– Em 2012, o candidato do PT a prefeito de Penaforte-CE, Zé Wildes, sofreu um infarto na madrugada do Dia D das eleições. Ele sofria de problemas cardíacos e não resistiu;
– Em 1998, um eleitor de 42 anos morreu em Salvador-BA após sofrer um ataque cardíaco quando aguardava a vez de votar.