A Educação reside nos Direitos Humanos; o Humanismo é sua morada. Esta é uma lei principiológica, fundamental,óbvia. No entanto, se faz cada vez mais necessário ser reafirmada na contemporaneidade, tendo em vista o governo genocida ao qual estamos submetidos e a calamidade da pandemia instalada no Brasil e no mundo.
O momento é gravíssimo e essa crise impacta seriamente a vida e o emocional de nossos alunos. Assim, é preciso que, nós educadores, efetuemos essa reflexão do tempo presente e a levemos para a vida escolar, para o cotidiano da sala de aula.
Quando compreendemos que os Direitos Humanos providenciam o suporte essencial para a Educação, e entendendo a gravidade da pandemia e seus impactos para a vida escolar, a primeira preocupação de um educador em tempos atuais deve ser com os conceitos e vivências ligados à “morte” e à “esperança”.*
Sobre a “morte”, penso em suas filhas: o “luto” e a “dor”.Sobre a “esperança”, penso em sua mãe: a “vida”.
Primeiro, pensemos sobre a morte e a pandemia. São mais de 500 mil pessoas que morreram em nosso país em decorrência desse avassalador coronavírus. 500 mil! Não podemos normalizar esse fato. Ele deve causar, sempre, comoção e indignação. Será raro encontrar uma sala de aula – da educação infantil ao ensino superior – em que um aluno ou aluna não tenha tido uma experiência com a morte, o luto, a perda, nos últimos tempos por decorrência da pandemia. Vivemos um momento de luto.
Logo, a primeira tarefa de um educador em suas aulas (sejam elas presenciais ou não) é tratar deste tema. E com um enfoque duplo: desde o acolhimento e da educação emocional e, também, desde uma abordagem social e histórica. O momento escolar pede solidariedade, acolhimento e uma profunda reflexão. Que cada um de nós reserve os devidos momentos para que possamos escutar nossos alunos e alunas, acolhê-los em suas experiências, de dor, indignação, luto. É preciso que nós professores compreendamos que este é o conteúdo curricular mais atual. Que trabalhar com este conteúdo é um dos atos maisfundamentais do ensino e aprendizagem na realidade concreta e subjetiva do tempo presente brasileiro.
A morte – e ainda mais neste contexto de pandemia –adquiriu uma centralidade ímpar na educação escolar. E não podemos esquecer que a morte e seus ritos fúnebres (que muitas das vezes as famílias não puderam realizar propriamente) consistem em um dos temas mais antigos e abissais para as diversas culturas da humanidade. Da antiguidade greco-romana à ancestralidade yanomani e ioruba a morte e seus rituais constituem as leis mais sagradas e respeitadas.
Por outro lado, em segundo lugar, é também nosso dever (de ontem, de hoje e de sempre) resgatar o tema daesperança nas salas de aula. Fazer emergir a esperançacomo uma centralidade na vida pessoal e coletiva, na construção de uma cultura solidária e transformadora. De acordo com Ernest Bloch, a esperança é um impulso primordial da vida, que nos permite transcender o tempo presente em busca de um novo futuro.
A esperança também se inscreve no rol das “virtudes” e, portanto, pode e deve ser cultivada e celebrada num processo educacional escolar. É, em boa medida, através dessa virtude que os sonhos e projetos podem se concretizar, que as transformações pessoais e sociais são possíveis.
Nesse sentido, e a guisa de conclusão, o mito da Fênixilustra os dramas e desafios contemporâneos pelos quais estamos passando. Estamos falando de uma ave que cumpre seus desígnios e fenece. E de suas cinzas renasce;nasce uma nova ave. O mito nos ensina sobre o tempo cíclico da natureza, da vida-morte-vida, mas também sobre a perseverança e a esperança. Não podemos nos esquecer, portanto, que o amanhã se anuncia na próxima aurora.
* Devo a inserção da ideia “esperança” neste texto à Priscilla Cappelletti.