A Monja Coen também é jornalista. E atuou em redações. Na época, ela ainda era chamada de Claudia Dias Baptista de Sousa. Atuou no Jornal da Tarde durante a ditadura militar e viu colegas serem presos. Ainda como jornalista, teve uma matéria totalmente reescrita (ou “destruída”, como ela narra), ficou muito magoada e pediu licença do trabalho. Foi para Londres e depois buscou novos caminhos. Descobri essas informações em um vídeo no YouTube em que a monja é entrevistada pelo Marcelo Tas no programa #Provoca, da TV Cultura.
Com dois bisnetos, a líder zen budista se questiona: como eu posso deixar o mundo melhor para eles? E a resposta da monja também serve de inspiração para o nosso trabalho como jornalista: “O que eu posso fazer enquanto viva, nos textos que escrevo, nas palestras que dou, para que o maior número de pessoas acorde, desperte e passe a cuidar? Cuidar do planeta, cuidar de si mesmo, cuidar das suas emoções (…)”. O que eu procuro fazer, diz a Monja Coen, “é deixar para eles um legado de um mundo que possa ser mais harmonioso. Com pessoas mais gentis”.
Em um dado momento, Marcelo Tas indaga: o que o jornalismo te ensinou sobre o Brasil e o que o zen budismo te ensinou sobre o jornalismo? “Ambos me ensinaram que não há nada fixo e nada permanente. Uma das coisas bem interessantes de ser repórter, repórter da local, é que às vezes você ficava dias escrevendo uma matéria maior e no dia seguinte você lia, lambia a cria. Que bom, saiu! E você vai a um açougue e ela está embrulhando a carne”, conta.
Então, prossegue a monja sobre o tema, “tudo aquilo que você trabalha, que você faz, no dia seguinte é jogado fora e não interessa a mais ninguém (ou para algumas pessoas sim)”. Segundo Coen, os budistas tibetanos fazem mandalas, levam várias semanas ou até meses nesse trabalho, envolvidos com gotículas de pedacinhos de areia colorida. “Fazem um desenho maravilhoso e, quando está pronto, desmancham tudo”, explica, levando-nos a refletir sobre a impermanência das coisas, a efemeridade da vida.
Para a Monja Coen, tanto o trabalho dos budistas tibetanos, com as mandalas, quanto o jornalismo também lhe ensinaram sobre o Brasil. “Não há nada fixo, nem nada permanente. Os poderes se alternam. Tudo passa. Até Neymar sabe disso”, comenta a monja brincando, ao se referir à tatuagem do atleta.
Jornalista que viveu a ditadura no Brasil, a Monja Coen tem certeza de que o País enfrenta uma escalada de autoritarismo. “Sem dúvida alguma (…), mas isso também passa. Como essa pandemia — ela vai passar. Mas enquanto nós estamos vivenciando-a, ela tem dor, tem sofrimento, tem dificuldades”.
A entrevista da Monja Coen ao Marcelo Tas é de 2021. Mas é tão atual, tão necessária, que já foi vista por mim várias vezes. A cada vez que miro a tela e me concentro na voz e nas expressões da monja, percebo algo diferente a que ainda não havia dado a atenção necessária. Questões que podem gerar impacto na minha vida pessoal e na minha lida de jornalista.
Dentre elas, o principal ensinamento, talvez, seja o de aprender a respirar. Aprender a desfrutar da respiração. Com esse exercício, insiste a monja, podemos aprender também a observar nossos gestos, pensamentos e atitudes. “Respirar, sentir prazer na respiração. Saborear a sua inspiração e expiração começa a transformar você”, ensina.
E ao falar sobre o poder dos influencers, provoca: “Vamos influenciar positivamente. Não é só de maquiagem, não é só de dizer ‘estou com tanquinho’. Isso também é bom, ser saudável, tudo bem. Mas será que o meu cérebro está saudável? Será que minha mente está saudável? Será que meus relacionamentos estão em harmonia? Eu crio harmonia aonde vou, ou crio briga, conflito, desagravo? Nós podemos mudar a realidade.
Cada um de nós”. O recado da Monja Coen foi dado, então que tal começarmos a praticar hoje? Por um jornalismo e um mundo melhor.