Notícias de João Pessoa, paraíba, Brasil

Especialistas explicam como jovens tailandeses sobreviveram presos em caverna

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram

“Temos fome”. Essa foi uma das primeiras frases que um dos 12 meninos presos na caverna Tham Luang, na Tailândia, há dez dias disse para um dos socorristas. As operações de resgate prosseguem, mas eles ainda podem esperar meses para voltar à superfície.

Os meninos, que têm entre 11 e 16 anos, e o técnico, de 25 anos, já receberam carne de porco grelhada, arroz e leite, de acordo com comunicado da Marinha tailandesa, divulgado pela CNN. Apesar de debilitados pela fome, eles estão em bom estado de saúde e têm apenas erupções cutâneas.

Ben Reymenants, que faz parte de uma das equipes que ajudam os socorristas, disse ao jornal inglês “The Guardian” que os meninos não tinham acesso a comida antes de os socorristas chegarem.

“Eles não tinham comida. Eles deixaram suas mochilas e seus sapatos antes de entrar, tentando chegar ao fim do túnel como uma iniciação para os garotos locais irem até o fim do túnel e escreverem seu nome na parede e depois voltarem. Uma inundação repentina por causa da súbita chuva forte os prendeu, sem sapatos e sem comida”, disse.

Segundo Reyments, eles estão mentalmente bem, mas muito fracos. Os meninos ficaram sem ingerir qualquer alimento sólido por 9 dias, apenas bebendo água que pingava das paredes. Dois médicos da Marinha começaram a dar comida a eles lentamente, permitindo que aos poucos eles se recuperem.

Quantos dias é possível sobreviver sem comida?

Evandro José de Almeida Figueiredo, nutrólogo do hospital Albert Einstein, explica que depende muito das condições de cada pessoa: se tem mais massa muscular ou tecido adiposo que possa garantir alguma reserva ao corpo, por exemplo.

“Daria para estimar uns 40/50 dias sem comida. Mas, de maneira geral, como a criança está em fase de crescimento, ela tem menos reserva do que um adulto”, explica ele.

Quais são os sintomas após os primeiros dias sem comida?
Emagrecimento brusco, perda de massa muscular, alterações psicológicas, fraqueza, apatia, anemia, podendo chegar à desnutrição.

O que pode acontecer com o corpo?
Em situações extremas como esta, o corpo tende a se adaptar e, para isso, muda um pouco o seu funcionamento. Sem alimentação, o corpo sofre para manter os níveis de glicose e produzir a energia necessária e vital para vários órgãos: “Num primeiro momento, a regulação vai tentar dar conta de subir essa glicemia. A primeira coisa é usar o glicogênio, a primeira reserva que temos, mas que dura horas, no máximo um dia”, explica Figueiredo.

Depois dessa primeira etapa, o corpo usa a reserva de gordura para tentar manter o metabolismo funcionando. Em paralelo a estas adaptações, uma das consequências é a degradação da proteína, que faz o corpo começa a perder massa muscular.

Quais funções corporais ficam em risco?
Segundo Denise de Augustinis Noronha Hernandez, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS, praticamente todos os órgãos envolvidos na metabolização das reservas destes nutrientes começam entrar em falência.

“Sem nenhuma fonte de energia, o organismo primeiro vai utilizar a gordura estocada, depois vai retirar esta energia dos músculos, causando perda intensa de massa muscular, deixando o indivíduo com as funções cerebrais prejudicadas, debilidade física, alterações na pele, alterações sanguíneas, etc. No caso de crianças, ocorre desaceleração e até interrupção do crescimento”, explica.

Como reintroduzir a alimentação?
Depois de tantos dias sem comida é preciso cautela na realimentação. A síndrome de realimentação acontece depois uma privação longa e pode matar, explica Figueiredo.

“O corpo está adaptado à restrição já há alguns dias. A pessoa também está restringindo sais minerais, sódio… e o corpo tenta equilibrar isso. Todo o metabolismo está diminuído. Quando acontece a realimentação, a quantidade de energia é grande. Isso acelera bastante o metabolismo e pode ser grave. Pode provocar arritmia cardíaca, edema agudo de pulmão e outras complicações”.

O clima influencia na resistência do corpo?
Segundo Hernandez, o clima e a temperatura do local podem influenciar.

“Em locais quentes há uma desidratação maior, e locais de baixa temperatura podem causar hipotermia. A temperatura favorável é de 25 a 26 graus. Aconselha-se manterem-se unidos, para manter temperatura adequada”, explica.

Segundo o jornal inglês “The Guardian”, os mergulhadores que chegaram à caverna disseram que a temperatura ambiente está em torno dos 26° C, o que colaborou para que eles não sofressem com desidatração ou hipotermia.

Que outros problemas podem acontecer?
A falta de iluminação da caverna também pode causar deficiência de vitamina D, dependendo de quantos dias eles ficarem presos. A vitamina D ajuda a absorção do cálcio, regula o cálcio no sangue e o metabolismo ósseo. Também tem um papel central no sistema imunológico, que a usa para criar defesas contra bactérias e vírus.

Já a água que escorria das cavernas ajudou a manter todos com vida, mas dependendo da fonte poderia ter gerado problemas como diarreia infecciosa e verminose por contaminação.

O fator psicólogico
Segundo Bruno Mader, psicólogo do hospital infantil Pequeno Príncipe, em Curitiba, um dos fatores importantes para a sobrevivência dos meninos pode ter sido o fato de que eles já se conheciam e formavam uma equipe de futebol: “Como eles já têm uma troca ali, pode ter ajudado a se ambientar e tentar saídas em conjunto”.

A presença do professor também pode ter colaborado para que o desespero não tomasse conta do grupo. “A criança vai tentar, como toda pessoa, formas de adaptação e ambientação. Como a gente tem um adulto ali, é bem interessante que ele pode servir como referência para noção de tempo, como se comportar, e isso mantém um pouco a continência”, diz Mader.

Apesar disso, Mader acha provável que os meninos tenham momentos de descompensação e até chorem. Isso tem a ver com a noção de que todas as pessoas fazem planejamentos para o futuro e precisam de rotina. A falta disso pode desestruturar as crianças.

Estresse pós-traumático
Outra grande preocupação é como este meninos vão lidar com esta situação depois. O estresse pós-traumático pode aparecer muito depois do ocorrido desencadeado por algo sem relação aparente.

Para Mader, o ideal é que as famílias observem se após um mês de readaptação os meninos mudaram em relação ao que eram: “A grande questão é se haverá uma mudança de personalidade e se coisas que eram prazerosas deixarão de ser. As questões do medo podem se manifestar, mas não necessariamente estar relacionadas, é preciso avaliar a frequência e a intensidade”.

O psicólogo também orienta que as famílias tenham acompanhamento posterior para que não superprotejam ou recompensem demais os meninos, os tratando como heróis.

Sem previsão de saída
O grupo se abrigou do tempo ruim após um treino no sábado (23) na caverna que fica no distrito de Mae Sai, perto da fronteira com Mianmar. Porém, a chuva bloqueou a entrada principal da rede subterrânea, que é complexa e tem vários quilômetros de comprimento.

Apesar de a localização dos meninos ser conhecida, não existe uma previsão para que eles deixem a caverna e não se descarta que eles demorem meses para voltar à superfície. As autoridades afirmam que a prioridade no momento é fazer com que o grupo se fortaleça fisicamente.

“[Nos preparamos para] enviar alimentos adicionais para que possam suportar um período de ao menos quatro meses e treinaremos os 13 para que saibam mergulhar, enquanto continuamos a drenar a água”, disse o capitão da Marinha tailandesa Anand Surawan.

Esta falta de previsão também é algo que precisa ser trabalhado nas crianças para que elas possam enfrentar em boas condições os dias na caverna. Mader ressalta que, guardadas as devidas proporções, o ideal é que fosse criada uma rotina semelhante a uma internação hospitalar.

“Teriam que aproximar ao máximo possível de uma rotina: fazer 4 a 5 refeições por dia, introduzir atividades, estabelecer dia e noite e fazer com que eles durmam. Tentar estabelecer o contato com a família para que tenha troca afetiva. Se pudessem fazer também uma rotatividade de pessoas que os visitam para que pudessem ter estímulos diferentes, seria ótimo”, explica Mader.

A caverna, que fica em uma região fortemente atingida pelas monções, segue inundada e as chuvas dificultam o resgate.

As equipes utilizam 20 bombas de drenagem para reduzir o nível da água nas partes mais inundadas, mas as fortes chuvas e problemas mecânicos nos equipamentos dificultam a operação. Linhas telefônicas deverão ser estendidas através da caverna para permitir a comunicação dos jovens com seus familiares, de acordo com a Deutsche Welle.

Se não for possível retirar os jovens através do mergulho nas águas lamacentas da caverna, há ainda a possibilidade de realizar uma perfuração do solo para chegar até o grupo ou ainda esperar que as águas retrocedam. Previsões do tempo indicam fortes chuvas durante a semana.

G1

Tags

Leia tudo sobre o tema e siga

MAIS LIDAS

Arthur Urso leva “esposas” para passear sem roupa íntima na orla de João Pessoa

Professores da UFPB desistem de candidatura e apoiam Terezinha e Mônica

Anteriores

Relógios apreendidos na operação

Polícia prende em João Pessoa servidor do TJPE por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro

Jannyne Dantas

Justiça mantém prisão de Jannyne Dantas, ex-diretora do Hospital Padre Zé

Gaeco operação curandeiros II

Gaeco deflagra operação contra fraude para libertar presos de forma irregular

Corrida da fogueira em campina grande

Prefeitura de Campina Grande abre inscrições para Corrida da Fogueira

Técnicos do TRE-DF realizam a conferência e a lacração de urnas eletrônicas para o 1º turno das Eleições 2022.

MPPB e Procuradoria Regional Eleitoral discutem atuação de promotores nas eleições 2024

Violência contra mulheres, estupro

A cada 8 minutos, uma mulher é vítima de estupro no país

90101644-eef1-470c-865b-76d15822810a

Ministra das Mulheres participa de sessão um dia após “equívocos” do presidente da AL

joaobenedito (1)

TJ aprova criação de mais sete vagas de desembargador na PB

emersonpanta

TCE imputa débito de R$ 2 milhões a Emerson Panta por contratação de advogados

17113967826601d7aec1edd_1711396782_3x2_lg

Moraes diz que não há evidências de que Bolsonaro buscou asilo na Embaixada da Hungria