Brasília – A presidente Dilma Rousseff dispensa seu telefone celular criptografado, que embaralha as mensagens, e prefere um aparelho comum para acionar seus ministros. A revelação foi feita pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e rendeu até uma brincadeira: segundo ele, as broncas que leva de Dilma podem se tornar públicas diante da falta de proteção das conversas – o que o tornaria alvo de um pedido de explicação pelos parlamentares.
A tecnologia foi desenvolvida pelo próprio governo brasileiro para tentar salvaguardar informações oficiais trocadas entre autoridades. Segundo fontes do setor, as placas inseridas nos celulares para criptografar as mensagens são produzidas pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações (Cepesc), criado há mais de 30 anos na estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os equipamentos são fornecidos à presidente, aos ministros e a servidores de áreas estratégicas para a segurança nacional.
Bernardo confirmou que Dilma e todos os ministros têm celulares criptografados.
– Todos os ministérios têm um telefone criptografado e recebemos periodicamente ligação dos técnicos encarregados, para ver se estão funcionando. A presidente da República nunca me ligou por um desses telefones. Ela liga no meu celular e às vezes eu levo uma bronca porque faltou uma informação… Não há nenhuma preocupação de que seja vazado o que nós falamos. Ouvir ligações, copiar dados de e-mails (sem autorização judicial) é crime. Se aconteceu em território nacional, é assim que deve ser tratado – disse o ministro.
Depois da audiência no Senado, Bernardo voltou a falar da prática recorrente de dispensar o telefone criptografado:
– Nas nossas comunicações, usamos os mesmos recursos que todo mundo usa. O governo dispõe de redes seguras; se precisar fazer uma comunicação mais segura, há mecanismos para fazer isso. Mas o mecanismo usado é ligar no celular mesmo e conversar.
Quem usa os aparelhos diz que é difícil haver uma quebra do sigilo da mensagem. Cada telefonema disparado equivale a uma “chave”, que codifica a conversa. A mensagem só pode ser decodificada por um aparelho com a mesma “chave”. O aparelho é um celular comum – alguns dependem do acionamento da “chave” antes da conversa – e a conversa transcorre normalmente. A criptografia se refere a um eventual registro ou captação do diálogo.
Para a transmissão de e-mails, é utilizada um HD externo, como uma espécie de pen drive. O emissor escreve o texto, salva no equipamento e, então, para o envio do conteúdo por e-mail, anexa o texto contido no pen drive – já criptografado a partir daí. Para o e-mail ser aberto pelo receptor, é preciso que ele tenha o mesmo pen drive.
O GLOBO pediu informações à Presidência da República sobre o uso de telefones pela presidente e seus ministros. “A Presidência não se manifestará sobre detalhes que envolvam a segurança de seus sistemas de comunicações”, respondeu a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto.
O Globo