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Entre gritos e sussurros, “Malcolm & Marie” nos faz testemunhas de um intenso embate

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Não é fácil despertar, manter e aumentar o interesse do espectador com uma narrativa que envolve apenas dois personagens presentes em cena, e mais: numa única locação. É o que propõe Malcolm & Marie, filme de Sam Levinson (EUA/Austrália, 2021). Com seus 106min de duração, o enredo tem início com a chegada do casal Marie e Malcolm em casa depois da estreia de um filme dirigido pelo próprio Malcolm, eufórico pelo êxito de sua obra. O que seria uma comemoração feliz a dois, temos um embate tenso. O filme, produzido e estrelado por John David Washington, foi lançado de forma limitada em salas de cinema nos Estados Unidos em janeiro deste ano e mês passado pela Netflix.

Temos exemplos de filmes, como este, que se tornaram clássicos com o drama se desenrolando num único espaço, às vezes com dois ou três personagens em cena: Sonata de Outono (Ingmar Bergman, 1978), As lágrimas Amargas de Petra Von Kant (Reiner Werner Fassbinder, 1972), Ou com mais personagens: Deus da Carnificina (Roman Polanski, 2012), 12 Homens e uma Sentença (Sidney Lumet, 1957) e Festim Diabólico (Alfred Hitchcock, 1948), para ficar em alguns exemplos de filmes onde o conflito se dá quase unicamente nos diálogos. A circunscrição de toda a ação a um único espaço ou a poucas locações caracterizam os filmes de enredo psicológico.

O senso comum atribui a alcunha “filme de ação” àqueles filmes cheios de peripécias, fugas e perseguições. Não existe filme sem ação, no sentido de estar presente um mínimo de conflito que faz mover a história. Aqui estão inclusas a ação física e a ação verbal. Os filmes acima mencionados estruturam suas narrativas a partir de um confronto entre personagens e cujos conflitos se dão na esfera do psicológico. São as chamadas ações verbais (os diálogos) que geram o embate conflituoso numa história. Cada fala contém uma ação e esta ação é movida por uma intenção, uma vontade de gerar uma reação.

O que detona o conflito em Malcolm & Marie, também roteirizado por Sam Levinson, é a confissão de Marie (Zendaya) a Malcolm (John David Washington) da queixa de que não recebeu agradecimentos públicos do amado quando da estreia de seu filme. A abertura do filme se dá com a chegada do casal à bela e moderna residência onde vivem numa área isolada. É evidente a euforia do verborrágico Malcolm – uma referência a Malcolm X (1925-1965), como ficou conhecido o grande defensor do nacionalismo negro nos Estados Unidos. Malcolm põe música, dança uma coreografia improvisada na amplidão da casa, seduz Marie com carícias e investidas picantes enquanto ela prepara o jantar para ele.

Com uma bela fotografia em preto e branco, que realça a pele negra do casal, a câmera se desloca suavemente pelo ambiente seguindo o movimento dos personagens. A direção de Sam Levinson opta por uma mise-en-scène que alterna movimentos de câmera suaves para seguir a movimentação dos personagens, enquadramentos próximos, nos diálogos mais intensos, e enquadramentos distanciados para explorar a profundidade de campo da cena, emoldurando muitas vezes a ação através das portas, janelas e outras divisórias da casa, cuja arquitetura se presta muito bem a esse propósito.

Mas voltemos ao enredo: num espaço de tempo de uma única noite, vamos ser testemunhas de um acerto de contas de rancores guardados. A primeira ação (verbal) a acionar a trama se dá, como vimos, com a primeira revelação de Marie. Antes, ela escuta passivamente, fazendo breve intervenções, o discurso quase ininterrupto de Malcolm, que ironiza as impressões, algumas positivas, outras negativas, ao seu filme. Marie parece desconfortável mesmo frente à sedução de Malcolm que, ao perceber, tenta uma resposta frente à apatia de Marie. É quando, aos 13 minutos de filme, surge o seu título sobre a imagem da tigela de macarrão que Marie acabara de preparar. Nesse momento, também, temos conhecimento do motivo do seu mal humor: “você não me agradeceu. Não é um detalhe. É importante.”

Essa fala dá início ao conflito maior da trama. É uma ação, verbal, mas é uma ação, porque gera conflito, porque move a história adiante. A trama de Malcolm & Marie é estruturada no que teóricos de roteiro denominam de “minitrama”, em resumo, um enredo com mais de um protagonista, conflito interno e final aberto. São as mudanças de padrão de comportamento das personagens Marie e Malcolm que vão dar corpo às cenas. Didaticamente falando, a cada fala com novo significado, temos um ponto de virada, mudança de valor de positivo para negativo ou o contrário, fazendo a história avançar ou recuar.

Nas falas de Malcolm e Marie há trocas mútuas de acusações que revelam ao espectador momentos diversos da vida pregressa dos dois, do difícil enfrentamento ao vício de Marie com as drogas à situação estável e bem-sucedida do casal no mundo do show business. Marie queria ter interpretado seu próprio papel no filme inspirado em sua vida. Sua maior mágoa. Essa revelação é a cena mais tocante do filme. No embate, há momentos de desconcentração, quando Malcolm analisa, debochadamente, a crítica a seu filme de uma jornalista branca do Los Angeles Times. E o momento de maior tensão e clímax quando Marie, com uma faca na mão se aproxima de Malcolm, revelando que não toma mais os antidepressivos que a fazem relaxar, e também demonstrando na sua interpretação, agora real, a tão propalada “autenticidade” necessária ao filme de Malcolm.

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