Os povos da América Latina não caminham isolados, seja para o progresso ou para o atraso: há muitos paralelos na história dos países da região. É o que se extrai do pensamento do arquiteto, escultor e ativista pelos direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel. O argentino está em visita ao Brasil para se encontrar com lideranças políticas e impulsionar sua campanha para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja indicado para o Nobel da Paz de 2019 (as candidaturas para este ano já foram encerradas).
Esquivel recorda que recebeu o prêmio em 1980, “quando estava preso (pela ditadura argentina), assim como Lula está detido agora por questões políticas”. No Rio de Janeiro, ele visitou o JORNAL DO BRASIL e participou de ato em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL), realizado no Complexo da Maré. “As favelas daqui são as ‘chabolas’ venezuelanas”, comparou.
As semelhanças, porém, não se limitam a miudezas. Para Esquivel, muitos países da América Latina conseguiram nos últimos anos progressos notáveis no combate à pobreza e à desigualdade social. No entanto, segundo ele, as conquistas da região estão hoje ameaçadas por “golpes de Estado brandos, como aconteceu em Honduras, Paraguai e agora no Brasil”, e também pela força do “poder econômico” e pela “ditadura do pensamento único”.
Nobel para Lula
“Conheço o Lula desde os anos 70, por seu trabalho como sindicalista no ABC, em São Paulo. Nem sempre tivemos uma relação direta, mas seguia seu trabalho, sua luta, até chegar à Presidência da nação. Lula está preso, mas quando meu nome foi indicado para o Nobel, eu também estava preso, acusado de ser subversivo e terrorista. Mas por que a indicação? Porque Lula, com suas políticas sociais, tirou da pobreza extrema mais de 30 milhões de brasileiros. Uma façanha. Não conheço outro exemplo dessa magnitude. Além de um feito único, é um feito humanitário, de responsabilidade social, cultural e política com seu povo. Em setembro vou apresentar oficialmente sua candidatura ante o comitê do Nobel, enfatizando que ele se encontra preso. Lula é acusado, porém sem provas. O prêmio seria o reconhecimento a um nome com uma luta social e política muito forte. Ele não busca enriquecer, e sim servir ao seu povo e à humanidade. Esse é o eixo central de sua candidatura. Pedimos autorização para um encontro com ele em Curitiba, mas ainda não tivemos nenhuma resposta. Ao meu lado viaja um grupo de deputados do Parlamento do Mercosul e congressistas argentinos. Caso consiga encontrá-lo, vou lhe dar um abraço e falar que é preciso resistir”.
Jornal do Brasil