Depois de estrear na Cinemateca Brasileira de São Paulo em maio deste ano, é a vez da capital mineira conhecer parte importante da produção cinematográfica da Paraíba da década de 1980 reunida na mostra “A onda de filmes Queer em Super-8 da Paraíba’. A mostra será exibida nesta terça e quarta-feira (19 e 20 de setembro), no Cine Santa Tereza, na rua Estrela do Sul, 89, no bairro de Santa Tereza com entrada gratuita. O evento em Belo Horizonte é uma promoção do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRPMG) com apoio da Fundação de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte.
A mostra “A onda queer de filmes em Super-8 da Paraíba traz os curtas-metragens Closes (1982), de Pedro Nunes, Perequeté (1981), de Bertand Lira, Tá na rua (1981) e Era vermelho seu batom, de Henrique Magalhães, Baltazar da Lomba (1982), do grupo de ativismo gay Nós Também (composto por artistas, estudantes e professores universitários), e Miserere Nobis (1982), de Lauro Nascimento, professor e ativista do grupo. A proposta da Cinelimite é fazer circular esta mostr pelos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina, em festivais de cinema, cineclubes universitários e salas de cinemas de instituições. A Cinelimite é uma associação sem fins lucrativos, criada em 2020, que exibe pela primeira vez no Brasil toda a produção digitalizada nos últimos dois anos.
A partir de Gadanho (1980), de Pedro Nunes e João de Lima, houve uma retomada do cinema na Paraíba porque vários pretendentes a cineastas perceberam que era possível fazer cinema usando a bitola amadora (o Super-8). Cineastas daquele período reconhecem o impulso que o filme de Pedro Nunes e João de Lima deu ao cinema paraibano. Aquele momento de distensão política proporcionou o surgimento de grupos, entre outros, de militância sexual, que devido à forte repressão política, permaneceram em silêncio por quase duas décadas. Em João Pessoa, é criado o Nós Também, um grupo de militantes homossexuais que tinha uma proposta original: a de militar através da arte. No cinema, o grupo produziu o curta Baltazar da Lomba, em 1982.
A discussão da sexualidade no cinema paraibano – que até então era “assexuado” – começa com Esperando João (de Jomard Muniz) em 1981 e passa por Perequeté, de Bertrand Lira, no mesmo ano, mas só vai atingir uma abordagem mais ampla com Closes, de Pedro Nunes. Misto de documentário e ficção, Closes contribuiu, inquestionavelmente, para uma ampla discussão da homossexualidade num momento de forte conservadorismo.
Com o rótulo de “cinema gay”, fruto de um período histórico menos totalitário, surgiram filmes como: Acalanto Bestiale, Miserere Nobis e Segunda Estação de uma Via Dolorosa, de Lauro Nascimento. Outro filme que traz essa temática é Era vermelho seu batom, de Henrique Magalhães, uma ficção rodada em Baía da Traição, baseado na maneira do cineasta ver a homossexualidade. O “cinema gay” desse período quebrou padrões dos temas até então abordados no cinema paraibano.
Esse cinema, não poderia ser diferente, gerou controvérsias, mas sua importância foi reconhecida ainda naquele momento pela ousadia no contexto político e social em que surgiu, contribuindo de certa forma, para tornar o super-8 um cinema respeitado entre aqueles que, até então, duvidavam de sua seriedade. Perequeté, por exemplo, é o retrato de um artista, o ator e dançarino Francisco Marto, atualmente radicado em Nova York, que fala abertamente, pela primeira vez num filme paraibano, do preconceito sofrido por sua orientação sexual e sua inserção no mundo artístico.
Graças a essa ação da Cinelimite, com a participação da ABPA (Associação Brasileira de Preservação Audiovisual) e da IDFB (Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros), esses filmes ressurgem na tela grande pelas mãos do estadunidense William Cardoso-Plotnick (Diretor executivo da Cinelimite) e uma equipe de entusiastas: Glênis Cardoso (IDFB/Cinelimite), Matheus Pestana (Cinelimite), Laura Batitucci (IDFB/Cinelimite/ABPA), Débora Butruce (ABPA), Nátalia de Castro Soares (ABPA), numa junção de forças com entidades como o Núcleo de Documentação Cinematográfica da UFPB (NUDOC) e os cineastas Henrique Magalhães, Bertrand Lira e Pedro Nunes.
Programação Completa:
Sessão 1 (dia 19 de setembro, às 19h)
1. Baltazar da Lomba (1982) Dirigido por Grupo Nós Também (20min)
2. Ta na Rua (1981) Dirigido por Henrique Magalhães (16min)
3. Era Vermelho Seu Batom (1983) Dirigido por Henrique Magalhães (10min)
Sessão 2 (dia 20 de setembro, às 19h)
1. Perequeté (1981) Dirigido por Bertrand Lira (20min)
2. Closes (1982) Dirigido por Pedro Nunes (30min)
3. Miserere Nobis (1982) Dirigido por Lauro Nascimento (20min)
Sinopse dos filmes:
https://crp04.org.br/mostra-a-onda-de-filmes-queer-em-super-8-na-paraiba-acontece-na-proxima-semana/