Após quase dois anos de pandemia, a ceia do Natal e as festas de final de ano parecem ganhar outra dimensão, além de novo propósito e sabor. Mais que de mesas suntuosas, roupas caras e compras sem fim, muitas pessoas experimentam mesmo é a fome de estar presente. Dar e receber aquele abraço, compartilhar risos e lágrimas, durante um dezembro recheado de sentimentos alegres e também tristes.
Nesse período, as comemorações sempre trouxeram sensações bem diferentes: tristeza, alegria, esperança, desânimo, ansiedade, depressão, luto, medo e solidão. É comum, inclusive, que o ser humano sinta-se mais deprimido, por múltiplas razões. Imagine após longos meses de perdas. E foram muitas.
Ricos, pobres, negros, brancos, famosos e anônimos perderam um pouco – ou muito – de si próprios, ao enfrentarem a dor do luto de maneira inesperada e difícil de ser assimilada, na maioria das vezes. Em cada família há um coração partido pela ausência do irmão, tio, primo, sobrinho, amigo, vizinho, pai, mãe ou avós. Portanto, é tempo de compartilhamento de sentimentos e ajudas mútuas entre aqueles que se querem bem, principalmente nos ciclos familiares.
Na hora de compartilhar a ceia de Natal, sentado à mesa ou em qualquer canto da casa, vale também deixar o choro cair, sem maiores cerimônias. Dividir a dor que não quer – nem deve – calar, assim como agradecer a delícia de estar vivo. Sim, sobrevivemos, em meio a mais de 600 mil mortes provocadas pela pandemia, no Brasil. Sem contar as outras perdas: emprego, comida, teto para morar, a volta da fome, saúde física e mental.
As reuniões entre amigos e familiares trarão, sem sombra de dúvida, representações de muitos desses sofrimentos e retratos sociais. Será comum que as fotografias estampadas nas redes de comunicação, destoem da realidade de cada um. A foto do insta, de repente, não bate nem com a RG de quem fez a postagem.
O importante mesmo é tentar viver esses dias e momentos de forma verdadeira, inclusive podendo ficar triste e alegre ao mesmo tempo. Afinal, um sentimento não exclui o outro, tampouco Natal é só alegria ou tristeza. Inspira emoções ainda mais complexas, como chorar junto, repartir angústias, frustações, sonhos e esperanças. Ao final de 2021 e sempre, só não vale sentir-se obrigado a expressar uma felicidade de aparência, pelo simples fato de ser festa, férias, Natal ou réveillon. Para todos, o melhor ano novo possível, com amor, empatia , saúde e realizações.