Um dia após a prisão do médico anestesista que estuprou uma paciente durante o parto no Rio, um estudante de medicina gerou revolta nas redes sociais ao satirizar um texto que refletia sobre estupro e violência de gênero.
No texto original, publicado em seu perfil no Instagram, a fotógrafa Tracy Figg descreve lugares e circunstâncias em que as mulheres estariam vulneráveis ao perigo do estupro. “Na infância. Na pré-adolescência. Adultas. Idosas. NO PARTO. Na rua, na igreja, em casa”, diz o texto.
O post, que viralizou nesta terça (12), também aponta como as mulheres correm riscos de serem violentadas por familiares e companheiros do gênero masculino. “Pelo pai, pelo padrasto, pelo avô, pelo tio. Nem todo homem, mas sempre um homem”, finaliza.
Após a publicação, o perfil de Lucas Müller Mendonça, que se identifica como um estudante de 21 anos do curso de medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), postou um comentário sexista em que repete a estrutura original do texto e debocha do desempenho de mulheres como motoristas. “No cruzamento da preferencial. Com placa de pare. Na mudança de pista. No sinal vermelho. Na pista molhada. Loiras. Morenas”.
“Por não saber fazer baliza. Por invadir a pista ao lado, por andar na contramão. Nem toda mulher, mas sempre uma mulher”, completa. O comentário foi apagado pelo autor após receber uma série de críticas.
A Associação Atlética Acadêmica de Medicina da UFMS também publicou uma nota de repúdio às declarações feitas pelo estudante. “Tais declarações ferem nossa política, que busca sempre por igualdade e se opõe a qualquer tipo de misoginia”.
Nos comentários, seguidores questionaram quais medidas poderiam ser tomadas pela instituição de ensino diante do caso.
A Associação Atlética Acadêmica de Medicina da UFMS também publicou uma nota de repúdio às declarações feitas pelo estudante. “Tais declarações ferem nossa política, que busca sempre por igualdade e se opõe a qualquer tipo de misoginia”.
Para Tracy Figg, o texto do estudante mostra como os homens não têm medo de interditar espaços e debates femininos: “Se uma pessoa tem coragem de ir em um lugar onde mulheres estão falando de seus traumas e sofrimentos e debochar, do que ela é capaz?”, questiona.
Em entrevista ao blog #Hashtag, a artista afirma que é doloroso e triste que tantas mulheres tenham se identificado com o seu texto original. Para ela, existe uma falsa simetria quando homens se defendem dizendo que “nem todos” cometem violências.
Tracy diz que esse tipo de resposta defensiva coloca o indivíduo como referência, mas desconsidera a sociedade. “As pessoas não estão interessadas em ter uma informação real sobre a violência de gênero, mas em se defender”, afirma.
Nos stories do seu perfil no Instagram, o estudante se defendeu das críticas: “Óbvio que meu texto é ridículo, essa era a intenção desde o começo, visto que meu texto é satírico e com o único fim de expor a generalização ridícula que foi feita no texto original”, escreveu.
“Mulheres também estupram, mulheres também cometem importunação sexual. Assim como homens também cometem infração de trânsito”, finaliza.
Com a repercussão, a postagem original de Tracy passou a circular com mais fôlego, associada ao caso da paciente estuprada durante uma cesária.
O #Hashtag entrou em contato com o perfil do estudante no Instagram. Lucas disse repudiar o caso de estupro no Rio e reiterou argumentação publicada durante o dia em seus stories.
Ele afirma que sua resposta teve o objetivo de expor o que chamou de “conclusão ilógica da publicação original”. “Foi apenas um texto satírico, inocente e intencionalmente absurdo a fim de expor a ideia ridícula insinuada através da frase ‘sempre um homem'”.
Folha Online