A disparidade de ritmos sexuais constitui uma queixa bastante comum nos consultórios de psicologia. Casais de diferentes orientações e idades apresentam essa demanda, na tentativa de reduzir tédios e alinhar desejos, pulsantes ou não. Uma pessoa quer, outro não. O que fazer, quando há inúmeras dimensões interferindo em relações afetivas, onde anseios e espaços criativos estão na UTI?
São aspectos fisiológicos e psicológicos que, geralmente, influenciam em questões cruciais: quantidade e qualidade. Sim, os dois pontos são importantes, apesar de pesquisas revelarem que a qualidade se sobrepõe, quando homens e mulheres são instigados a falar sobre (in) satisfações sexuais.
A frequência até alimenta o corpo, mas é a qualidade que melhora o humor por horas e horas. Insuflado por descargas de dopamina, o organismo responde com sentimentos de felicidade e satisfação que podem durar dias. Se há paixão, orgasmo, amor e conexão emocional, vira um estado de graça.
Acontece que a vida é repleta de ciclos, nos quais pulsões libidinais movem o indivíduo para várias coisas, como ensinou Freud. Há tempos e lugares onde o foco será outro, ainda que não haja distanciamentos emocionais. O desejo sexual pode então diminuir, por um ou mais fatores, que nada têm a ver com desamor.
A maneira como o casal dialogará acerca desses momentos fará toda a diferença. É possível que ocorra um luto daquilo que um dia se foi, na cama, dentro do carro ou naquela praia deserta, quando o desejo era espontâneo e tomava conta de quase todos os ambientes.
Após certo período de relacionamento, pode ser necessário reajustar tais desejos, a fim de que se responda a estímulos e memórias eróticas. Ao que você foi em outros momentos do namoro ou conjugalidade. Não será fácil, mas sempre há formas de buscar prazeres, quando as razões para isso ainda não arrefeceram, apesar do descompasso sexual.
Na maioria das vezes, o casal perdeu o ritmo em meio a ciclos vitais que não estavam no script: filhos; excesso de trabalho; adoecimentos; questões hormonais; estresse; faltas; e rotinas não mais atraentes. Difícil manter-se desejante, interessante e protagonista de si próprio, quando as várias nuances da química amorosa já sucumbiram.
Há diferentes linguagens do amor e tipos de atrações: românticas, sexuais e emocionais. Alinhar expectativas e formatos torna-se essencial para vidas que desejam andar juntas. Super vale a pena o estabelecimento de canais de comunicação, com leveza, humor e transparência, se possível for. O desafio maior é conciliar o que o grupo musical Titãs já refletia na música “Comida”, nos instigantes anos 80: “Desejo, necessidade, vontade”.
O sexo pode nem exercer tanto fascínio na vida do casal. E está tudo certo. Há pessoas que direcionam energias, interesses e prioridades para outras planícies sensoriais. Sequer sentem falta de prazer sexual. Tranquilo, desde que, ao se relacionar com alguém, o parceiro (a) esteja na mesma vibração. Infelizmente, não é o que costuma acontecer. Nesse caso, até mesmo o “combinado” costuma sair muito caro.