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Educação emocional: por uma perspectiva emancipatória e decolonial

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Dor, raiva, medo, indignação, perda, luto. Hoje, mais do que nunca, a Educação brasileira e mundial terá que lidar de maneira séria, comprometida e solidária, com as emoções e o acolhimento. A educação emocional deve ter lugar prioritário nos processos de ensino e aprendizagem dos tempos de pandemia e no tempo do “novo normal”.

Os dados recentes deste início de junho (world-o-meter) dão conta de que estamos chegando aos 180 milhões de pessoas infectadas com o novo Corona vírus, a COVID 19. As mortes? Ultrapassam já a casa das 3,8 milhões de pessoas. O Brasil amarga a terceira posição no número de contaminados (atrás dos Estados Unidos e Índia) e a segunda posição no número de mortes (atrás dos EUA), fato que se explica também por uma política genocida de um chefe de Estado que envergonha até o mundo mineral.

No interior dos Estados soberanos e na vida cotidiana do “grande número” – como diria meu querido orientador Oliveiros Ferreira – uma das atividades mais essenciais e corriqueiras das famílias e da vida humana, a educação, se encontra abalada. Os dados da UNESCO (Global Monitoring of school closures caused by COVID-19) revelaram que 91% do total dos alunos do globo terrestre encontram-se ou encontraram-se temporariamente longe de suas escolas.

No Brasil e no Mundo as interrogações sobre o Ensino à Distância e sobre as atividades pedagógicas não presenciais rendem debates acalorados na comunidade escolar. Os interesses das empresas nacionais e multinacionais da educação à distância encontram-se à flor da pele. Por outro lado, como não promover atividades escolares não presenciais para minimizar os graves prejuízos na relação ensino/aprendizagem? Não é um momento em que nossos alunos mais precisam de seus professores e do ensino, ainda que de maneira virtual e flexibilizada?

Mas a questão que proponho ora refletir, ainda que de maneira preliminar, é de outra alçada. Hoje, e sobretudo quando da volta às aulas presenciais, uma questão se impõe: a educação emocional e o acolhimento dos estudantes e professores no ambiente escolar.

Uma educação emocional capturada pela lógica do Capital

Da mesma forma que a educação à distância, a educação emocional, foi, em grande medida, capturada pelas hostes do capitalismo sem escrúpulos. Embora a educação emocional seja cada vez mais uma área do conhecimento que se mostra fundamental para a vida das pessoas, para a concretização de uma sociedade saudável, para a materialização dos direitos humanos, ela foi, em grande medida, capturada pelas grandes fundações e empresas nacionais e multinacionais da educação. E o pior? Ela foi muito bem vendida aos diversos Estados da federação (responsáveis juridicamente pelo Ensino Médio público do país), inclusive aos Governos de esquerda e centro-esquerda, promovendo uma educação do apaziguamento social de classe ou do apaziguamento da desigualdade. Ou, se quisermos utilizar a nomenclatura de Michel Foucault, essa “educação emocional” se tornou um dos mais variados instrumentos de se tornar os corpos, em especial dos pobres, dóceis e úteis aos status quo.

À la brasileira, é a lógica instaurada de maneira pioneira e eficaz por um dos maiores estadistas do país, Getúlio Vargas. Em meio às disputas entre o socialismo e comunismo, Getúlio instaurou a cultura (e as normas jurídicas que a sustentam) da “colaboração”. Com essa lógica objetiva-se escamotear a luta de classes, a compreensão da exploração, mais valia, entre outros, para instaurar a cultura de que todos, juntos, estamos colaborando para um bem maior, no caso a construção da Nação e seu desenvolvimento. Juntos, unidos, em paz, em prol de um objetivo maior.

A chamada educação emocional do status quo, nos tempos de hoje, segue esta filosofia: pacificação social. E aqui precisamos deixar bem claro: nada necessariamente contra a pacificação social por si só. O que precisamos deixar registrado é que não podemos defender uma “pacificação social” que “naturalize” a estrutura da violência estrutural: a violência de classes, da miséria e da pobreza, a violência e o preconceito de raças, de gênero e de outros.

Ainda, o que é pior, é que essa educação, a partir da lógica do “projeto de vida” e do “mérito individual”, promove uma responsabilização individual daqueles que “não deram certo”, escamoteando as desigualdades brutais e estruturais da sociedade brasileira. O mantra é o seguinte: se você não teve sucesso profissional e social, a culpa é sua!

Prismas emancipadores e decoloniais para uma nova educação emocional. Para além do “projeto de vida”, por um “projeto de sociedade” ancorado nos direitos humanos

É preciso subverter essa lógica violenta. A educação emocional precisa ser repensada a partir de novos prismas. A brutalidade da desigualdade social, econômica, social, cultural, etc., não pode ser escamoteada. Essa é uma primeira questão. A lógica do “sou da paz” é válida, cobra sentido e deve sempre prevalecer: o respeito ao outro, respeito aos direitos, instituições e democracia. Mas isso não significa que devemos naturalizar um sistema histórico e político, da sociedade brasileira, desigual e violento.

É preciso ensinar que lutar pelo fim das desigualdades sociais é aquilo de mais coerente com uma cultura da paz e dos direitos humanos. Criar uma cultura, racional e emocional, de resiliência, compaixão e solidariedade consciente e ativas politicamente. Nesse viés, o conceito e a cultura da solidariedade devem estar em caixa alta na nova educação emocional. Uma educação em que o sentimento de solidariedade ativa esteja em pleno vigor, pujante. Em que o outro seja compreendido e acolhido como ser humano, irmão, parte de uma coletividade que habita o Planeta Terra. De igual forma, os valores de cooperação precisam se sobrepor aos valores de competição e de “sucesso a qualquer custo”.

Ainda, e com isto concluo, é chegada a hora da educação emocional se descolonizar. Num país indígena e afrodescendente como o nosso (Indo-Afro-América) chega a ser mediocre buscar autores e práxis norte-americanas ou europeias se temos aqui, incrustrado em nossa alma e corpos, a cultura dos povos originários e dos povos africanos. A sabedoria ancestral emocional e espiritual de nossas etnias indígenas, de nossos quilombolas, cultura dos terreiros, são de uma envergadura possivelmente inigualável na Terra. Quem melhor para nos ensinar e dar aulas sobre o tema do “bem viver” do que nossas mães e culturas ancestrais indígenas e afro-brasileiras?

Essas culturas colocam como centro de suas epistemologias uma relação saudável com a Terra, com a Natureza, consigo mesmo e com a coletividade. Essas culturas são o farol para logramos atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030 da ONU). São culturas impregnadas de um princípio, por exemplo, tão alienado da sociedade capitalista ocidental, que é o da hospitalidade. A ideia de exclusão e de segregação – que fundamenta a prática do bullying, por exemplo – não cobram sentido nas cosmologias e práticas ameríndias e afrodescendentes. Todo ser humano é acolhido, integrado, escutado, louvado, como parte da coletividade.

É chegada a hora de olharmos verdadeiramente para o espelho e vermos a potencialidade da cultura, sabedoria e epistemologias indígenas e de origem africana para a nossa educação, em especial para a educação emocional e o acolhimento. Neste momento ímpar, triste e doloroso, em que nos encontramos, afetados todos e todas pela cruel pandemia que nos assola, seria salutar resgatarmos nossas raízes culturais mais profundas para criar novas perspectivas de ver, sentir e pensar o mundo.

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